Quando o sol se põe

Dez

Debi: Oi, Jacob. Não poderei te encontrar hoje, minha rinite atacou e estou de cama. Até.

*
• Debi narrando

No dia seguinte, quando abri meus olhos e me lembrei da noite passada, eu simplesmente não sabia o que fazer, por isso, me permitir prorrogar todas as decisões que eu precisava tomar. Eu fiquei a maior parte do dia presa dentro do quarto, pregada a minha cama, eu não tinha disposição para nada. Decidi inventar qualquer desculpa para não ir ao restaurante, mas garanti a minha mãe que eu ficarei bem sozinha. Vez ou outra, eu me arrastava a cozinha para comer alguma coisa, fora isso, eu fiquei dentro do quarto deitada, com todas as janelas fechadas, abraçada a meu edredom. Eu só queria um pouco de paz e ser outra pessoa, abandonar as responsabilidades que o contrato me trazia.

Criar uma desculpa qualquer para não me encontrar com Jacob pareceu uma boa ideia, eu não estava com saco para lidar com nada! Naquele dia, o tédio seria meu amigo.

Eu não queria encarar Gabriela, eu não queria encarar Jacob, eu não queria me lembrar dos Belmonte. Tudo o que eu precisava era manter meu celular desligado e me esconder do mundo.

Dormi durante a tarde, e como dormi! Troquei de posição diversas vezes e, por mais que passou-se horas, eu não queria sair dali. Quem nunca quis fugir para não tomar nenhuma decisão? Mesmo depois de tanto pensar, ainda me faltava coragem para encarar a vida.

*

— Debi... Debi... — senti alguém me cutucar, enquanto eu me despertei lentamente. — Acorda. — a pessoa insistiu.

A voz era familiar, seria Lisa? Instintivamente abri meus olhos.

— Ah... Você realmente não está bem?! — Lisa fechou a cara ao me avaliar. — Não tem vergonha nessa sua cara?! — me perguntou indignada.

Estreitei meus olhos, a luz do quarto estava acesa e eu queria voltar para o escuro.

— Apaga a luz e me deixa em paz! — ordenei irredutível. Quem ela pensava que era para invadir meu espaço?!

— Já é noite, sua tonta! Daqui a pouco todo mundo vai chegar e você aí, fingindo que está doente! — Lisa disse criticamente. — Por que não levanta seu corpo gordo daí e diz para a Gabriela que você não vai terminar com Jacob? Ou por que você simplesmente não termina logo? — perguntou notavelmente incomodada. Pressionei meus lábios em linha reta, ela nunca se cansou de me ofender.

Escondi meu rosto debaixo do edredom. Lisa não sabia um terço do que realmente acontecia comigo. Dentro da minha cabeça, o contrato, as notas promissórias e cem mil reais rondavam os meus pensamentos.

— Primeiro, estou firme com a dieta, não pode falar que estou com o corpo gordo! — a notifiquei irritada. — Segundo, a vida é minha, então não me enche!

Lisa puxou o edredom e estreitou seus olhos azuis em minha direção.

— Eu vou te encher sim! — ela gritou raivosa. — Eu te conheço desde quando chegou para roubar meu posto de irmã caçula, eu sei que você vai se esconder para não se dar o trabalho de resolver as pendências! Você vai ficar aí, se magoando, porque não quer ter atitude! — apontou o dedo indicador.

Irritada, me ajustei para me sentar na cama. Ok, Lisa já tinha invadido o meu espaço, ela me desmascarou e me fez me sentir um lixo. Só que... ela só estava sendo sincera.