Onze

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• Debi narrando

Jacob arrancou com o carro, o vi sumir pelas ruas da cidade a medida que ia se afastando. A noite pareceu mais fria e meus sentimentos mais bagunçados. Eu não encontrava uma solução que não fosse um empréstimo.

De repente, a minha vida pareceu como um carrossel que não parava de girar, a cada volta, eu parecia estar montada em um cavalinho diferente. Era estranho pensar em um casamento com uma pessoa que mal me olhava, mas também era estranho pensar em duas famílias completamente diferentes unidas. Mais estranho era ser uma péssima irmã e uma péssima amiga.

Desde a assinatura do contrato, eu realmente me tornei egoísta — em partes, eu não queria ter que romper com o contrato, era muito mais fácil solucionar os problemas da família com um bom dinheiro no bolso. Todavia, a minha consciência me punia a cada minuto. No fim das contas, confiei impulsivamente nos meus instintos e concordei com o desafio que Jacob me lançara — eu teria que conseguir cem mil reais em apenas uma semana. Não o fiz por orgulho, foi pela necessidade de viver com a consequência limpa e levar a vida leve que um dia eu tive. Antes do contrato, a Debi que existia dentro mim não aceitaria corromper seus princípios por nenhum dinheiro. Ela escolheria ser amada de verdade, ela escolheria viver feliz, ela faria o que tivesse vontade, sairia sorrindo para o mundo, confiando em coisas melhores. Tudo o que eu mais queria era recuperar a pessoa que eu fui.

Os dias que sucederam foram um tanto tumultuados. Todas as manhãs eu recorria aos bancos para conseguir um empréstimo, mas as parcelas eram um tanto caras e os juros completamente abusivos. Parecia que eu não tinha tanta credibilidade, nenhum orçamento cabia no meu bolso, mas eu não desistiria tão fácil.

Lisa recorrentemente sofria com enxaquecas, meus pais a aconselharam a dar um tempo com o blog e as redes sociais, talvez ela estivesse preocupada, afinal estava prestes a receber uma boa parceria e andava muito ansiosa. Mas ela, ainda que escondido, não parou de trabalhar.

Gabriela continuou distante, mas seu estágio fluía bem e ela ainda ajudava bastante no restaurante.

Meu pai finalmente recontratou um dos funcionários que foram demitidos com a crise, Lucas voltou a ficar responsável pelas entregas de marmitas solicitadas.

A vida tinha mudado, as dívidas já não estavam mais no catálogo de preocupações, exceto para mim.

*

Coloquei o celular no bolso da calça, não pude deixar de sentir um certo nervosismo, Suzana Belmonte tinha acabado de me ligar.

Sorri amarelo para o meu pai que preparava o seu famoso frango com quiabo.

— Quem era para a senhorita ficar tão apreensiva, hein? — meu pai perguntou desconfiado.

— Minha futura sogra. — falei acanhada.

Meu pai esquadrinhou meu rosto, ele pareceu pronto para fazer uma avaliação.

— Gosta mesmo do Jacob? — seus olhos negros me captaram.

Pensei em sua pergunta.

— Gosto. — falei com firmeza, mas dentro de mim eu ainda pensava sobre o assunto. "Eu realmente gostei do Jacob?", me questionei.

— Filha, estou te perguntando com seriedade. — meu pai me notificou. — Você ainda é nova, tem total liberdade para focar em seus estudos, eu nunca quis privar você e suas irmãs de nada.  Eu sempre soube que, uma hora ou outra, esse tal Jacob ia querer namorar uma de vocês, mas...

Quando o sol se põe Onde histórias criam vida. Descubra agora