Capítulo 60 - Sephora

699 87 20
                                    

SEPHORA

Enquanto observava os submersos se movimentando dentro da câmara, ajoelhando-se ao lado dos vermillianos, dando-lhe medicamentos, molhando os lençóis ou transportando-os até a piscina para que pudessem nadar um pouco, Sephora não pôde evitar soltar um suspiro maravilhado.

A parceria entre os submersos e os sereianos era algo que remontava os séculos; na verdade, tudo aconteceu quase ao mesmo tempo em que a decisão de se afastar dos humanos foi tomada pelo Conselho Sereiano Central.

Os submersos foram possivelmente as primeiras criaturas a tomarem a decisão consciente de se afastar dos seres humanos. Mama Oma havia ensinado que, ao contrário dos sereianos, os humanos sabiam da existência dos submersos, a única coisa que eles não sabiam era que eles continuavam vivos.

Eles os estudavam pelo nome de neandertais e, até onde sabiam, haviam desaparecido misteriosamente da face da terra há milhares de anos. Os arqueólogos, que eram responsáveis por tentar entender o que havia acontecido no passado, se dividiam entre dizer que os neandertais haviam se misturado aos homo sapiens ou que tinham sido extintos por eles.

A verdade, Mama Oma havia dito, ficava em algum lugar no meio das duas teorias. Os submersos e os humanos haviam convivido durante um curto período de tempo. No entanto, individualistas e competidores por natureza, os homens não conseguiam aceitar os neandertais como similares; encontravam diferenças e ameaças onde deveria ter havido união e cooperação.

A guerra começou de forma velada. A princípio, os humanos impuseram um critério de distribuição de comida, de acordo com o qual eles se serviam antes dos neandertais, que apenas podiam se alimentar por último, caso sobrasse caça. Depois, forçavam as neandertais a se deitarem com eles, mas agrediam e chegavam a matar qualquer neandertal que tentasse fazer o mesmo com uma humana, mesmo que fosse consentido.

Quando os neandertais finalmente se impuseram e se afastaram dos seres humanos, criando uma sociedade separada, as coisas pioraram de forma inimaginável; de seres inferiores eles passaram a serem encarados como inimigos.

Os seres humanos caçavam um bando inteiro de antílopes, para levar apenas o que precisavam para si e atiavam fogo ao que sobrava, como uma forma de se certificar que não haveria nada que os neandertais pudessem aproveitar. Atacavam as cavernas dos neandertais durante a noite, de forma premeditada e imprevista. Deixavam apenas cinzas, corpos e sangue para trás.

"Os seres humanos são inimigos com a mesma paixão com que são amantes", Mama Oma havia dito, "Dedicam toda a fibra do seu ser a destruir o outro. Não descansaram enquanto os submersos não desapareceram, porque não foram capazes de encontrar em seus iguais um motivo para a paz. No fim das contas, o ser humano é uma máquina de guerra e violência. Por mais que tente, ele não consegue resolver seus problemas de outra forma".

Por isso, ao perceber que continuar em guerra com os humanos apenas os levaria à extinção, os submersos optaram por se afastar. Caminharam por anos, incertos de sua destinação, até que encontraram um local afastado em que se sentiram à vontade o suficiente para se instalar com uma vida em sociedade.

Eles se abrigaram numa ilha que ficava em algum ponto do oceano Atlântico e passaram milhares de anos morando lá, isolados de todo o resto; mas haviam aprendido um pouco durante o período de convívio com os humanos. Tornaram-se um pouco mais ousados e curiosos. Acima de tudo, descobriram que precisavam dominar o mar para sobreviver.

Quando os homens ainda estavam se adaptando nos continentes e criando o que se tornariam grandes impérios, os neandertais vinham criando embarcações capazes de cobrir longas distâncias no mar e, quando acharam adequado, alguns neandertais foram mandados de volta à convivência com os humanos.

Segredos SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora