47 - Invocação

128 13 2
                                    

Inferno

Como é que Cade tinha suportado aquilo por milênios? Estava ali há pouco tempo e começava a entender a razão por qual o diabo tinha enlouquecido e se desesperado para fugir da própria dimensão.

Ela conseguia ouvi-los, todos eles, os condenados. Tinha levado um susto gigante quando do nada as vozes surgiram implorando por piedade, clamando pelo fim derradeiro daquela eterna tortura, se esses que pediam pela paz inatingível naquele lugar tinham a deixado quase aos prantos, imagine como foi ouvir aqueles que gritam ameaças e esbravejam valentia enquanto são levados ao limite da loucura e sabem que não escaparão? Eles já estavam mortos, a maioria nem era ciente disso, a maioria ali parecia não se dar conta de que estava morto e que suas ameaças eram vãs.

Era a minoria, a metade que não fazia escândalo que a deixava assombrada. Os que gritavam, fossem implorando ou ameaçando eram apenas ecos aterrorizados que vinha de toda a parte dos mortos que ainda estavam apegados á vida mesmo que tivessem ali há décadas. Os que não emitiam um ruído, que eram imóveis como estatuas horrendas representando alguma emoção de sofrimento, esses que ela podia ver, eram os que a deixava mal.

Esses silenciosos já tinham aceitado seu destino e pagavam pelos pecados cometidos em vida sem reagir como os gritadores. Bonnie não sabia o que aquelas estátuas com expressões dos mais variados tipos de sofrimento eram, foi por acidente quando tocou um deles e do nada se viu pega numa tormenta de dor que não era dela, algo tão enraizado naquele espírito que cumpria sua sentença que Bonnie chorou incontrolavelmente por horas.

Como é que alguém que parecia ser tão jovem podia ter cometido tamanha barbárie? Como é que depois de tantos séculos revivendo seu pior pecado de modo tão intenso e sofrendo profundamente por tê-lo feito ainda não tinha sido liberado daquilo? Danação eterna era mesmo para todo sempre então? Logo agora que ela tinha se acostumado com a ideia de que "eternamente" significava "até alguém vir acabar com sua festa".

Ela queria sair dali, precisava sair dali. Os gritos nunca sessavam, o lamento daqueles que sabiam o que tinham feito e por que estavam sendo punidos era ensurdecedor, mas o silêncio das estátuas, isso a esmagava. Bonnie procurou todas as saídas que conseguia pensar, ela vagou um dia todo buscando uma rota de fuga, mas nada. Nenhum mínimo sinal de como sair daquele inferno.

E aprendeu algumas coisas, como o fato daquele lugar estar ligado á emoção do diabo da vez. Quando veio ali na primeira vez ela encontrou o que parecia um campo de flores com o lago dos cisnes e lembrava claramente de como aquele lugar se tornou uma imensidão seca e devastada quando Cade se feriu ao ataca-la. E quando retornou mais recentemente, tudo ali era uma versão fantasma de Mystic Falls.

Agora parecia que ela estava em algum tipo de cidade fantasma de western com quilômetros e mais quilômetros de paisagens montanhosas até onde seus olhos podiam ver e estátuas grotescas guardando a vila, espalhadas pelas ruas ou sobre o teto dos casebres vazios – por que ela já tinha entrado em todas elas. Temia pensar ou desejar mudar de ares e ir parar num lugar pior, quer dizer, ela tinha conseguido se livrar de Katherine e da ossada-roxa-gigante quando mandou que a doppelganger sumisse. Isso não queria dizer que ela tinha algum controle daquele lugar.

Sozinha, sem conseguir contato nem mesmo com suas ancestrais no Outro Lado, começou a cogitar que talvez ela estivesse sendo punida pelo inferno por seus pecados. Era isso, ela fizera coisas terríveis contra muitas pessoas na tentativa tola de impedir que coisas piores acontecessem, ela deixou que inocentes se ferissem e traiu a confiança de seus amigos só para que seus segredos fossem mantidos secretos. Ela era má, o Inferno não a recolheu em morte por que ela se nomeou rainha e sim por que ela era malvada.

Sangue Real - TVDOnde histórias criam vida. Descubra agora