Nove

29 4 0
                                    

Debi narrando

Eu nunca imaginei que aceitar a proposta de Jacob pudesse mudar tanto a minha vida — e que impactaria tanto na minha felicidade.

Meu pai ainda se perguntava como a maior parte das dívidas tinham sido quitadas e eu fazia de tudo para mudar de assunto. Os vizinhos valorizaram bastante o nosso estabelecimento, uma vez que pensaram que ele não existiria mais, mas agora pediam suas marmitas felizes e agradecidos. Lisa podia voltar sua atenção para seu blog e Gabriela não andava mais desanimada pelos cantos, porque podia se dedicar ao estágio de fisioterapia. Minha mãe aprendeu a fazer as próprias unhas e a hidratar o próprio cabelo, assim ela não viveria enfiada em salões de beleza e gastando dinheiro que, supostamente, não tínhamos. Nós aprendemos a poupar, valorizar as coisas simples e não comprar por impulso, até mesmo Lisa vendeu algumas de suas roupas e começou a falar sobre manter e comprar o que realmente era necessário em seu blog. Em poucos dias, a vida seguiu um curso tranquilizador para o resto da família, exceto para mim.

Eu temia que meus pais soubessem que o meu relacionamento com Jacob era por puro interesse, além do mais, tudo parecia tão estranho... Eu não queria me casar sem me sentir amada, eu ainda me sentia pequena e com uma enorme sensação de vazio. Minha mãe voltou a sorrir, Gabriela podia estagiar com tranquilidade, a casa estava a salvo, mas... Nada daquilo era suficiente. Eu pensei que aceitar o dinheiro de Jacob pudesse ajustar tudo e que seria fácil lidar com o "casamento", porém eu estava completamente enganada. Eu continuava triste e eu sabia que essa tristeza poderia piorar ainda mais.

Os dias foram passando, os papéis para o casamento já estavam em andamento e eu não tinha encontrado uma forma de contar para a minha família. Jacob e eu mal nos falamos desde o jantar na casa de Suzana, nossas conversas eram estritamente limitadas, como eu poderia me casar? Dentro de mim, tudo girava e ao mesmo tempo, eu não tinha nada, absolutamente nada, que não fosse medo. Para piorar, Gabriela continuava distante, eu estava preocupada com ela.

Pensando em tudo o que acontecia, eu limpava as mesas que vagavam no restaurante. Era uma tarde tranquila quando o meu celular vibrou no bolso traseiro da calça. Larguei o que eu estava fazendo e peguei o aparelho. Eram três mensagens de Jacob.

Jacob: Debi, amanhã precisamos nos encontrar às 19:00.
Jacob: É importante, faz parte do acordo.
Jacob: Te pego na sua casa.

Fechei os olhos e não respondi imediatamente, eu precisava de uma boa desculpa, nem que fosse para falar que eu estava com catapora.

*

Tranquei a porta do quarto, eu iria enquadrar Gabriela. Àquela altura da noite, eu ainda não tinha respondido Jacob, as mensagens seguiram com as minhas visualizações e sem respostas. Diante de tudo, eu sabia que havia algo errado com a Gabi e, naquela época, eu precisava ainda mais da minha irmã.

— O que está fazendo? — Gabriela perguntou curiosa. Ela segurava sua toalha de banho e, no quarto, estávamos a sós.

Com os olhos estreitos, fiquei parada bloqueando a porta e com a chave agarrada em minha mão.

— Você tem alguma coisa, Gabriela! — a acusei e apontei o dedo indicador livre em sua direção.

— Eu preciso tomar banho, Debi! Abra logo a porcaria da porta! — ordenou irritada.

— Não, eu não vou abrir até você falar o que está acontecendo! — respondi a altura. — Será que não percebe o quanto está indiferente comigo? Estou preocupada com você, Gabriela!

Quando o sol se põe Onde histórias criam vida. Descubra agora