Capítulo 35

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Os dedos de Sammy brincavam com o meu topete, que estava se tornando uma franja. A máquina que eu usava para cortar meu cabelo ficou na casa de Madison e eu ainda não tinha coragem de confiar meu cabelo a qualquer pessoa, então preferi receber meu primeiro salário e comprar uma máquina nova.

Eu começaria a trabalhar em dois dias na Comffy, depois de uma entrevista bem animada e descontraída com a criadora da marca, Laiene. Ela precisava de um operador de caixa para a loja física e, como eu ainda precisava aprender muito sobre o mundo da moda, eu ficaria por lá enquanto aprendia um pouco sobre a loja todos os dias. Eu estava ansioso para começar.

Contei todos os mínimos detalhes para Sammy sobre minhas expectativas em relação ao trabalho, a rotina no apartamento com os garotos e os trabalhos da faculdade. Às vezes, passávamos horas contando sobre como foi a semana um do outro. Era quase como uma terapia.

— E tu já enviou a história do Christian? – ela falou distraída enquanto mexia em uma mecha do meu cabelo. "A história do Christian" foi o apelido que meus amigos deram ao meu texto.

— Enviei, agora é só esperar. — Passei os dedos por sua coxa, estava deitado em seu colo e aproveitei para depositar um beijo na região.

— Não me provoca, Charlie. — Ela disse com humor. Ri baixo, de encontro com sua pele, e dei mais um beijo em sua coxa.

— Não estou fazendo nada. — sussurrei provocativo. Mesmo sem ver o rosto de Sammy, eu senti que ela revirou os olhos e sorriu. — Daqui a pouco a sua mãe sobe e pergunta o que estamos fazendo, você nem deixou a porta aberta.

— Ela é mais tranquila que meu pai. Acho que o fato da gente não... Engravidar, também ajuda. — Ela fez uma careta quando ergui a cabeça para vê-la.

— Isso te incomoda?

Me virei e apoiei-me pelos cotovelos, Sam continuou sentada na cama, com as pernas abaixo de mim. Não interrompi o carinho em sua coxa, mas meu olhar estava mais atento ao rumo da conversa.

— Bom, eu definitivamente não gostaria de ter uma gravidez indesejada durante a faculdade, então não ter essa preocupação é um alívio. — Ela disse com um meio sorriso. — Mas é estranho o jeito que as pessoas pensam que só existe sexo se tem um... Pênis na história. — Ela ergueu as mãos para o ar e as balançou, um pouco revoltada.

Eu não soube o que responder. Apenas balancei a cabeça, em concordância.

— Essa conversa é ruim pra ti? — Ela tocou meu rosto com as duas mãos.

— Eu não sei, na verdade... Eu não gosto muito de pensar no que eu tenho... No meio das pernas, sabe.

Automaticamente minhas coxas se apertaram. Eu não gostava de pensar, pois se decidisse fazer isso, desejaria morrer.

— Tu tem vontade de fazer alguma cirurgia? Eu não sei se existe isso, eu pesquisei um pouco, mas não encontrei nada.

Não me surpreendia ver Sammy pesquisando sobre isso. Ela adorava pesquisar todo tipo de coisa. Eu também procurei saber mais sobre cirurgias em pessoas trans, mas não tinha uma opinião formada ainda.

— Fazer uma cirurgia pra "ter um pênis", — falei fazendo aspas com os dedos. — é um pouco difícil, na verdade. Mas tem as próteses, que é só comprar e... Colocar, é. — Aquela conversa estava um pouco estranha. Contudo, Sammy ficou ainda mais curiosa.

— E tu tem vontade de usar?

— Eu não sei, Sam. Você quer que eu tenha um pênis?

Só me dei conta que minha pergunta saiu ríspida depois que a pronunciei e vi o olhar da garota à minha frente se fechar.

⚧ | Azul é a Cor do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora