Capítulo Bônus: Jason

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A parte ruim que eu vejo em mudanças de povs é que aí vcs sabem uma coisa que rolou com o Jason, mas o Charlie não sabe, e aí eu tenho que seguir a narração do Charlie como se nada tivesse acontecido.

Só que o segredo do Jason ficou TÃO BEM GUARDADO que ninguém percebeu. Na primeira versão, eu revelei a história dele só no último cap. Contudo, eu decidi bagunçar o psicológico dos novos leitores um pouco mais cedo dessa vez rs.

Esse cap possui manifestações de homofobia, transfobia e agressão, então se vc não se sentir confortável não precisa ler, é opcional.

Abri todas as gavetas do quarto com raiva

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Abri todas as gavetas do quarto com raiva. Podia sentir meu coração na boca, já as pontas dos meus dedos estavam perdendo a sensibilidade. Elas tremiam igual o resto do meu corpo e tentei respirar pela boca enquanto não encontrava a droga do isqueiro.

Fechei a última gaveta com raiva e corri até o quarto do meu pai.

Ele deve ter escondido de novo.

Meu peito vibrava, eu precisava encontrar aquilo logo. A ponta do cigarro já estava presa entre os dentes, apenas esperando o sinal de fogo. Tateei a última gaveta da cômoda do homem e minha mão encontrou um objeto metálico.

Acendi tão rápido e com as mãos tão trêmulas que queimei a ponta de um dos dedos.

Por que ele não ia falar mais comigo?! O que eu fiz?!

Inspirei profundamente e eu quase podia sentir fisicamente a nicotina passando por mim. Prendi a respiração por alguns segundos e me sentei no chão, exausto. Soltei a fumaça de forma lenta e apoiei meu corpo na cômoda de madeira.

Traguei mais uma vez, e depois outra, até conseguir me acalmar.

— Merda. — sussurrei com raiva.

Eu sabia o que minha irmã diria sobre isso, que eu estava me matando. Eu sempre podia ouvir a sua voz dentro da minha cabeça, com raiva de mim, dizendo que só voltaria a falar comigo quando eu parasse.

Talvez fosse por isso que nem ele nem ninguém aguentava falar comigo por muito tempo. Não por causa do cigarro, mas de tudo. 

Respirei fundo e me levantei com um pouco de dificuldade. Fui até a varanda e fiquei por lá até terminar o tabaco do cigarro. Não pensava em nada, apenas na sensação da fumaça saindo de forma gradual pela boca.

Tateei os bolsos da bermuda e não encontrei meu celular. Voltei para o quarto e ele estava em cima da cama, então desbloqueei a tela e mandei uma mensagem para o Gnomo.

— Aí, vou precisar de mais um pacote. Que dia tu tá livre?

Como eu imaginava, ele respondeu rápido.

— Na quarta, às seis, no mesmo lugar de sempre.

— Fechou.

Antes de bloquear a tela e jogar o celular na cama outra vez, havia uma outra mensagem. Era Elizabete, do segundo período que fazia comigo a disciplina de Física 1.

— Ei lindo, tu pode me passar o que o prof anotou no quadro hoje?

Ela sempre arrumava uma desculpa para me mandar mensagem. Falei que enviaria mais tarde, pois estava ocupado.

Desliguei o celular e me joguei na cama. Alguns segundos se passaram até ouvir meu pai entrar pela porta.

— Jason!!!

A voz irada do meu pai já era esperada por mim. As notícias circulavam com facilidade pela cidade, e uma hora alguém contaria a ele.

— Eu posso saber que porcaria de texto foi esse que tua professora me mostrou?!

Mas eu não imaginava que fosse justamente a professora Angelina, caralho. Por que ela mostrou ao meu pai?!

Me ergui da cama e encarei o meu pai, com o rosto vermelho de raiva. O seu celular parecia por pouco se esfarelar em sua mão, com o documento do texto na tela.

— É essa merda que tu acha que vai apresentar na faculdade?!

— Acho massa que tu lembrou que tem filho! — Decidi me esquivar das perguntas e cruzei os braços, sentado na cama. — Tudo bem com você também, senhor pai?!

— Não me chama de pai se tu me faz passar vergonha! — Max andou rápido até mim e me segurou pela blusa, fazendo-me erguer o corpo até ele. — Tu não vai apresentar essa porra em concurso nenhum, tu deveria fingir que nada disso aconteceu!

— Mas aconteceu, caralho! E eu não vou esconder isso só porque o senhor quer!

Eu sabia que Max poderia me matar, se ele quisesse. Ele me empurrou para trás e fechou a mão em punho, eu já estava me preparando para isso. Eu nem tentava mais me defender, porque era inútil.

Contudo, ele abaixou a mão. Seu olhar para mim era de puro desgosto, mas ele decidiu não me bater. Apesar disso, sua voz continuava destilando ódio.

— Eu fiz de tudo pra ninguém te achar uma aberração! Tu podia ser igual aquele teu amiguinho que todo mundo sabe que é uma garota, ele não engana ninguém, mas tu engana e quer foder com tudo, acha que alguém vai gostar de ti quando descobrir?! Tu acha mesmo, JASON?!

Ele disse o meu nome com nojo.

— Tu devia me agradecer a porra de todos os dias! Se tu te olha no espelho e gosta da merda que tu tá vendo, é por minha causa! Se tu tem um monte de guria em cima de ti, é por minha causa essa porra!!! Eu te fiz ficar assim!!!

Eu preferia que ele me batesse, ao invés de falar aquelas coisas.

— E pra tu ainda ficar se engraçando com os outros guri'... — Sua voz saiu com ainda mais repulsa. — Ou tu acha que eu não sei?!

A mão de Max voou e atingiu o meu rosto com força. O impacto me fez virar o pescoço para o lado de forma brusca, o que causou uma dor em dobro.

— TU ACHA QUE EU NÃO SEI, PORRA?!

Minha bochecha ardia pra caralho, mas eu não chorava. Não dava esse prazer para ele. Max me agarrou pelo rosto e me obrigou a encará-lo apenas para me humilhar.

— Se tu ler aquela merda no dia do concurso, tu nunca mais vai pisar nessa casa e eu vou até o inferno pra tirar todas as coisas que eu te dei. Eu desfaço a tua certidão, corto o teu médico, tu não vai ter nada, todo mundo vai ver a aberraçãozinha que tu é. Tá me ouvindo?! 

Não respondi. Meu estômago estava revirando.

— TÁ ME OUVINDO, JASON?! OU EU TENHO QUE VOLTAR A TE CHAMAR DE JADE?

— EU TÔ, CACETE! 

Max me empurrou de volta para a cama. Ele guardou o celular no bolso e olhou para mim com raiva uma última vez, antes de bater com força a porta do meu quarto.

Minha garganta queria se fechar, eu precisava de mais um cigarro, mas havia acabado. Agarrei a coberta abaixo de mim e respirei fundo, tentando me controlar.

"Não chora, Jason, tu é homem. Não chora, caralho."

"

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⚧ | Azul é a Cor do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora