Capítulo 67 - Alex

728 97 17
                                    

ALEX

Alex acordou exausto, mas chutou os lençóis da cama desfeita para longe e sentou-se, com um suspiro. O cheiro de Bianca ainda estava nele; ou talvez estivesse nos travesseiros e as lembranças ainda estivessem muito vívidas em sua memória.

Eles passaram algumas horas tomando vinho e jogando partidas intermináveis de pôquer, ocasionalmente interrompida por sessões de beijos ardentes, até que, em determinado momento, a sensação de estarem mergulhados um no outro se tornou muito mais interessante do que qualquer full house poderia ser e acabaram dentro do chalé de Alex novamente.

Eram quase três horas da manhã quando ele a acompanhou de volta até o seu quarto, usando a lanterna para iluminar os caminhos que ambos já conheciam tão bem; tentavam ficar em silêncio, mas acabavam soltando risadinhas incontroláveis e estridentes quando tropeçavam em alguma raiz de árvore no chão ou um no outro.

Mas quando voltou para o seu chalé, seus pensamentos não estavam mais inebriados por Bianca e voltaram a se concentrar na caverna e no que tudo aquilo significava. Passou boa parte da madrugada sentado, observando o teto, e planejando qual deveria ser o próximo passo; obviamente, depender de uma confissão de Bianca já havia se provado um plano muito pouco propenso ao sucesso, o que queria dizer que ele teria que agir sozinho.

Alex vestiu o uniforme da pousada e passou a fazer suas tarefas diárias com a mesma disposição de sempre. Reparou o aquecedor a gás de um dos chalés que estava com problema e trocou algumas lâmpadas da área comum que haviam queimado.

Vislumbrou Bianca conversando com os avós e acompanhando a avó para a cozinha, como costumava fazer perto do horário do almoço, e resolveu que esse era o momento adequado de prosseguir com as suas investigações.

Dentro do chalé, dobrou sua roupa de mergulho e enfiou-a dentro da mochila, junto com o snorkel, uma toalha seca e os pés de pato. A caminho do píer, encontrou Marcos Velasquez e informou ao chefe que tiraria o horário de almoço naquele momento, mas que estaria de volta dentro de uma hora.

Tomou o cuidado de observar todas as pessoas nas proximidades, mas Bianca não estava em nenhum lugar visível, o que queria dizer que ela provavelmente não perceberia sua saída. Subiu num dos jet-skis, guardou sua mochila dento do compartimento de carga e fechou o colete em volta do corpo.

Em questão de minutos, estava no píer de madeira do outro lado da ilha. Bianca estava certa quando disse que ele era pouco confiável e velho, mas Alex não podia correr o risco de que ela descobrisse que ele estava na ilha sem ela – e, caso optasse por deixar o jet-ski no outro píer, tudo o que ela precisaria seria de um palpite e um binóculos.

Jogou a mochila em cima do píer e testou a resistência das tábuas de madeira com as mãos; nenhuma delas chegou a ceder ou se quebrar com a sua força, mas ele também não se sentiu particularmente animado em botar todo o seu peso sobre elas.

"E você vai deixar algumas vigas velhas de madeira te impedirem?", uma voz muito parecida com a de Horácio Pontes sussurrou dentro da sua cabeça e Alex estreitou os olhos, determinado.

Apoiando os pés descalços no assento do jet-ski, ele passou os braços por cima do píer e impulsionou-se até ele. Toda a estrutura de madeira pareceu cambalear sobre o seu peso e Alex ficou parado na mesma posição, incapaz até mesmo de respirar, enquanto esperava que ela voltasse a se equilibrar ou simplesmente cedesse sob o seu peso. Depois de alguns instantes que pareceram durar horas em sua mente, ela voltou a se estabelecer e Alex inclinou-se cautelosamente, pegando a mochila que estava no chão de madeira ao seu lado e encaixou-a nas costas.

Lentamente, ele caminhou por toda a frágil passarela; ela não era muito longa, mas ele precisava premeditar tanto cada passo que, quando finalmente seus pés pisaram na terra da ilha, teve a sensação que tinha acabado de fazer uma caminhada de três quilômetros.

Segredos SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora