Capítulo 39

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A manhã na casa de Jason não poderia ser a pior possível.

Acordei com uma dor de cabeça insuportável, na cama do garoto. Eu mal conseguia enxergar um palmo à minha frente com nitidez. O quarto estava vazio, mas havia um barulho na cozinha.

Olhei para baixo e não reconheci minhas roupas. Tentei me lembrar de alguma coisa, mas não conseguia. Meu peito começou a se acelerar.

Não podia ser o que eu estava pensando, de jeito nenhum, pelo amor de Deus. Me levantei tão rápido da cama que tropecei, mas meus braços se firmaram no chão antes que eu caísse de cara. Eu estava com um short de tactel e uma regata de Jason e não me lembrava de ter colocado aquela roupa, muito menos de ter tirado a minha.

Corri desajeitado até a cozinha e a luz do Sol entrando pela janela me fez cobrir os olhos no mesmo instante. Soltei um gemido alto de dor e ouvi a voz de Jason.

— A margarida acordou, foi? 

Lentamente, consegui enxergar de novo. Ele estava na mesa da cozinha, com um copo de café em uma mão e o celular na outra.

— Jason, as minhas roupas... O quê...

— Tão no banheiro, tu tinha pedido pra trocar de roupa antes de dormir.

Consegui respirar aliviado. Não era nada daquilo que eu estava pensando.

— E aonde você dormiu?

— No sofá, Caio dormiu no quarto da Camila. Ele já foi embora.

Demorei para processar as palavras, pois a dor estava forte e meu cérebro ainda lento. Jason tirou os olhos do celular e me observou.

— Tu quer um remédio?

— Eu tenho em casa. Vou... Mudar de roupa. 

Minha mente estava uma completa bagunça. Encontrei minha mochila e peguei meu celular, havia uma mensagem de boa noite de Sam e outra de bom dia. Eu não conseguiria mentir para ela, mas não estava preparado para contar a verdade agora. Eu queria chegar em casa primeiro.

Assim que vesti a roupa, ouvi o barulho de porta sendo aberta na sala. Eu não precisava ver quem era para sentir meu corpo congelar instantaneamente.

— Tu já chegou?! — A voz de Jason soou assustada. Nós dois estávamos ferrados.

— A reunião não deu certo. E por que essa cara?! Esqueceu que eu moro aqui?

O senhor Max estava na sala de estar e eu estava dentro do quarto de Jason. Isso tinha tudo para dar errado.

Não havia outra escolha. Eu não podia me enfiar debaixo da cama e ficar lá até o seu pai sair de novo.

Tive que sair do quarto, com a mochila já nas costas. Quando dei alguns passos e apareci na sala, os dois me encararam. Maximiliano parecia estar vendo um fantasma.

O olhar de Jason era como um pedido de desculpas. Ele sabia o problema que isso iria causar.

— Charlie? — O senhor Max estava tão incrédulo que sua boca ficou aberta. Ele alternou o olhar entre Jason e eu, tentando formular uma teoria.

— Uns amigos meus vieram pra cá ontem, aí como... A Charlie mora longe, ele, ela dormiu aqui.

Jason estava tentando me chamar pelo feminino perto do pai e havia falhado miseravelmente.

— E aonde tu mora? — Max olhou para mim. Eu sabia o que ele queria: passar a informação para a minha mãe.

Nunca, em um milhão de anos, eu iria falar.

⚧ | Azul é a Cor do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora