Epílogo

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Faltavam apenas três minutos para bater o ponto e começar o meu horário de trabalho, então precisei correr os últimos metros para conseguir chegar a tempo de trocar de roupa no vestiário e colocar o uniforme.

Assim que entrei, troquei de máscara e joguei a que eu usara no ônibus fora, pois era descartável. Lavei as mãos, troquei de roupa, coloquei o crachá no pescoço e desci as escadas correndo, batendo o meu horário em ponto.

— Quase que tu atrasa, hein guri! — Suellen gritou ao passar por mim. — Já corre pro caixa que tão precisando de ti lá!

Passei pela porta dos funcionários e entrei na área de loja da Dotcom.

A ilha de caixas já contava com seis clientes na fila. Uma senhora, ao me ver chegar, chamou a minha atenção.

— Ô, minha filha! Só tem um caixa nessa loja inteira?! Chama mais gente pra cá!

— Boa tarde! Já vou te atender! — Cumprimentei a idosa com um aceno de cabeça e estiquei a tarja do meu crachá para abrir o meu caixa. Acenei para Leo, que estava afastado de mim, atendendo outra pessoa.

Assim que chamei a senhora, ela sequer me deu boa tarde.

— 167023...

— Boa tarde, tudo bem? — Interrompi sua sequência de números aleatória.

— Boa tarde! É o meu CPF!

— Então a senhora quer pagar o carnê da loja hoje, isso?

— É, isso! — Fiz questão de perguntar com calma e fazê-la falar de novo os números do seu CPF para localizar a compra em seu nome. Eu não era pago para atender clientes mal-educados.

— Nossa, que absurdo ter tão pouca gente trabalhando numa loja desse tamanho! A gente fica uma eternidade na fila!

— A senhora vai pagar no dinheiro ou cartão?

— Cartão!

— Sabia que a senhora pode pagar usando as nossas maquininhas de autoatendimento espalhadas pela loja? Nem precisa ir até o caixa!

Se eu pudesse ver a boca da mulher através da máscara, eu a veria aberta de surpresa.

— Ah, é?!

— Pois é! Nem precisa enfrentar fila!

A senhora não fez nenhum comentário a mais até o fim do atendimento.

Trabalhar durante a pandemia em um ano tão conturbado como 2020 estava sendo desgastante. As pessoas se aglomeravam, não respeitavam o distanciamento e usavam a máscara do jeito errado. Em algumas cidades, a quarentena já era uma realidade, mas os casos estavam no início por aqui então ainda estávamos trabalhando. 

— Ei, bonito! Como tu tá? — Leo se aproximou de mim para pegar um embrulho de presente que estava perto do meu caixa.

— Já cheguei cansado, e ti? 

— Morto com farofa! Toda vez que dá algum problema com cliente eu me arrependo de ter aceitado a proposta da Laiene. — Ele disse com uma risada e voltou ao seu caixa. 

Eu e Leo fomos chamados para trabalhar na nova sede da Comffy, que passou a se chamar Dotcom após a mudança de segmento: ela passou a ser uma empresa de moda jovem e não só de lingeries e moda praia. 

O posto fixo de Leonardo era no caixa, e eu cuidava do setor Agênero. Contudo, uma das parceiras de Leo estava de atestado por conta de suspeita de Covid-19 e eu passava a maior parte do dia com ele para ajudá-lo. Quando o movimento reduzia, eu voltava para a área de vendas organizar as roupas.

⚧ | Azul é a Cor do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora