Dezessete

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Jacob narrando:

— Por que você disse que eu não vou mais trabalhar no restaurante?! — Debi perguntou assim que entrou no carro.

Sem ânimo para discursão, revirei meus olhos e arranquei.

— Como é que é? Você vai ficar calado?! — ela perguntou indignada.

Respirei profundamente.

— Debi, eu tenho muita coisa na cabeça, não estou a fim de brigar com você. — falei pausadamente.

— Não me interessa! Você só se preocupa com o seu umbigo e dane-se os outros. Se sua intenção é controlar a minha vida por meio de um contrato, você se enganou comigo! — ela cuspiu as palavras com raiva.

Eu tinha dezenas de razões para ficar bravo, mas vê-la com tanta raiva era engraçado. Debi dificilmente era rude, sua voz sempre saía como uma seda, mas agora, suas bochechas estavam vermelhas e suas veias do pescoço dilatadas.

— O que você vai fazer? — perguntei.

Ela pareceu pensar um pouco.

— Eu não me caso, Jacob. Eu me escondo no meu quarto e nem o presidente do república me tira de casa! — ela disse, mas eu sabia que só estava exagerando.

— Legal. — falei.

— Jacob, é sério. — ela disse firme. — Eu não vou parar de fazer o que eu gosto. Eu não vou ser advogada. Eu não quero reuniões com arquitetos. Eu não quero cerimônia. Eu não quero nada do que a sua mãe e sua avó quer. Eu só quero ficar em paz! — ela listou seus desejos.

— Ok. Ninguém liga. Você pode visitar o restaurante dos seus pais quando quiser,  você pode ficar em paz. Eu só preciso que entre no papel e cumpra o nosso acordo. — falei, finalizando aquela conversa.

Ela discordou com a cabeça.

— Eu vou trabalhar com os meus pais. Não só visitá-los no trabalho! — ela disse pausadamente, como se eu fosse um burro para compreender.

— Eu entendi o que você disse. Só não entendi por que você insiste nesse assunto, por acaso não leu o contrato? — perguntei.

Eu não estava sendo tão injusto, porque tudo estava mais que especificado nas cláusulas do contrato, problema dela se ela não leu!

— Que raiva daquele contrato! — ela xingou.

Um silêncio se instalou dentro do carro. Àquela altura, Debi parecia se acalmar um pouco.

— Olha. — ela disse baixinho, sua voz parecia seda. — Eu não acho justo tudo isso. Só você tem acesso ao contrato e eu quero ter uma segunda chance para relê-lo.

Tirei meus olhos da pista e a encarei. Ela olhava atentamente para a janela do automóvel. Voltei minha atenção para o trânsito. "Por que será que ela testa todos os meus limites?", pensei. A verdade é que enquanto mais eu confiava nela, mais ela me enganava. Aquela voz de seda não me convenceria mais.

— Jacob, escuta. — ela disse, se desprendendo da paisagem da janela. — Eu não quero ser um empecilho para você, estou disposta a cumprir com a minha parte no acordo, inclusive, estou fazendo isso agora. Mas você pode pegar leve? — pediu como uma filha mimada.

Eu decidi não estender mais aquela discursão. Preferi deixá-la sem resposta. Eu tinha muita coisa para pensar, e os outros assuntos não incluíam exclusivamente a Debi.

Continuei a dirigir, mas desta vez, sem tirar minha atenção do trânsito. Para o meu sossego, ela manteve-se calada. Quando estacionei em frente a fachada da casa dos seus pais, eu a avisei:

Quando o sol se põe Onde histórias criam vida. Descubra agora