25 - Conflito interno

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Bonnie observava o carro dirigido por Gia se afastar, a híbrida estava escoltando Jô até o aeroporto. A bruxa enrolou os cabelos num coque alto e esfregou a nuca numa corruptela de massagem enquanto soprava um misto de alivio com cansaço.

- Acho que ela ficou chateada comigo – comentou quando foi abraçada por trás.

- Chateada? Você foi de uma exigente bruxinha assustada para a megera assustadora num segundo. Talvez esteja enfurecida por sua ameaça, temerosa por seu descontrole e cautelosa, mas não chateada.

Bonnie deixou os ombros caírem, ela admitia que perdeu o controle quando a médica se recusou em livrá-la de Kai de imediato e talvez tenha exagerado um pouco ao sugerir que podia descobrir como colocar o espírito malfazejo no corpo da doutora, uma vez que eram gêmeos e até certo ponto eram um só por causa da Fusão que deu para a líder da gemini mais do que poder sobre seus parentes e agregados. Em sua defesa, Bonnie sempre diria que entrou em pânico e que nunca seria capaz fazer algo tão terrível como trocar a alma de Jô pela de Kai.

- Pelo menos serviu para que ela me livrasse do encosto.

Jô havia puxado o espírito do irmão de dentro de Bonnie e o amarrado ao diamante de seu anel de noivado, quando chegasse em casa ia prendê-lo em alguma pedra mais adequada para ser usado como receptáculo e mantê-lo trancado onde ninguém pudesse alcança-lo ou até que descobrisse como libertar um espírito para o merecido descanso eterno.

- Mas? – Klaus notou as reticências que ela não pronunciou.

- Pressentimentos ruins.

Ela mordeu os lábios, aquela sensação de que tinha que fazer algo que não gostaria de fazer tinha despertado depois que começou á se inspecionar em busca de qualquer vestígio mágico desconhecido – era estranho como podia se examinar usando mais seu lado psíquico para encontrar uma anomalia do que usando magia como qualquer outra bruxa faria e funcionava tão bem quanto ou até melhor –, não sentiu a presença de Kai como um visitante indesejado espiando atrás da porta.

Mal teve tempo para saborear o alívio que aquela sensação de precisar falar começou a coçar. Sua primeira pergunta foi o que devia ser contado? Tinha sua Sala Precisa lotada de segredos inconfessáveis, segredos alheios, segredos não tão secretos, segredos que todos conheciam e um monte de outros pequenos segredos inúteis com poder de destruir a sua paz interior que foram largados ali ás pressas sob a promessa de um dia ser resgatado, mas a verdade era que a cada novo segredo, mais sua Sala Precisa de faz de conta se tornava um labirinto caótico sem saída cuja porta ela sequer tinha coragem de abrir.

Enquanto observava o carro que levava Jô Saltzman e seu fardo para o aeroporto e depois de volta para o Oregon aonde ela esperava que a líder do gemini coven enterrasse seu gêmeo do mal e todo o perigo que ele representava para nunca mais voltar, finalmente se deu conta do que precisava ser contado, qual segredo importante que ela estava escondendo e que era tão perigoso quanto o que Jô afastava dela.

- Tem algo que preciso te contar sobre minha passagem pelos mortos, algo que acho que você precisa saber – disse.

Klaus esperou, mas a bruxa nada disse por muito tempo e ele teve que empurrar:

- Você tem alguma idéia de quem a trouxe ou por quê?

- Não, não mesmo. É outra coisa, mas não sei como falar isso.

- A verdade costuma funcionar.

Bonnie riu, sem diversão nenhuma.

- A verdade é complicada demais cheia de detalhes que eu não compreendo e mentiras secretas que levaria mil vidas para desvendar.

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