Capítulo 47

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Postei cap em dobro pq quando to mais triste eu posto mais
Minha tristeza é a alegria de vcs amo

Alerta de homofobia nesse cap, com linguagem pejorativa

Passar o domingo inteiro à base de água e remédios para dor de cabeça teve como reação uma das coisas que eu mais evitava fazer quando estava na faculdade:

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Passar o domingo inteiro à base de água e remédios para dor de cabeça teve como reação uma das coisas que eu mais evitava fazer quando estava na faculdade:

Usar o banheiro.

Deveria existir alguma pesquisa estatística sobre a relação entre infecções urinárias e pessoas trans, porque usar um banheiro era desconfortável demais e eu imaginava que isso não deveria ser só comigo.

Afinal, a lógica dos banheiros era a mais óbvia possível: quem tem vagina vai ao banheiro para mulheres e quem tem pênis vai ao banheiro dos homens. Simples, lógico, fácil para a maioria da população.

Mas e eu? E mulheres trans? E, por Deus, as pessoas não-binárias?! Em que banheiro uma pessoa agênero entraria?

Eu sabia da importância de dividir esse espaço, pois muitas mulheres se sentiam mais seguras em um local como esse fora do alcance dos homens. Era uma questão feminista também. Mas isso não fazia mais sentido quando um homem trans entrava no banheiro feminino.

Por isso, eu passava mais tempo na porta entre os dois banheiros do que dentro de um deles de fato. No final, eu sempre acabava controlando minha bexiga e, apenas em casos de extrema necessidade, eu corria pelas escadas até o subsolo da área de informática e usava um banheiro bem afastado e pouco movimentado.

Contudo, minha bexiga estava gritando naquele momento, implorando para que eu entrasse em qualquer porta.

Eu queria ter o corpo apropriado para saber em que banheiro entrar. Minha mente ansiava em entrar no banheiro masculino, mas eu tinha medo de encontrar algum cara lá dentro e gerar uma situação, no mínimo, desconfortável.

Mas eu não aceitava ser tratado como uma garota, por que entraria em um local destinado exclusivamente a elas?

A resposta já era óbvia. Eu não era uma garota, era um garoto, era no banheiro masculino que eu deveria estar.

E então entrei. De cabeça baixa, ombros curvados, correndo para o box mais próximo, mas entrei.

Felizmente estava vazio, então me apressei para fazer o que precisava e correr para fora dali. Meu corpo todo gritava de disforia. Era insuportável. Senti como se as paredes do banheiro gritassem "seu corpo não pertence a esse lugar!".

Até a ideia de ter que me sentar para fazer algo que homens normalmente faziam em pé me incomodou na hora. Com um packer e um pouco de prática, eu poderia começar a fazer isso.

Meu Deus, eu precisava de um. Era bobo, beirava ao ridículo, eu não precisava de verdade de um e isso não me faria "mais homem", mas eu realmente sentia que era uma parte do meu corpo que faltava.

⚧ | Azul é a Cor do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora