Capítulo 35

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Bati na porta da minha casa esperando que Alfred ou Mel a abrisse. Fazia três meses que eu não os via ou ouvia deles e, logo, uma saudade bateu em meu peito. Como será que eles estavam? Será que eles estavam muito chateados com minhas atitudes? Será que eles haviam me esquecido? Ou será que eles tinham sentindo minha falta?
Nesses três meses que eu passei no acampamento, eu não pensei muito nas pessoas que eu deixei aqui fora. Lorenzo e Cassie faziam questão de me manter ocupada desde o momento em que eu acordava até a hora em que eu ia dormir. Chegava até a ser patético o jeito que eles me tratavam só para não me ver triste pelos cantos, lamentando todo o mal que eu tinha feito. Mas, mesmo com toda a distração do dia-a-dia, Cassie e Lorenzo, eu podia controlar meus sonhos e eram neles que eu via o que eles queriam esconder.
Eu sei que eu sou uma boa pessoa. Eu sei que, mesmo depois de tantos obstáculos e tanta confusão, lá no fundo, eu ainda tinha algo daquela princesa estúpida que vivia sonhando em viver uma vida cheia de emoções. Foi nela que eu me agarrei para me tornar a melhor versão de mim mesma que eu podia ser. E não foi só nela, mas também no amor que todos sentiam por mim e, principalmente, na vontade de pedir perdão por tudo que eu fiz.
Alfred e Mel eram membros dessa lista. Eles eram minha segunda família e ficar longe deles doía tanto quanto ficar longe de papai e mamãe.
Lorenzo, Kyle, George e Cassie estavam atrás estava atrás de mim e podiam sentir a ansiedade que eu sentia. Kyle tinha mandado eu parar de roer as unhas pela vigésima vez desde que chegamos; havia chegado a ponto de ele bater na minha mão toda vez que eu pensava em levá-la à boca.
Quando Mel abriu a porta, segurei forte a mala que estava em minhas mãos, enquanto eu via seu sorriso desaparecer. Eu não sabia se ela estava surpresa ou chateada por tudo que eu a tinha feito passar naqueles meses em que eu fiquei em Londres antes de ir para o acampamento. Mas logo essa incerteza desapareceu quando ela me abraçou pelo pescoço, quase me sufocando.
- Meu Deus, como você cresceu! - ela me segurou pelos ombros - Nem parece que eu te vi três meses atrás!
- Você não está chateada?
- Chateada? Por que eu estaria chateada? Eu estava com saudade da minha menina. - ela me abraçou outra vez - Você perdeu peso? - ela me segurou pelos ombros outra vez, olhando-me da cabeça aos pés - Oh, meu Deus! Caroline, você está parecendo um graveto! - ela olhou para Lorenzo - O que você fez com ela? No acampamento em que você e aquele garoto a colocaram não tinha comida não? - ela falou em tom seco.
- Eu... - Lorenzo ia começar a falar quando Alfred apareceu na porta perguntando quem era.
Ele parou ao lado de Mel com uma cara surpresa.
- Caroline? - ele sorriu - Caroline! - ele me abraçou pela cintura e me rodopiou no ar - Meu Deus, menina, como eu estava com saudades! - ele me colocou no chão - Você perdeu peso?
- Que tal nós levarmos essa conversa lá para dentro? - falei.
Alfred e Mel se olharam e, depois, olharam para Lorenzo.
- Vocês não querem esperar aqui fora um instante? A casa está uma bagunça. - Mel disse, e eu podia sentir em sua voz que ela estava mentindo.
- Por que você não quer que nós entremos? Vocês estão escondendo alguma coisa? - dei um passo à frente - O que vocês dois estão aprontando?
- Nós vamos nos casar! - Alfred gritou.
- Alfred! - Mel deu um tapa em seu braço, e eu pude ver o anel de noivado em seu dedo - Você não dá uma notícia dessas em tempos como esse.
- Vocês realmente estão noivos? - perguntei, olhando para eles - Isso é o máximo! Quando vocês vão casar?
- Próximo mês, em Florença. - Mel falou, com um sorriso em seus lábios.
- Isso é fantástico! Agora podemos entrar? Eu estou cansada e preciso cair em minha cama antes do baile. - falei, passando por entre eles, andando pelo corredor.
- Caroline, espera. - Mel falou, fazendo com que eu me virasse para ela - Tem algo que nós precisamos te contar.
- Será que dá para você me contar depois que eu me jogar no sofá? - falei, virando-me para o lado e olhando para a sala. Parei no batente antes mesmo de pisar no primeiro degrau. A sala continuava a mesma, mas as pessoas que estavam sentadas no sofá fizeram com que eu ficasse parada como uma estátua.
Melanie sorriu, mesmo parecendo estar tão assustada quanto eu. James apenas estava surpreso segurando o salgadinho que levava à boca no ar. Vendo-os agora, eu podia sentir o quanto eles fizeram falta nesses meses em que eu estava longe. Mesmo que eu tivesse feito novos amigos, esquecer os velhos nunca foi uma opção.
Melanie deu dois passos para a frente, com um sorriso de orelha a orelha, mas parou subitamente quando escutou passos vindos da escada.
Virei meu rosto e meu sorriso desapareceu.
- Acho que esse terno vai servir. - ele disse, abotoando os botões do terno. Ele parecia diferente, mudado, como se fosse outra pessoa. Não sei se era eu quem tinha mudado, ou se era apenas aquele sentimento que você tem quando não vê uma pessoa por um bom tempo, mas algo nele não era o mesmo - Será que Johnny não se incomoda? Digo, afinal, é apenas um baile idiota. Não é como se eu tivesse um par mesmo. Branden Grandville, o idiota que mandou a única... - ele levantou os olhos. Eu os vi pousar sobre mim, fazendo com que ele parasse de falar.
O jeito com que ele me encarava fazia parecer que eu não estava vestindo nenhuma peça de roupa. Ele estava lindo usando um dos ternos do meu pai. Aparentava ser um terno velho, já que estava coberto de poeira, mas, mesmo assim, a beleza de Branden ficava mais destacada.
Nenhum de nós sabia como reagir. Por um longo momento, um silêncio constrangedor se formou na sala até que Cassie o quebrou e, devo ressaltar, ela o fez em grande estilo.
- Então esse foi o imbecil que fez com que você fosse parar no nosso acampamento, hein? - ela estava no corredor, apontando o dedo para Branden - Bem parecido com você, Lorenzo.
Ela olhou para Lorenzo e sorriu.
- Cassie! - eu e Mel a repreendemos - Pelo amor de Deus, menina, tenha modos! - Mel completou.
- O papo está muito bom, - Cassie ignorou Mel - ou o não papo, mas nós temos trabalho a fazer. Então, bonitão, você e seus amigos podem sair para as pessoas de verdade começarem a trabalhar?
- Cassie. - falei, dando um beliscão nela.
- Ai, Caroline. - ela massageou seu braço - Precisava beliscar tão forte?
- Da próxima vez, arranco um pedaço. - falei, olhando para ela - Desculpem. - falei, andando em direção a James e Melanie - A Cassie esqueceu todas as lições de etiqueta que eu a ensinei. Lorenzo, Kyle e George, vocês podem entrar e deixar as coisas aqui pela sala. Nós não vamos ficar muito tempo mesmo.
Lorenzo chamou os meninos com um aceno e, logo, estendeu a mão e cumprimentou Branden, que estava parado no lugar que eu estava.
- Você veio para Londres por causa do baile? - Melanie perguntou, tirando minha atenção dos meninos.
- Claro. Eu não perderia essa por nada.
- Você já tem um par?
- Aham. Meu pai vai comigo. - falei, apontando para o canto da sala, indicando onde eles poderiam colocar os equipamentos.
- Seu pai vai com você ao baile de formatura?! - Melanie gritou, fazendo com que todos olhassem para ela.
- Baile de formatura? - perguntei, confusa - Que baile de formatura?
- É, o baile de inverno. - ela pegou o convite em cima da mesa e me entregou - Não é por isso que você está aqui?
- Eu estou aqui para o baile, mas é para o baile no palácio da Rainha. - olhei para baixo, analisando o convite em minhas mãos, e não foi o cair dos flocos de neve ou as letras extremamente curvilíneas que chamaram a minha atenção, mas a pequena frase que tinha no final do convite. Nela dizia: "Com as estrelas, você andará até a supernova encontrar. 1994 stars" - Qual é o tema desse baile mesmo? - perguntei, olhando para Melanie.
- A noite das estrelas. Segundo Kelly, a organizadora, o caminho até o salão será feitos por estrelas. 1994 estrelas, ela disse. Aí você se pergunta: como ela conseguiu arrumar 1994 estrelas? - Melanie falou - Segundo ela, um homem deu a ideia logo que o tema original do baile foi destruído e ele ainda doou todas as estrelas. Bem legal, não é? - ela olhou para mim, que apenas sorri sem os dentes.
Entreguei o convite para Lorenzo, que olhou assustado para mim depois que leu o que estava escrito. Cassie arrancou o convite das mãos de Lorenzo e analisou o mesmo.
- Eu não acredito. - ela falou, olhando para mim - Você sabe o que isso significa? Alguém está te chamando para uma briga, menina. E se eu fosse você, aceitaria.
- Wow! Wow! Wow! - Lorenzo falou - Nós viemos aqui para ir ao baile da Rainha, não para um baile de formatura qualquer.
- Mas o convite é o mesmo que você me mostrou no acampamento. Isso quer dizer que quem estava me vigiando está dentro daquela escola, o que coloca todos que vão comparecer a esse baile em perigo.
- Mas nossos homens estão todos no palácio da Rainha esperando.
- Então mandem-nos para a escola.
- Você realmente acha que a Rainha mandará todos os seus homens para um colégio qualquer só porque você "acha" que o ataque será lá? Acho mais fácil o Oasis voltar a fazer shows.
- Então é isso? - Cassie disse - Nós vamos deixar o cara que está perseguindo nossa princesa Xena aqui fugir, então? Para que, na próxima vez, ele ataque o castelo e tome o reino para si?
- Não precisa tanto, Cassie. - Kyle falou.
- Pode não ser agora, mas e depois? Eles já tentaram matá-la no acampamento com mais de quinhentos novatos em treinamento e com alguns veteranos. O que você acha que eles podem fazer quando descobrirem que ela - Cassie apontou para mim - vai sair por aí distribuindo bondade sem nenhum tipo de proteção?
- E todo o treinamento pelo qual ela passou? - Lorenzo respondeu - Não valeu de nada?
- Eles invadiram seu precioso acampamento, e quase botaram fogo em mim. Você realmente acha que eles não podem pegá-la desprevenida? Pelo amor de Deus, Lorenzo, eles pegaram a mim! Imagine só o que eles poderiam fazer com a princesa aqui!
- Nós vamos protegê-la, mesmo que isso seja a única coisa que faremos quando estivermos em missão.
- Não vai ser preciso, - disse, olhando para Lorenzo - porque eu vou a esse baile. E eu vou pegar esse idiota, com ou sem vocês.
- Vocês podem ir a esse baile, mas eu vou para onde a Xena for. - Kyle disse.
- Querendo ou não, concordo com o Kyle. - Cassie falou - Eu vou para onde a Xena for.
- Se nós formos a esse baile, estaremos sozinhos. - Lorenzo disse - Se precisarmos de reforços, temos que confiar na polícia londrina e vamos precisar de toda a ajuda possível. - ela olhou paraBranden - Podemos contar com a ajuda de vocês?
- Com certeza. - James disse - Estou me sentindo em um filme policial.
Cassie rolou os olhos.
- Só existe um problema. - Melanie disse - Você precisam de um par que estude no nosso colégio para poder entrar.
