Capítulo 42

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Usar óculos escuros durante o trajeto até a faculdade era aceitável, mas ficar com eles dentro da sala de aula era bizarro demais. Por isso, precisei tirá-los ao entrar.

Evitei cumprimentar meus colegas ou olhar para alguém em específico, de forma que não vissem o estado do meu rosto. Eu estava pálido e com olheiras profundas. João e Marcos entraram junto comigo e eu sabia que eles olhavam cautelosos para mim. Eu me sentia mal por isso.

Diferente das outras aulas, me sentei na última carteira, em um dos cantos da sala. Minha testa latejava de dor, mas eu já estava traumatizado de tomar algum remédio. Eu sentia o interior do meu corpo queimar, mais precisamente na região do estômago.

E saber que os finalistas do concurso seriam anunciados naquele dia não estava ajudando em nada.

Enquanto o professor corrigia as questões passadas na aula anterior, eu apoiei meu corpo na parede por estar no canto da sala. Coloquei o capuz sobre a cabeça e fiquei o mais escondido possível. Minha vontade era estar invisível.

Fiquei atualizando o site do concurso esperando por alguma coisa, eu ainda queria me agarrar a algo para manter a mente ocupada. Recebi a notificação de uma mensagem de João e olhei para a frente, ele estava mexendo no celular também.

- Como tu tá? Ficou mudo hoje de manhã durante o caminho.

Fomos todos juntos para a aula, mas eu não me pronunciei mais sobre o que aconteceu. João Vitor estava usando uma blusa de um time pequeno de basquete que Marcos emprestou, a qual cabia quase dois João's. Marcos só sabia usar roupas relacionadas a esportes.

Tá tudo bem, obrigado pela ajuda. — digitei em resposta. — Me desculpa por ter surtado.

Bah, eu posso tá errado, mas parece que tu acumula muita coisa e depois não aguenta e extravasa. Tu pode sempre contar comigo, sabe disso, né?

Li várias vezes a mensagem e notei que ele estava encarando o celular, esperando por minha resposta. Tentei ser o mais sincero e direto possível para não levantar mais preocupações.

Eu não quero falar sobre isso, mas eu vou ficar bem, só preciso aprender a lidar com esses sentimentos.

Não esqueci do psicólogo tá, vou perguntar ao Fred se ele conhece algum lugar também.

Fred era o cara que João conheceu naquela partida de futebol. Eles estavam juntos desde então, mas meu amigo insistia que aquilo ainda não era um namoro.

Não precisa se preocupar com isso, mas obrigado. Você é demais.

Sou mesmo, mas tu também é. — João mandou um emoji piscando. — Pode falar comigo se precisar de alguma coisa, tá?

Tudo bem. Mandei uma carinha sorridente, apesar de não estar sorrindo. Só queria deixá-lo mais calmo.

— Charlie?

A voz do senhor William me despertou, eu até esquecera de que estava em aula. Quando vi seu semblante sorridente, fiquei confuso e me endireitei na cadeira. Todos os outros alunos estavam alternando o olhar entre eu e ele, que estava com o próprio celular em mãos. Ele ajeitou o pouco cabelo que restava da sua calvície e ergueu o aparelho.

— Acabei de receber uma mensagem de uma colega da organização do concurso, ela avisou que o resultado saiu! E temos alguns finalistas representando a Marie Curie!

Minha boca se abriu e os outros alunos começaram a falar sem parar. Alguns pegaram o celular para conferir o site, e quando me dei conta do que realmente estava acontecendo, abri o meu navegador. Contudo, nem precisei chegar até o site na guia dos recentes, pois a voz de João aumentou várias oitavas e ele gritou.

⚧ | Azul é a Cor do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora