• Debi narrando:
— Eu o odeio! — esbravejei assim que fechei o portão.
"O que mais você quer, Sr. Belmonte?! Já não basta controlar a minha vida inteira? Você quer me tirar meu trabalho, a minha liberdade e agora as minhas promessas?!", pensei com raiva.
A casa dos meus pais já estava iluminada, provavelmente, àquela hora, todos já deviam estar em casa. Relutante, eu caminhei a passos vagarosos para entrar na casa. Eu me senti triste por saber que meu Jacob, na verdade, nunca havia existido.
*
Camila dormia serenamente. Suas mãos magrelas estavam com alguns hematomas, sua pele estava pálida como a última vez que eu a vi, em seu nariz um cateter de oxigênio. Ela parecia tão vulnerável, tão diferente do que era há algumas semanas atrás. Suas pálpebras escondiam o par de olhos grandes e verdes, brilhantes como os de uma jovem. Agora seus lábios não contavam sobre suas decisões do passado, sobre os seus sonhos, eles escondiam a voz, o sorriso, a simpatia, porque estavam posicionados em linha reta. Camila Galvão estava descansando, mas eu não tive dúvida alguma, eu precisava fazer aquilo.
Aproveitei o momento em que Ana, a mãe da Camila, estava fora do quarto para pegar uma das mãos magrelas da paciente e expor uma parte de tudo que fazia com que eu me sentisse derrotada.
— Eu sinto muito — declarei com pesar. Aquela sensação de fracasso era realmente horrível. — Eu sinto muito mesmo, Camila. Acabei prometendo algo que não está dentro do meu alcance, me precipitei, me deixei levar.
Eu não tive certeza se a paciente conseguiu me ouvir. Na verdade, ela parecia estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Porém eu precisava me desculpar antes dela partir.
— Sabe, eu fiquei tão envolvida na sua história. No passado, Jacob era o meu amigo e eu torcia para que ele encontrasse alguém que fosse capaz de fazê-lo amar, e eu sei que ele sentiu alguma coisa, nem que seja uma gotinha. Eu fiquei tão curiosa, tão dominada pela vontade de encontrar alguém que atrapalhasse os planos que ele fez milimetricamente calculados. Jacob nunca pega uma rota de desvio, porque ele odeia não saber por onde vai, mas você o obrigou a improvisar, antes mesmo do resultado ficar pronto. — desabafei.
Em partes, agradeci por Camila não dizer uma palavra, porque eu tive mais coragem de ser sincera e falar sobre coisas que eu não conseguia compartilhar com outras pessoas.
— Então, você me contou sobre a sua filha, expôs todas as suas preocupações, desenhou uma linha do tempo sobre sua experiência com a maternidade e eu fiquei com o coração contristado por você. — parei um pouco. Me certifiquei se a porta continuava fechada. — E Jacob tem razão, eu não sei cuidar de mim mesma, como posso cuidar de outra pessoa? Eu não tenho dinheiro, não tenho experiência e nem competência para tal. Eu não sei como pude prometer para você. — uma lágrima despencou dos meus olhos.
Derrotada, soltei a mão da mulher notavelmente desbotada a minha frente. Naquele momento, meus pensamentos rondaram em torno de Lucinda, ela não merecia aquilo. Jacob estava coberto de razão, eu não deveria ter uma conexão com a criança, porque meses mais tarde eu teria que ir embora da vida dela. Virei as costas para Camila, mas não pude deixar de notar como meu coração batia triste. Todavia, antes de eu abrir a porta para sair, uma voz firme chamou-me atenção.
— Você não precisa se preocupar. Ela sempre perdoa alguém no fim das contas.
Rapidamente encarei o sofá para o acompanhante e dei um salto. Ana Galvão estava lá o tempo todo?
— Como? — perguntei alarmada. — A senhora não estava na lanchonete?
Ana fixou seus velhos olhos em mim e ignorou a minha pergunta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando o sol se põe
RomanceJá faziam meses e Debi sentia falta de seu amigo, mas temia incomodá-lo com seus problemas decorrentes. Surpreendentemente, ele lhe manda uma mensagem para que os dois se encontrassem. O que Debi não sabia era que o "encontro" tinha um propósito def...