- Branden está sem par. - James falou - Eu e Melanie podemos fazer o sacrifício de entrarmos separados e Caroline também não tem par, então acho que estamos bem.
- James pode entrar com Cassie, - George começou - Lorenzo com Melanie, Caroline pode ir com Kyle e eu e Branden podemos entrar pela porta dos fundos. Vai ser moleza.
- Mas é obrigatório ir com o par. Branden precisa de um de qualquer jeito. Se ele ficar sozinho pelo salão, Kelly, com certeza, irá gritar com ele.
- Então, Caroline pode ir com Branden e eu e George podemos entrar pela porta dos fundos. - Kyle falou - Ninguém vai nos perguntar por que estamos sozinhos em um baile onde ninguém nos conhece. Provavelmente, vão pensar que estamos esperando nossos pares voltarem de algum lugar.
- Então acho que está tudo certo. - Lorenzo falou - Vocês podem ficar aqui até a hora do baile? - Melanie e James concordaram. Não pude olhar para Branden, pois eu estava de costas para ele. Mas, de acordo com Kyle, que estava à minha frente, ele tinha concordado também - Então acho justo que nós, míseros mortais, descansemos até a hora desse baile.
- Eu levo vocês até seus quartos. - Mel falou, fazendo com que eu virasse para ela, podendo olhar para Branden agora.
Ele desviou o olhar para os pés. Quando Mel passou por ele e cochichou algo em seu ouvido, ele a seguiu.
- Devo ressaltar, - Cassie começou, fazendo com que eu tomasse um susto - ele não é nada de se jogar fora. Você me deixa testar?
- O quê? Testar? Do que você está falando? - perguntei, vendo Melanie e James subirem a escada.
- É, você sabe. - ela deu uma piscadela.
- Você quer ficar com o Branden? - perguntei, incrédula - Mas é claro que não.
- Por que não?
- Porque não.
- Porque não não é resposta. - eu ia começar a falar, mas ela me interrompeu - Eu sabia.
- Sabia o quê?
- Você ainda gosta dele. - ela apontou o dedo na minha direção - Oh, Deus, você ainda gosta desse idiota que te jogou naquele acampamento!
- Cassie, você sabe que não foi só isso.
- Sei? - ela cruzou os braços - Você ficou furiosa com o Lorenzo por semanas, chegou até a irritá-lo de qualquer maneira possível no acampamento e, agora, você está aqui, em frente ao imbecil que o ajudou, e não faz nada?
- E o que você quer que eu faça? Bata nele até ele sangrar? Branden e Lorenzo não foram os causadores de eu ter acabado naquele acampamento, nem mesmo essa maldição ou Ian foram! O jeito com que eu lidei com as coisas fizeram isso! Eu não me arrependo do que eu fiz. Acho até que foi bom ter feito tudo aquilo porque eu aprendi que existem consequências quando a gente vira uma vadia sem coração e sai por aí fazendo o que dá na telha, sem nem ao menos pensar em quem vai machucar no caminho! - praticamente gritei - Eu passei toda a minha vida fazendo o certo e desejando fazer algo com que eu me fizesse sentir alguma coisa, qualquer coisa que fosse, e, quando eu vim para cá, foi quando eu senti. Eu posso ter exagerado na dose e me deixado levar pela vibe, mas, pela primeira vez na vida, eu senti as consequências, mesmo que elas tenham me custado o cara que eu amo e quase a minha família e meus amigos! - respirei fundo - Eu estava sim com raiva do Lorenzo e do Branden. Na verdade, eu estava com raiva de tudo e de todos. Mas isso passou quando eu passei a sentir novamente. Você não vai entender, mas uma maldição pode mexer com sua cabeça, distorcer seus sentimentos até que não sobre mais nada de você. Faz até você se perguntar o porquê de você ter sido a escolhida.
- Eu entendo. - olhei para trás e vi Melanie atrás de mim - Na verdade, eu realmente acho que você deveria ter passado por tudo isso porque aí você poderia ser a melhor versão de você que você pode ser. E Deus sabe o quanto esperei por isso. - ela me abraçou de lado - Nós sentimos sua falta.
