Doze

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Debi narrando:

Quando a terça-feira fria chegou, Daniela, minha amiga, abriu a porta de sua casa, corri em direção a ela sem pensar duas vezes. Em questão de cinco minutos, minha cabeça estava apoiada no colo dela e comecei a desabafar, contei para Daniela todos os segredos envolvidos ao contrato, sobre a proposta de Jacob, sobre o buraco financeiro que o restaurante estava enfiado há poucos dias atrás. Contei a Dani sobre os Belmonte e o péssimo jantar, no qual Anne me revelou quem eu era ali. Mas não deixei de contar sobre Suzana, o carinho e a forma amável que ela tinha ao me receber em sua casa. Contei sobre a frieza em que Jacob passou a levar à vida, sobre os desafios que aquela assinatura me trazia. Sim, eu me abri para alguém, naquela terça-feira fria, Dani foi a minha fiel ouvinte. Finalmente eu experimentei a preciosidade de dividir algum acontecimento com alguém, abrir a boca para falar sobre o que me angustiava por dentro foi como tirar um peso das minhas costas. Eu precisei da Dani, precisei confiar meu segredo a ela. Aquele ato não foi sinônimo de fofoca ou coisa do tipo, pelo contrário, foi um ato de amor próprio que eu precisava ter. Eu ansiava que alguém, pelo menos alguém, soubesse a realidade que aquele contrato representava e que eu estava vivendo uma mentira.

Daniela, como um boa amiga, me ouviu com atenção, abrigou minha carga sem reclamar. Ela estava surpresa, mas em nenhum momento me jugou, ela me deixou completamente à vontade, abdicou um pouco do seu tempo para me receber em sua casa. Em partes, era como estar no colégio, onde passávamos algumas horas juntas, compatilhando um pedaço da nossa vida.

Eu sempre odiei demonstrar fraqueza, tristeza e medo eram dois sentimentos que eu afundava para dentro de mim, a fim de que ninguém os notasse. Porém, até a adolescência, a minha vida era relativamente fácil, eu nunca tinha que tomar decisões imeditas. Mesmo pertencendo a uma família de origem humilde, eu nunca precisei me preocupar com dívidas e problemas familiares. Mas, agora, lá estava eu ​​procurando por uma amiga para falar de escolha, contrato, dívidas e de como viver era complicado. Agora ela sabia de tudo, até que o meu prazo para devolver os cem mil reais para Jacob tinha expirado.

*

Naquela mesma terça-feira, eu limpava uma das mesas do restaurante. O céu estava estrelado, a vizinhança estava tranquila, a calmaria do estabelecimento era sinônimo de que poderíamos ir para a casa mais cedo.

— Desde o almoço na casa chique, você tem andado pensativa, filha. — minha mãe me chamou atenção, tocando em meu ombro.

Desde a minha primeira ida à mansão Belmonte, minha família passou a apelidar a casa de Suzana como "casa chique", uma brincadeirinha que a minha mãe inventou.

A encarei e forcei um sorriso.

— O almoço na casa chique foi legal, Suzana me recepcionou com muito carinho e o pudim de laranja fez sucesso!

— Você não me engana. Eu sou sua mãe, eu sei quando está feliz e quando está triste. Você não gostou do almoço. — minha mãe disse ao me olhar nos olhos.

— Mãe, como pode me dizer isso? Eu amei o almoço, a comida estava maravilhosa! — falei com veemência.

— E o resto? Eles te trataram bem? — minha mãe perguntou, seu olhar era apurado, pronto para capturar cada movimento meu.

— Claro que sim! Suzana é uma sogra perfeita! — falei como se fosse óbvio, mas as palavras de Jacob ecoaram na minha mente.

Quando o sol se põe Onde histórias criam vida. Descubra agora