Capítulo 28

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Nós havíamos ganhado. Não que alguém esperasse que nós perdêssemos o jogo da década, mas ainda havia aqueles que tinham suas dúvidas. Havia sido um jogo duro, cheio de emoções e reviravoltas, mas no final o trabalho do treinador e do seu auxiliar havia dado um grande resultado. A escola inteira havia se juntado para assistir a grande partida entre os Lions e Sharks no campo da nossa escola à noite. Seria o jogo que marcaria o desempate entre os dois times rivais desde... Bem, desde que o fogo foi criado.
Melanie tinha ficado em minha casa durante toda à tarde onde nós conversamos, brincamos, contamos as novidades uma para outra, coisas que não fazíamos há algum tempo, pois, segundo ela, eu estava muito ocupada caindo nos encantos de Ian. E desde que eu havia chegado a Londres pela segunda vez, eu senti a grande falta que Melanie me fazia. Ela era única que eu sentia confiança para contar tudo, desde coisas mais alegres até minhas angústias. Ela era a minha verdadeira confidente para todas as horas e tudo isso me fez pensar em como com Ian isso nunca acontecia. Ou estávamos ocupados apostando quem bebia mais ou estávamos zoando com algum bêbado no meio da rua.
Não que não gostasse de sair com Ian, eu gostava muito, na verdade, mas não era mesma coisa quando eu estava com Melanie. E, com certeza, não era a mesma coisa quando eu estava com Branden.
Branden.
Branden. Por que tudo que eu faço nessa droga de vida tem que voltar para Branden? Ele era como um pequeno carma que me perseguia em cada canto que eu ia. Era esse maldito nome que estavam desde outdoors até nos personagens dos filmes que passavam na televisão.
Não houve um minuto quando Melanie estava falando de James que eu não me lembrasse dele e sentisse um aperto no meu coração, além de uma enorme vontade de tê-lo perto outra vez. Eu não podia negar que Branden me fazia falta e, de vez em quando, eu dava um sorriso bobo ao me lembrar de todos os momentos que passamos juntos, o que fazia me questionar: Como um amor daquele tamanho poderia acabar de maneira tão banal? Ele teve várias oportunidades de me deixar, e eu até preferia que ele o tivesse feito, mas não. Pelo contrário, ele havia ficado ao meu lado em todas elas, fazendo meu coração criar tantas expectativas e planos mirabolantes para um futuro juntos.
Ele poderia ter fugido no dia em que descobriu sobre a maldição que eu carregava, ou poderia ter ido embora ao dia em que eu perdi a memória. Mas ele não havia feito. E isso só fez com que meu coração inchasse ainda mais pedindo por cada abraço e todos os beijos dele.
Por um breve momento, foi como se Ian nunca tivesse existido e Branden fosse a única companhia que eu pedisse e clamasse pelo resto dos meus dias. Quando ele entrou no campo, liderando o time pelo qual ele dava o seu melhor, eu tive a certeza de que eu poderia ficar ali sentada, observando-o, que melhor visão no mundo eu não teria. Meu coração começou a bater mais rápido dentro do peito, fazendo com que eu jurasse que eu iria desmaiar ali mesmo. Parecia que eu estava vendo Branden pela primeira vez e, mesmo sem conhecê-lo, meu coração sabia que ele seria o escolhido. O que me lembrava de perguntar o que viria depois daquele Por favor, eu....
Por favor, eu te odeio.
Por favor, eu nunca mais quero te ver.
E a última possibilidade, que eu me negava a cogitar: Por favor, eu te amo e preciso de você mais do que nunca.
As borboletas em meu estômago entraram em frenesi quando, em seu último gol pelo time, um sorriso habitou os lábios de Branden, o que me fez lembrar de quantas vezes aquele sorriso já foi meu. Só que aquilo não durou muito, pois, logo, sua namorada - a qual eu gosto de chamar de vadia de sorte - pulou em seu pescoço dando-lhe um beijo. O beijo que deveria ter sido meu.
Após o término do jogo, todos se dirigiram para a famosa festa na casa de Jason. Ian e James iam conversando animadamente sobre cada gol e cada passe bem dado dos jogadores da nossa escola. Ian tentava disfarçar, mas eu sabia que ele estava orgulhoso de Branden por ter feito ótimo trabalho ao orientar nosso time da maneira que nem ele e o técnico juntos fariam.
Ian admirava Branden e isso fazia com que minhas mãos suassem enquanto eu segurava uma garrafa de cerveja. Até Ian, aquele que tinha afastado de todos os pensamentos de Branden, me levava de volta para ele, mesmo sem querer.
Eu sabia que Ian evitava conversar comigo sobre o time de futebol do colégio e, principalmente sobre Branden, porém o que ele podia fazer se aquele time era o que dava orgulho para ele nos dias de hoje? Ian estava tendo uma coisa verdadeira pela primeira vez em sua vida, e eu entendia que ele sentia orgulho dela e, por isso, eu não falava nada enquanto ele se gloriava do quanto seu time era bom na cadeira ao meu lado.
Olhei uma última vez para Ian enquanto ele falava animadamente com alguns garotos do time de futebol sobre cada jogada bem feita. Levantei-me da cadeira e saí andando entre as pessoas. Alguns já estavam bêbados, outros conversavam alto por causa da música e outros, como James e Melanie, estavam aproveitando um tempo para os dois.
Coisa que eu e Branden deveríamos estar fazendo, pensei ao me sentar em um banco no quintal da casa de Jason.
O jardim era amplo e um pouco exagerado. Havia uma piscina do lado direito e um pouco atrás uma fonte e o banco onde eu estava sentada. Eu não estava muito em clima de festas. Na verdade,Melanie havia me arrastado para essa festa dando a desculpa de que Ian não podia ficar sozinho em um dia como esses, pois, como ela mesma disse, esse dia marcaria a vida dele e o começo da carreira dele para sempre.
- Não só para ele. - falei, rindo sem humor e tomando um gole da minha cerveja.
- Falando sozinha?
Engasguei com a cerveja ao olhar para frente. Branden estava em pé, parado, com os braços cruzados daquele jeito que só ele sabia fazer. E com um sorriso no rosto, que deixava minhas pernas bambas mesmo estando sentada.
- Antes falar sozinha, do que mal acompanhada.
- Ouch! - ele descruzou os braços e colocou as mãos nos bolsos - Senti a indireta. - ele deu um sorriso antes de virar-se de costas para mim. Soltei o ar pela boca e me levantei.
- Branden, espere. - falei, antes de colocar minha cerveja em cima do banco. Ele parou, ainda de costas para mim, e abaixou a cabeça. Mordi o lábio inferior e fechei os olhos. Burra, mil vezes burra, pensei. - Desculpe.
- Por que todas as vezes que a gente conversa, de alguma forma, você está se desculpando? - ele perguntou ao se virar para mim.
- Deve ser porque eu estou sempre pisando na bola quando o assunto é você. - arregalei os olhos ao perceber o que eu havia falado - Desculpe.
- Não, tudo bem.
- Não, Branden, me desculpe. De verdade.
- E por que você está pedindo desculpas agora?
- Por tudo. - suspirei, soltando o ar de meus pulmões - Por ter entrado na sua vida e atrapalhado tudo que você construiu. Porque, desde que eu entrei na sua vida, tudo virou uma bagunça. Você quase foi expulso do time de futebol, não só uma, mas duas vezes. Por você ter passado tudo aquilo quando foi à Florença, quase ser morto pela louca da minha irmã e pela sua capanga, além de ter sido sequestrado e maltratado. Oh, Deus, eu sou a pior pessoa do mundo por fazer você passar tudo isso. - abaixei a cabeça, mas a levantei novamente em seguida - E eu também quero pedir desculpas por Lucy e tudo que ela fez você passar, principalmente aquela estúpida história de querer te matar e ressuscitar depois para viver com ela. E, por último, por ter atrapalhado seu caminho até a garota que você gosta.
- Do que você está falando?
- De toda a confusão que você armou com a Ashley por minha culpa.
- E por que isso seria sua culpa?
- Branden, seu estúpido, porque a minha maldição fez com que o destino pregasse uma peça em nós dois e te fez pensar que você me amava quando, na verdade, você sempre amou a Ashley.
- Que ideia é essa, Caroline?
- Você não vê, Branden? Se minha maldição não tivesse me mandado para cá, sua vida seria muito melhor. Admita, Branden, sem a minha presença aqui, sua vida seria muito mais fácil e todos os seus sonhos iriam se realizar.
- Sua maldição pode ter feito muitas coisas, mas o que eu sinto aqui dentro toda vez que eu olho para você não tem nada haver com essa maldição estúpida.
- Do que você está falando?