- Nós quem? Você e seu namorado? - Cassie disse.
- Não só nós. Branden também. - ela falou - Eu sei que você não gosta dele, mas, se você soubesse, ficaria chocada pelo que ele fez.
- Acho que não ficaria tão chocada se descobrisse que seu príncipe, na verdade, é o vilão.
- Branden nunca faria mal a Caroline. - Melanie falou, soltando-me.
- Claro que não, porque ele já fez.
- Você é novata na história. Não deveria se meter tanto como se estivesse aqui desde que tudo começou.
- Posso ser novata, mas parece que sou a única que está pensando direito. - ela aumentou o tom de voz - Vai ver você está defendendo ele porque está tramando com ele!
- Cassie! - gritei, fazendo com que as duas me olhassem, assustadas - Você poderia, por favor, dar um tempo? Pelo amor de Deus, estamos aqui em missão e eu não sei você, mas eu estou muito cansada da viagem. Como vamos ter que dançar como adolescentes, acho mais do que justo todas nós irmos descansar.
- Mas... - Cassie começou.
- Eu não estou nem aí, Cassie. Eu estou muito cansada para ficar escutando suas teorias sem nexo. Agora, se vocês me dão licença, eu vou para o meu quarto porque tenho que usar não apenas salto, mas um vestido, e isso tudo enquanto tento combater um imbecil que está tentando acabar com a minha família.
Virei-me para a escada e subi, sem nem ao menos olhar para trás. Cassie estava me dando nos nervos.
Como se não bastasse ter passado horas dentro de um avião e ter um psicopata ameaçando minha família e meu reino, eu tinha que ver Branden, a única pessoa que eu pedi ardentemente que não encontrasse enquanto estivesse aqui. Eu sentia sua falta, é claro que sentia, mas será que ele havia sentido a minha? Afinal de contas, Cassie estava certa, ele havia convencido meu pai junto com Lorenzo a me colocar naquele acampamento. No mínimo, ele me queria a milhas de distância e longe da sua vida.
No entanto, lá no fundo, uma pequena faísca de esperança dizia ao meu coração que o que ele havia feito era apenas para o meu bem, sem nenhuma intenção de me mandar para longe dele. Porque, depois de tudo que aconteceu, principalmente naquela noite antes de eu partir, ele ainda sentia o que eu sentia por ele. Até mais, se fosse possível.
Coloquei a mão no trinco e abri a porta do meu quarto. Ele continuava o mesmo, parecia que eu não tinha ficado fora por três meses. Fechei a porta e andei até a cama, jogando-me na mesma e me sentindo completa pela primeira vez.
- Droga de botão. - uma voz veio do banheiro, fazendo com que eu ficasse em pé. E como se não bastasse, minha sorte decidira deixar-me quando eu mais precisava. Porque não eram todos os dias que Branden Grandville saía do meu banheiro usando apenas uma camisa social aberta e uma calça social - Desculpe, foi costume. - ele falou - Eu vou embora. - ele disse, andando em direção à porta. Antes de abri-la, parou - Droga! - ele falou baixinho, mas eu ainda pude ouvir.
- Algum problema, Branden? - eu disse. Porém, desejava que não tivesse dito.
- James e Melanie estão no quarto, então não posso ir me trocar lá.
- Tenho certeza de que eles deixariam você entrar.
- Acho muito difícil. Se fosse comigo, eu não deixaria vo... Eu posso terminar de trocar de roupa aqui? - ele olhou para mim, fazendo com que eu me arrepiasse.
- Claro que sim. - falei, sorrindo - Essa roupa é do meu pai?
- É sim. Mel achou no guardarroupa no quarto da sua mãe e, como eu não tinha um terno, ela disse que eu poderia ficar com esse. - ele falou, tentando tirar o botão de cima - Só que esse botão não ajuda muito.
