Trinta e Um

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Debi narrando

Uma vez a Gabriela disse que eu era intensa nas minhas emoções. Isso quer dizer que, às vezes, eu simplesmente seguia meus instintos. A minha mãe, apesar de ter o mesmo defeito que eu, diz que agir sem pensar é como desrespeitar o arbitro num campo de futebol- — você sempre estará sujeito a ser expulsa e abandonar as próximas competições. Então quando eu abri a porta do quarto da Lucinda, eu torci para que o Jacob não me desse um cartão vermelho no futuro.

O quarto da Lucinda era lindo, assim como o resto da casa. Toda a marcenaria era um tanto lúdica e revestida de tons pastéis. O cômodo não era muito amplo, mas era notório que cada objeto foi propositalmente comprado e transmitia a sensação de que tudo foi escolhido a dedo.

Eu não sabia explicar se era algo do destino ou se a vida era completamente irônica comigo, porque Lucinda e eu tínhamos uma conexão quase que extraordinária. No fim das contas, nós jantamos juntas e pudemos conversar sobre muitas coisas até a que a babá retornasse. Eu aprendi um pouquinho mais sobre a menina, Luci era o tipo de criança que gostava de conversar sobre tudo, ela era muito inteligente, cheia de energia e com um sorriso enorme. Diferente do que pensei, ela não era muito delicada, mas amava brincar com massinhas e atividades ao ar livre. Ela falava muito sobre a sua avó materna e seus priminhos. Lucinda tinha dois primos por parte de mãe, eles tinham a mesma faixa etária da criança e brincavam muito juntos, especialmente aos finais de semana. Diferente do que pensei, Luci não falava muito sobre a sua mãe, talvez porque Camila estivera muito tempo doente e hospitalizada, e eu não queria conduzir a conversa para esse tópico, já que perder a mãe poderia ser doloroso, mesmo que a Luci só entendesse isso no futuro.

A babá ficou, pelo menos, duas horas fora, mas conseguiu retornar antes de Jacob. Ela chegou um pouco esbaforida e ofegante, mas ainda notavelmente preocupada. Luci e eu brincávamos de massinha quando ela abriu a porta.

— O patrão chegou? – perguntou com os olhos arregalados.

Neguei com a cabeça, e ela colocou a mão no peito, aliviada.

— Graças a Deus. Eu pensei que, além de ter que ajudar o Willian a pagar o conserto do carro, perderia o emprego. – falou, entrando no quarto e tirando a jaqueta jeans.

— Tina, nós estamos brincando de massinha. Você quer brincar também? – Luci perguntou casualmente para a sua babá.

Tina fechou a cara em desaprovação. — Lulu, você deveria dormir, amanhã tem que acordar cedo para ir à casa da Vovó Ana. – Ela disse recolhendo algumas massinhas coloridas espalhadas pelo chão. – Se o seu pai chegar e te encontrar acordada a essa hora, não vai gostar.

Observei Tina começar a organizar o quarto habilmente, ainda familiarizando com a forma como ela e Lucinda se tratavam.

— Só mais um pouquinho, Tina. – Lucinda resmungou.

— Está tudo bem com seu namorado? – perguntei de repente.

Tina me encarou com um sorriso sem graça.

— Ah – ela pareceu pensar um pouco. – Está. Quer dizer, a lataria do carro está bem amassada e ele é motorista de aplicativos, então... – ela respirou fundo. – Mas o que importa é que ele está bem.

Assenti com a cabeça.

— Eu sinto muito.

Tina soltou um riso irônico e sacodiu a cabeça como se afastasse algum pensamento para longe. Em contrapartida, comecei a ajudá-la a juntar alguns brinquedos.

— Ah, nem. Vamos brincar mais. – Lucinda choramingou.

— Todo o dia ela faz isso. – Tina disse para mim, com um sorriso.

Quando o sol se põe Onde histórias criam vida. Descubra agora