BIANCA
Os dois conversaram sobre amenidades enquanto dividiam um creme de mamão papaia com cassis e, mesmo depois de Ester ter retirado a taça de vidro com a mesma expressão desgostosa que usara a noite inteira, os dois continuaram entretidos um no outro por cerca de uma hora, até Alex resolver que já estava na hora de pedir a conta e ir embora.
Bianca pegou-se secretamente agradecendo Sephora por seus conselhos tão pontuais, porque ela nunca se divertira tanto num encontro antes.
Os dois se sentaram lado a lado no pequeno barco a motor que cortou o mar silenciosamente em direção a Horácio, a escuna de Alex, que os aguardava pacientemente sob o luar. O homem ligou a lanterna do celular para ajudá-la a encontrar a escada de corda, já que a lua minguante havia sido escondida por uma grande nuvem cinzenta, e, agilmente, Bianca usou-a para subir até o convés; Alex seguiu-a, depois de dar uma gorjeta para o funcionário do Barão das Trutas que havia dirigido a pequena embarcação até lá.
Por um instante, tudo ficou na mais perfeita escuridão até que Alex começou a ligar as luzes da escuna uma a uma. Primeiro, o grande holofote que serviria para guiá-los pelas águas escuras de volta para a pousada e, em seguida, as luzes internas, que iluminaram os bancos, o timão e o convés de madeira.
Alex assumiu o lugar atrás do timão e começou a fazer as manobras necessárias para colocar a embarcação no caminho de volta. Bianca, que resolveu que não queria ficar sentada durante todo o trajeto, apoiou-se numa das colunas de sustentação do barco e colocou-se a observar os contornos das ilhas que eram quase imperceptíveis contra a negritude do céu.
Era engraçado como as coisas mudavam dependendo da iluminação. De dia, aquela era uma das visões mais lindas e familiares; à noite, tudo era coberto de mistério e dúvidas. A escuridão tornava tudo mais perigoso.
Voltou os olhos para a água escura em volta deles, pensando em Sephora e nos vermillianos. Perguntou-se se mais deles teriam acordado e como a sereia conseguiria continuar o tratamento com os vermillianos conscientes o suficiente para questionar o que era aquela cápsula amarela em suas comidas e como Sephora as havia conseguido.
Inclinando-se levemente sobre a borda do barco, Bianca vislumbrou algo que fez com que todas as suas preocupações fossem sobrepujadas por um sentimento de animação.
No ponto do casco que rasgava a água, era possível vislumbrar umas luzes azuladas destacando-se na escuridão.
- Plânctons! – ela berrou, saindo de onde estava e correndo pelo convés até chegar à popa, durante todo o percurso espiando o lado de fora do barco, verificando a existência dos pontinhos azuis brilhantes acompanhando todo o ponto em que o casco rasgava a água fria e escura.
- O quê? – Alex perguntou, desviando os olhos para ela.
- Plânctons! – ela berrou, de novo, parando na popa e verificando que o caminho de água agitada que a escuna deixava para trás estava todo azulado – Para a escuna! Abaixa a âncora!
Alex olhou para ela com uma expressão confusa.
- Bianca, do que você está falando? – ele questionou, perplexo, enquanto observava ela deslizando os pés para fora dos chinelos e retirando os brincos do ouvido, como se estivesse... – Você quer entrar na água?
Ignorando o choque na voz do homem, Bianca inspecionou o céu com um olhar crítico e virou-se para ele, com uma expressão alegre e ansiosa.
- Vamos! Não temos muito tempo até a nuvem sair de frente da lua! – ela o instigou; ainda com uma expressão confusa, Alex obedeceu, parando a escuna e descendo a âncora.
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Segredos Submersos
Ficção CientíficaTodos possuem segredos. Alex vem secretamente seguindo os passos de seu avô, que desapareceu numa expedição que tinha por objetivo comprovar a existência das sereias, com a esperança de redimir sua memória. Para isso, começou a trabalhar na Pousada...