31 - O chamado

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Não havia luar, se houvesse dificilmente penetraria por entre as altas copas das árvores antigas da floresta silenciosa, essa falta de claridade não era problema para a garota de cabelos pretos que deslizava sobre a fria névoa vermelha que chegava aos quadris, temer onde pisava também não era um problema por que ela sabia que aos seus pés jaziam incontáveis ossadas do que um dia foram pessoas entregues em seu nome por poder.

Estava em casa, ao menos no que ela lembrava como sendo casa há centenas de anos antes dos estrangeiros virem roubar suas terras, matar suas florestas e construir suas cidades poluentes. Também não se importava com isso, viu a evolução da humanidade e seu retrocesso, outrora as coisas eram mais difíceis nem sabia que se podia ir tão longe além do limite do desconhecido, agora o mundo cabia na palma de sua mão e ela sabia que podia esmaga-lo sem esforço.

- Meus filhos – chamou numa voz melodiosa e clara, as palavras ecoando floresta á fora chegando até aos confins da Terra – É chegada a hora de nos unirmos, de assumirem o poder que lhes foi roubado. Juntem-se á mim, sejam o futuro. Venham á mim, sua criadora e Rainha. Quebrem as barreiras de hierarquia forjadas por séculos de injustiça e mentiras. Ouçam meu chamado, liberte seu lobo interior, deixe-o correr livre ao luar.

"Meus filhos, vocês são donos da noite. Não permitam que estes usurpadores permaneçam no poder do que lhes pertencem por mais tempo. Cacem. Libertem-se do medo, seja o medo, saiam da escuridão aonde se escondem e sejam a sombra da quais eles fogem. Cacem cada usurpador, cada vampiro que se atreveu a tomar aquilo que por direito é de vocês deve e será destruído. Ouçam meu chamado, venham á mim, unam-se aos seus irmãos lobos e lutem contra nossos inimigos. Ouçam meus filhos, venham á mim.

"Chamo você, cada homem ou mulher ou jovem que reluta em aceitar sua benção, liberte-se. Ouça o clamor de seu sangue, não recuse o chamado de seu lobo interior, liberte-o para que corra livre sob o luar. Livre seu lobo da aflição de estar aprisionado em forma humana, liberte-se e junte-se aos seus irmãos contra nossos inimigos. Permita que seu lobo cace e destrua aqueles que usurparam seu lugar no mundo, aqueles que os caçaram e acuaram. Não poupem ninguém que se atrever a ficar contra vocês cada homem ou mulher, humano ou sobrenatural, amigo ou aliado. Venham á mim, meus filhos, ouçam meu chamado. Despertem.

...

- Podemos conversar Bonnie – ela ergueu os olhos para a híbrida que usava óculos escuros.

- Podemos conversar Anne – o longo bocejar da outra quase fez a bruxa imitar o gesto, sempre que bocejavam perto dela sentia vontade de fazer o mesmo.

- Você tem alguma coisa para fazer dormir? Chá, remédio, feitiço, qualquer coisa.

- Quem você quer apagar? – Bonnie brincou.

- É para mim mesma – se apressou em corrigir qualquer erro de interpretação – Eu quero dormir, só que não aguento mais os pesadelos, estou começando a enlouquecer e a aproximação da lua-cheia está deixando tudo pior.

- Que tipo de pesadelos? – quis saber sem realmente estar interessada.

Anne desabou na cadeira ao lado da bruxa encostando o queixo na mesa. Anne costumava exagerar um pouco, nenhuma noite mal dormida por causa de pesadelos era razão para apelar para soníferos. Talvez uma mudança de rotina, a híbrida acompanhava horários das crianças então dormia cedo e acordava cedo. Quem sabe ela não devesse seguir o tempo dos outros híbridos ou dos vampiros? Ou então devesse ir para a cama sem o celular em mãos.

- Do tipo que fica repetindo toda noite como uma propaganda com música grudenta. Começa com a floresta sinistra e a fumaça de sangue, eu sempre estou na forma de loba correndo até chegar nessa menina índia que me chama falando coisas que me fazem acordar com vontade de mudar para loba e rasgar o primeiro vampiro que eu achar. É horrível, eu sou meio vampira. Eu só quero voltar a dormir, normal – choramingou.

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