Quando o sol se põe

Dezesseis

• Debi narrando:

Nas próximas horas, até que o dia amanhecesse, eu fiquei fissurada em cada detalhe que a internet falava sobre Camila. Ela era diferente, não era exatamente como eu tinha imaginado no meu sonho, mas continuava absurdamente linda. Poucas páginas de fofoca publicaram sobre ela. Na verdade, Camila Galvão era uma modelo sem escândalos e, pela internet, quase sem nenhuma vida amorosa. Seu último namoro ocorrera há quase cinco anos atrás e seus últimos trabalhos quando a gestação veio à tona. Camila tinha tudo para ser uma modelo famosa, ela trabalhou para grandes marcas e já esteve em contato com pessoas influentes no mundo da moda e dos negócios.

Na internet, a última menção sobre Camila foi há quase um ano atrás, ela já não estava tão brilhante como em suas outras fotos, pelo contrário, estava fosca demais. O cansaço estava estampado em seu rosto, seu cabelo desbotado, seus olhos fundos, a expressão de tristeza latejante, e em seu nariz uma sonda enfiada. Era verdade, ela estava doente. Ela lutava contra um câncer de estômago, lutava para viver. Seu sucesso tinha sido estacionado não só pela gravidez, mas também pela sua saúde. Mas o que mais me chamou atenção não foi sua foto — foi o logotipo do hospital bem pequenininho no plano de fundo. Camila Galvão estava mais perto do que eu podia imaginar.

Pela janela, alguns raios de sol entravam pelo quarto, foi quando eu adormeci.

*

— Debi, acorda! — Lisa me cutucou.

Abri os meus olhos e percebi que eu não tinha tirado apenas um cochilo.

— Quantas horas são? — perguntei, me espreguiçando.

Lisa revirou seus olhos claros.

— Já é meio-dia. O que deu em você, hein? Anda estranha ultimamente. — ela disse colocando a mão na cintura.

Organizei meus pensamentos. Tinha tanta coisa acontecendo em tão pouco tempo.

— Eu não sei. Eu não pude recusar o pedido de Jacob, mas nunca me senti tão triste, parece que a Gabi vai demorar mais tempo para me perdoar. — eu disse, sem entender onde foi que eu tive coragem de falar algo que me incomodava com Lisa. Ela era a pessoa com quem eu mais brigava no mundo.

Lisa soltou uma lufada de ar.

— Olha, é complicado. Vocês duas amam a mesma pessoa. Eu não sei o que eu faria, mas você sempre acaba deixando de fazer o que gosta para agradar alguém. Se gosta mesmo do Jacob, pisa fundo, a Gabi não vai te odiar para sempre. — ela disse e, de certa forma, me surpreendi. Em toda a minha vida, nossos momentos de paz duraram apenas segundos.

— Você está me dando uma trégua? — perguntei me sentando.

Lisa se sentou na cama do meio e fixou seus olhos em mim.

— Bem, tecnicamente você é quase a Sra. Belmonte, se eu ser boazinha com você, posso ganhar uma grande parceria para o blog. Além disso, você pode aumentar meus seguidores. — Lisa disse séria.

Neguei com a cabeça, eu estava decepcionada. Logo Lisa soltou uma gargalhada.

— É brincadeira! Que dizer, tem um pouco de verdade, mas não é só por isso! — ela disse fazendo sinal para que eu me acalmasse. — Na verdade, ninguém parou a vida, mesmo quando as coisas estavam desabando. Mas você não foi para a faculdade, Debi. Você preferiu mentir, mesmo sendo aprovada em cinco universidades da região. Eu vi que você escondeu os resultados.

Respirei fundo. A faculdade. Eu queria muito ter ido, não ter a sensação de sentir que o tempo está passando sem fazer nada legal de verdade. No ano passado eu havia estudado em dobro para ser aprovada, passei, mas eu tinha infinitas opções de curso. Fiquei indecisa e quando, finalmente, decidi, a ponta do iceberg apareceu — uma crise financeira e familiar. Já não havia mais espaço para gastos, nem tempo para o estudo.