- Ouça o que eu estou falando. Eu estou falando que eu amo você. - ele respondeu, aproximando-se enquanto eu estava estática em meu lugar. Eu olhava para ele como se ele tivesse falando em outra língua - Sim, minha vida mudou, e eu poderia ter tipo uma vida normal se você nunca tivesse aparecido, mas quem merece uma vida monótona e chata quando se pode lutar contra vadias malvadas que querem acabar com o amor de sua vida? Eu poderia ter feito muitas coisas, fugido, esquecido, te deixado de lado e, até mesmo, te mandado colocar no manicômio, mas eu não o fiz e você sabe por quê? Porque essa maldição pode ter trazido o maior sofrimento e perturbado minha mente, mas, no final, ela me trouxe você e isso é o que realmente importa. Porque mesmo nós estando separados, você é a única que faz bater meu coração rápido como um carro em uma corrida. - ele segurou minha mão e colocou em cima de seu peito - Você sente? Ele só bate assim quando você está por perto, - ele passou um braço pela minha cintura e me puxou mais para perto, ao mesmo tempo em que eu olhava para seus olhos - e você pode até não me amar da maneira que eu te amo, mas nada vai me fazer negar o jeito que você me faz sentir. - ele segurou meu rosto com sua outra mão - Nada vai me fazer negar o quanto eu sinto o falta do seu cheiro. - seu rosto se aproximou do meu, o que fez com que nossos narizes se tocassem, enquanto sua mão descia do meu rosto pelo meu pescoço afastando meu cabelo para o lado. Antes que eu pudesse falar algo, seus lábios estavam beijando lentamente toda a extensão do meu pescoço. - Como eu sinto falta do seu corpo assim, colado no meu. - Branden me puxou pela cintura, colando nossos corpos. Seus olhos continuavam viciantes, mas algo neles naquele momento chamava minha atenção e não era só o brilho que eles já tinham. Oh, não, havia algo de diferente neles, algo que deixava meu corpo mole e formigando da cabeça aos pés. Algo que parecia suplicar, como se eles pedissem para que meu rosto nunca saísse de sua vista, a cada dia que passasse pelo resto da minha vida - E, principalmente, de como eu tenho inveja de um dos meus amigos por poder te ter por perto todos os dias, vinte e quatro horas por dia. - ele sussurrou em meu ouvido antes de tirar o rosto da curva de meu pescoço.
Seus olhos estavam na altura dos meus e a mão que estava em meu pescoço desceu de encontro à outra que estava em minha cintura, segurando-a firme. Seu nariz tocou o meu, e eu pude sentir sua respiração quente bater em meu rosto. Não pude evitar morder meu lábio inferior ao ver sua boca a centímetros da minha, fazendo o desejo de tê-la sobre a mesma aumentasse.
Talvez eu estivesse errada sobre tudo. Talvez tudo que eu tinha vivido desde que voltara à Londres tivesse sido apenas uma ilusão para me afastar do verdadeiro porque Londres era minha cidade favorita desde que eu fui obrigada a vir morar com minha mãe. E, não, não seria por causa do Big Ben ou da amizade da Rainha com meu pai ou das festas que eu havia frequentado por toda a cidade. A minha volta à Londres tinha um motivo muito maior e só agora eu tinha percebido que um certo londrino tinha acendido a chama do amor de uma italiana como nunca alguém tinha feito antes e todas aquelas dúvidas haviam sido uma simples dor de cotovelo e burrice temporária.
Não que eu não gostasse de Ian. Oh, não, Ian é um dos seres humanos mais incríveis que eu conheci em minha vida e tinha feito com que eu me soltasse e aproveitasse um pouco mais a minha juventude como todo adolescente deveria fazer, mas não era por ele que meu coração batia demasiado.
Senti o rosto de Branden aproximar-se mais do meu, o que fez com que sua boca tocasse a minha levemente, provocando-me. Pude ver, então, um sorriso sapeca brotar em seus lábios. Coloquei-me nas pontas dos pés, fazendo com que nossas bocas se juntassem em um selinho, e segurei seu rosto com minhas mãos ao sentir sua língua passar por entre meus lábios pedindo passagem e, sem ao mínimo pensar, eu dei. E eu toquei o paraíso quando sua língua tocou a minha e explorou cada canto da minha boca do mesmo modo que fazia antes.
Havia saudade naquele beijo, aquela que pensei só eu sentia por todo esse tempo, e a mesma que nem eu sabia que ainda existia dentro. Entretanto, com Branden, era sempre assim. Quando eu pensava que estava começando a viver minha vida sem ele, seus lábios vinham me mostrar que era muito pelo contrário. Branden nunca sairia de minha vida e muito menos de dentro do meu coração. Ele corria dentro de minhas veias como um pequeno veneno fazendo com que meu sangue borbulhasse e um calor insuportável habitasse meu corpo. Mesmo que eu negasse, fugisse ou até mesmo sentisse uma pequena atração por alguém, no fim do dia, era ele. No meio da noite, era ele que invadia meus sonhos e me mostrava o quanto eu ainda o amava.
Amá-lo não era uma tarefa fácil, mas quem disse que isso realmente seria amor sem nenhum obstáculo?
