BIANCA
Bianca Velasquez desceu do táxi amarelo e esperou impaciente enquanto o taxista descarregava suas duas malas do porta-malas do automóvel; depois, com um sorriso agradecido, saiu puxando suas malas em direção ao porto de Angra dos Reis.
Não foi difícil identificar o grupo de futuros hóspedes da Pousada do Marujo; homens, mulheres e crianças estavam agrupados próximos de uma placa com a âncora azul, que era a marca da pousada, e as palavras “Aguarde a chegada da escuna aqui! Mal podemos esperar para conhecê-los! A direção” dispostas embaixo, de forma centralizada.
Bia se aproximou do grupo, cumprimentando a todos que se interessaram em sua chegada com um sorriso, deitou suas duas malas de viagem grandes e sentou-se sobre uma delas.
Abafou uma risada ao ouvir uma mulher, com sotaque paulista, reclamar para o marido:
- E você disse que a minha mala era grande demais?
Era compreensível que as pessoas à sua volta estranhassem a sua bagagem, mas o que elas não sabiam era que Bianca Velasquez não estava ali para fazer uma visita fugaz de alguns poucos dias, aproveitar as praias limpas e o clima paradisíaco da Ilha dos Marujos e depois voltar para o caos da cidade grande, como a maioria deles faria.
Bia estava ali para visitar seus avós, ajudá-los com a pousada e reviver os melhores momentos da sua infância junto de todos que ajudaram a fazer com que suas memórias a respeito da ilha fossem tão preciosas e queridas.
E apenas alguns dias nunca seriam o suficiente para tudo isso.
Na verdade, talvez uma vida inteira de devoção não fosse o bastante.
Tudo o que ela mais amava estava naquela ilha, ou em suas proximidades, e ela não conseguia controlar a sensação de milhares de borboletas dançando dentro de seu estômago, anunciando sua ansiedade.
Para matar o tempo, Bianca abriu a mochila que carregava nas costas, puxou um caderno de seu interior e, do bolso externo, pescou um lápis grafiti. Equilibrando o caderno aberto nas pernas naturalmente bronzeadas, ela abriu no último desenho que estava fazendo.
No papel, havia os esboços de uma criatura com uma cabeça oval, corpo composto por curvas delicadas, braços compridos, as mãos abertas, os dedos interligados uns aos outros por pequenas membranas e, o detalhe mais exigente, a grande a majestosa cauda.
Quando lhe questionavam sobre a criatura de seus desenhos, Bianca sempre dizia que era algo que havia criado; tinha aprendido da forma mais difícil que as pessoas tinham a tendência de se afastarem quando alguém tentava lhes convencer a respeito da existência das sereias.
“Além do mais”, Bianca pensou, coçando o nariz com a parte de trás do lápis, distraída, “Sephora é o meu segredo e eu sou o dela”.
Enquanto continuava a trabalhar nos detalhes do seu desenho, tentando traduzir a imagem sempre tão vívida de Sephora para a folha de papel, era inevitável que ela se lembrasse de como ela e a sereia haviam se conhecido.
A sereia salvou a sua vida.
Era um fim de tarde e o céu estava escuro, chovia bastante, mas Bianca não se importava com isso. Aos nove anos de idade, era uma aventureira nata e coisas como gotas de chuvas e ventos não eram capazes de mantê-la distante das inúmeras explorações que fazia sozinha no interior da ilha dos avós.
Tudo era emocionante e a garotinha gostava bastante da sensação de correr pelas trilhas, pular pedras e subir em árvores com a chuva batendo em seu rosto e refrescando sua pele; quando fazia isso sob o sol, geralmente ficava suada e exausta em questão de minutos. Com a chuva, no entanto, ela era quase invencível.
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Segredos Submersos
Science FictionTodos possuem segredos. Alex vem secretamente seguindo os passos de seu avô, que desapareceu numa expedição que tinha por objetivo comprovar a existência das sereias, com a esperança de redimir sua memória. Para isso, começou a trabalhar na Pousada...