- É porque ele foi mal colocado. - falei, andando em direção a ele - Meu pai sempre reclamava desse botão, mas nunca pediu para nenhum criado ajeitar. Mamãe dizia que ele gostava de vê-la tirá-lo todas as vezes que ele usava esse terno - falei, parando à sua frente - Eu posso? - olhei para o seu rosto, agora um pouco mais próximo. Ele assentiu, e eu levei minhas mãos até o botão - É só um jeitinho de nada. - empurrei o botão, fazendo com que ele saísse - Pronto, viu? Com um jeitinho de nada, tudo se resolve.
- Até a gente? - ele disse, fazendo com que eu olhasse para ele. Seus olhos procuraram os meus e, quando acharam, fizeram com que eles ficassem focados nos dele. Eu não sabia o que era, mas um simples olhar de Branden podia dizer muito sobre ele, principalmente quando estava assim tão perto - Se você soubesse... - ele segurou em meus braços, puxando-me para perto.
- Mas eu não sei. - andei para trás, fazendo com que ele me soltasse - E também não quero saber. - levantei a cabeça - Eu só quero que tudo isso acabe. - falei, vendo-o abaixar a cabeça - Você entende, certo?
- Claro que eu entendo. - ele levantou a cabeça - Você merece um pouco de paz depois de um ano tão agitado. - ele disse, sorrindo sem humor - Eu vou embora. - ele disse, virando-se para a porta.
Mordi o lábio, desejando que ele fizesse algo mais que concordar. Eu sentia falta dos braços de Branden e, principalmente, dos seus lábios. Porém, eu não iria admitir isso nem em um milhão de anos, e nem na frente dele. Mas acho que Branden pensou o mesmo porque, no segundo seguinte, ele fechou a porta que tinha acabado de abrir e se virou para mim. Eu juro que tentei segurar o sorriso, mas, mesmo assim, ele fugiu de meus lábios. E, quando eu menos esperei, seus braços estavam rodeando minha cintura e seus lábios estavam sobre os meus.
Senti sua língua pedir passagem e eu a dei, deixando-a tomar conta da minha boca, enquanto em me agarrava aos seus cabelos. Seus braços continuavam a me apertar contra seu corpo, deixando que a distância entre nós fosse mínima e meu tórax fosse esmagado contra o dele. No momento seguinte, em uma tentativa de Branden de me puxar mais um pouco, nós nos desequilibramos e acabamos caindo na cama. Sorri entre os lábios, fazendo com que ele sorrisse também e mordesse meu lábio inferior.
Abri meus olhos, encarando os dele. Ele deu um selinho demorado em meus lábios e sorriu, fazendo com que eu sorrisse também.
- Caroline. - ele começou, mas eu o interrompi.
- Shiu! Não fala nada. - coloquei meus dedos em seus lábios - Vamos fingir que as coisas entre nós não são tão complicadas e vamos apenas aproveitar o momento. - falei, passando a mão em sua bochecha - Vamos fingir que somos um casal normal, pelo menos, por algumas horas. Aposto que o mundo lá fora não se importa.
- Tudo bem. - falei, vendo-o sorrir.
Branden se levantou em um pulo e andou até a porta.
- Branden! - eu o chamei enquanto me sentava na cama - Aonde você vai?
- Bem, eu vou para o meu quarto. Isso não é hora de um homem estar no quarto de uma garota. Seu pai, provavelmente, não aprovaria.
- Para o inferno com isso. - falei, levantando-me da cama e andando até ele - Não tem ser humano algum que me impeça de passar essa noite dormindo em seus braços, Branden Grandville. - segurei em sua mão - Vem para a cama, vem! - falei, chegando mais perto e lhe dando um selinho.
- Seu pedido é uma ordem. - ele me pegou nos braços e caiu com tudo em cima da cama. Deitou-se e me puxou para deitar-me em seu peito, ao mesmo tempo em que eu deslizava uma de minhas mãos por sua barriga, abraçando-o pela cintura, enquanto ele acariciava meu braço.
O mundo lá fora poderia explodir, mas, nessa noite, eu iria apenas pensar em mim.

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