Senti suas mãos invadirem minha blusa e tocarem a pele gélida das minhas costas, o que fez os pelos de todo o meu corpo levantarem-se. Suas mesmas mãos deslizaram por minha cintura, fazendo seus braços rodearem minha cintura por debaixo da blusa. Seus lábios se movimentavam com certo desespero sobre os meus explorando cada pedaço deles, enquanto nossas línguas brigavam dentro de nossas bocas e faziam com que eu agarrasse o cabelo de sua nunca. O desejo aumentava dentro de mim e não era qualquer desejo. Oh, não, era um novo desejo, um que fazia que eu quisesse que nossas roupas não tivessem onde estavam, um que fazia com que eu imaginasse suas mãos explorando por todo o meu corpo. Era um fogo que eu que subia e descia na velocidade em que meus batimentos cardíacos batiam dentro do meu peito. Oh, aquele desejo que uma garota sentia quando sabia que estava preparada para entregar-se a alguém por inteiro, mesmo quando havia prometido que nunca o faria.
Branden despertava esse desejo em mim, mesmo que eu não quisesse.
Antes que eu pudesse perder a minha total insanidade, uma pequena voz ecoou na minha cabeça, e eu podia jurar que era a voz da minha consciência. Mas, outra vez, a voz ecoou. Pude perceber que aquela voz era muito fina e irritante para ser a da minha consciência.
Era Ashley, e ela estava gritando por Branden.
Branden pareceu perceber o mesmo que eu e como havia começado terminou.
- Esconda-se atrás da arvore. - ele disse, segurando meus ombros e me olhando apreensivo.
- Eu não vou fazer isso. - falei, olhando para ele e negando com a cabeça.
- Por favor, Caroline, vai logo. - ele começou a me empurrar em direção à árvore que ficava ao lado da fonte.
- Branden! - falei, andando em direção à árvore e parei ao lado da mesma - Tudo bem, - falei, soltando-me dele - eu fico aqui atrás.
- Obrigado. - ele falou, sorrindo. Seu rosto se aproximou dos meus e seus lábios tocaram levemente nos meus.
Sorri boba ao vê-lo se afastar e me escondi atrás da árvore vendo Ashley se jogar em seus braços e beijá-lo da mesma maneira que eu havia feito antes. Senti a raiva tomar contar de meu corpo e uma vontade enorme de arrancá-la do lugar que era meu por direito. No entanto, eu percebi o quanto eu não poderia ficar chateada, nem mesmo por um segundo, pois ele não era meu namorando.
Oh, não, desde que eu havia voltado a Londres, Branden havia me ignorado. Muitas vezes ele passava pelos corredores com Ashley ao seu lado, e eu podia perceber que a volta que o braço dele dava em sua cintura apertava um pouco mais. E foi quando eu olhei para frente e vi aquelas palavrinhas, aquelas mágicas palavrinhas que acalmavam o coração aflito de qualquer garota, saírem da sua boca e elas não eram ditas para mim. Eu te amo também, Ashley . Essas seguintes palavras atravessaram meu coração levemente à medida que eram ditas por sua boca.
No fim das contas, Ian não estava errado. Ele havia me dito que Branden não passava apenas de mais um capitão do time de futebol que brincava com a novata para mostrar seu poder enquanto pegava a garota mais popular do colégio. Foi aí que ficha caiu, e eu percebi que o que aconteceu entre Branden e eu havia terminado. Simples assim. Porque, mesmo que eu não quisesse admitir, ele havia dito para ela as mesmas palavras que disse a mim minutos antes.
Senti uma lágrima descer por meu rosto, e eu tratei logo de limpá-la com a mão. Eu não iria chorar por alguém que não valia a pena e não se importava comigo. Então, aquele fiapo de esperança, que dizia que tudo na vida não era mentira, apareceu junto com a voz de Ian chamando meu nome alguns metros de onde o "Casal 20" estava parado. Ele segurava duas cervejas e estava com o rosto aflito. Pude ver seus lábios se moverem dizendo: Caroline, sua anta, cadê você? Um sorriso habitou meu rosto e, antes que eu pudesse perceber, eu estava jogando meus braços em volta do seu pescoço, fazendo as cervejas caíssem no chão, e meus lábios estavam sobre os dele em um selinho demorado.
- Pensei que você tivesse dito que éramos apenas amigos. - ele falou depois de um tempo segurando levemente minha cintura.
- Desculpe. - sussurrei, tirando os braços de seu pescoço. Ele apertou mais os que estavam em minha cintura.
- Eu não disse que eu não gostei. - ele me deu um selinho mais demorado - Vamos sair daqui?
- Vamos! - respondi. Segurei sua mão e me deixei ser levada por ele.

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