Capítulo 23

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- Um dia você vai cair daí de cima.
- Lorenzo! - falei, colocando a mão em meu coração - Você quer me matar? - continuei olhando para a sacada do meu quarto, onde ele estava.
- Você deveria estar sentada nesse telhado? - ele perguntou, apoiando-se na grade.
- Não. - falei, olhando para frente e admirando o gramado do palácio.
Eu estava sentada no telhado ao lado da sacada do meu quarto, onde o vento batia e parecia levar todo o aperto dentro do meu peito. Da sacada, podia se sentir o vento, mas não o gosto da liberdade. Fazia uma semana, a mais longa semana de toda a minha vida. Todos ainda estavam contentes com a volta da minha memória, principalmente os criados que agora não teriam que ficar repetindo seus nomes toda vez que eu fosse falar com eles. Mas nada superava a felicidade dos meus pais em saber que Lucy e eu finalmente tínhamos nos entendido, até agora. Estava tudo bem, ou, aparentava estar bem, pois algo dentro de mim ardia do lado esquerdo, algo que não me deixava dormir.
Algo não. Alguém.
Um erro. Essas palavras ficavam batendo dentro da minha cabeça a cada segundo que meu coração batia, ardendo dentro do peito. Por que diabos Branden diria algo daquele jeito para mim? Ele sabia o quanto significava para mim e sabia o quanto eu o odiaria por aquela simples palavras saírem de sua boca, então por que ele dissera aquilo sabendo as consequências?
Sete dias foram o suficiente para meu coração aceitar o que minha consciência já sabia que aconteceria: Branden havia seguido em frente. E seguido em frente sem mim.
Branden era um garoto que gostava de sair e de se divertir com os amigos; era um jovem britânico normal e, com uma namorada como eu, não poderia nem ao menos aproveitar uma festa sem que alguém caísse morto segundos depois. Era difícil e extremamente doloroso, mas era assim a vida para alguém que carrega uma maldição onde a única solução é matar a pessoa que ama. Então eu preferia viver sozinha para o resto da minha vida a matar a pessoa que amo.
Eu nunca me perdoaria por isso. Eu o deixaria ser feliz, mesmo que fosse para a minha própria infelicidade.
- Você deveria estar aqui?
- Ouch! Recuperou a memória mesmo, já começou a ficar ignorante outra vez.
- Desculpe. - abaixei a cabeça, encarando o celular em minhas mãos.
- Você não vai ligar para ele?
- Ele deveria ligar para mim, Lorenzo. - falei, olhando para ele - É o meu aniversário.
- Vai ver ele esqueceu...
- Ele não esqueceu. O James e a Melanie estavam na escola quando me ligaram para desejar parabéns. Ele sabia, só não quis ligar.
- Ele...
- Não tente arrumar uma desculpa para ele. - falei, levantando e me virando para Lorenzo - Se ele realmente gostasse de mim, não teria falado aquelas barbaridades para mim. Foi apenas um jogo para ele, e eu já aceitei isso.
- Você não pode guardar esse ódio todo dele em seu coração. Vai te matar aos poucos.
- Eu já o perdoei. - falei, estendendo a mão para ele, que me ajudou a descer do telhado e ir para a sacada - Não me fará bem guardar rancor para sempre. E eu não posso guardar rancor de uma pessoa que só quis viver sua vida com a certeza de que viverá mais um dia.
- Caroline...
- Essa é minha maldição. Maldição, o nome já diz tudo. - falei, andando até meu quarto.
- Oh, meu Deus, você ainda não está vestida. - Marta entrou no meu quarto - Você sabia que os convidados já estão começando a chegar? Vamos, mocinha, para o banho agora! - ela me empurrou em direção ao banheiro, virando-se para Lorenzo em seguida - E você saia daqui, vá se arrumar.
- Sim, general. - ele respondeu, batendo continência.
- Que audácia. - Marta falou, jogando um pincel nele - Saia daqui, seu pirralho.
- Já estou indo, mãe. - ele falou, correndo do meu quarto.
- E você? - Marta se virou para mim - O que está esperando para tomar seu banho? Agora, vamos. - ela me empurrou de volta para o banheiro.

Marta havia feito o seu trabalho "transforme uma princesa que se veste como um mendigo em uma verdadeira princesa" em menos de uma hora.
Eu podia ver em seu rosto que ela estava se divertindo com isso, principalmente quando fazia questão de lembrar o quanto ela cuidou de mim sem escutar reclamações quando eu estava sem memória. E eu fazia questão de rebater dizendo-lhe que eu estava em um momento em que eu não podia argumentar - eu estava sem memória e não me lembrava o quanto isso era irritante e entediante. Mas eu sabia que Marta cuidava de mim como cuidava da filha que ela nunca teve, por isso agradecia todas as vezes que ela me tratava como se fosse sua.
Marta teve a má sorte de só ter filhos homens quando ela queria filhas mulheres. Ela sempre disse que podia ter tido pelo menos uma para que ela aplicasse o que foi lhe ensinado de geração a geração, mas, em compensação, os filhos de Marta eram rapazes extremamente inteligentes e extremamente gatos - sorrisos de matar, olhos vibrantes e chamativos e um corpo de dar inveja a qualquer velhote com barriga de cerveja. E, o principal detalhe, todas as garotas estavam encantadas por eles.
I figli di Martha*, eram assim que eles eram conhecidos. Não eram príncipes, mas paravam o trânsito e tinham milhares de candidatas. Eu poderia ser uma candidata, se meu coração não pertencesse a outro.
Argh! Droga.
Aqui estava eu, uma semana depois ainda, pensando nele. Eu não podia culpá-lo por ter me abandonado, pois seria totalmente injusto julgá-lo por querer ter uma vida normal, sem uma namorada que carregava consigo um carma ruim. Eu simplesmente aceitaria o fato de que ele só estava sóbrio o suficiente para fazer o que qualquer um faria em seu lugar: fugir e esquecer. Era o que qualquer um faria; foi o que ele fez.
E eu não podia odiá-lo, nem que fosse por uma fração de segundo, nem por um momento sequer, pois eu sabia, dentro do meu peito, que não era permitido. Nem com todo o esforço do mundo, meu coração permitiria que isso acontecesse, não quando o que ele sentia era totalmente o contrário. Eu não era mais a garota novata que teve a sorte de sair com o cara mais popular da escola, eu era agora a princesa que havia se apaixonado perdidamente pelo o garoto que sabia de seu segredo e não havia fugido - até agora.
Mas deixe-me corrigir algo. Paixões são passageiras, coisas rápidas, que não teriam importância. Eu sabia que o que eu sentia por Branden era algo totalmente diferente. Era aquela terrível vontade de tê-lo ao meu lado todo o tempo e acordar vendo seu sorriso tímido, ter seus braços ao redor de minha cintura e ter seus lábios colados aos meus. Isso não era paixão, era algo maior que fazia meu peito doer só de pensar em não tê-lo comigo. Era um sentimento louco que muitos provavam ao longo de sua vida, mas poucos tinham a sorte de ser correspondidos. Aquilo era amor.
E eu sabia que dias, meses e anos podiam passar, eu poderia já estar casada com filhos e eu nunca conseguiria esquecer Branden. Porque eu sei que ele é o único ao qual meu coração iria pertencer, e eu não iria esquecê-lo. Eu guardaria cada momento que passamos juntos dentro da minha memória para que elas habitassem minhas noites de sonos e transformassem tudo o que eu desejava em realidade. Pelo menos uma vez, eu iria tê-lo para mim, só para mim.
O amor é uma virtude, mas um amor correspondido é um milagre.
Marta terminou de arrumar os últimos detalhes do meu vestido e fez minha maquiagem - simples e que não chamasse muita a atenção, pois ela sabia que eu odiava. Eu estava pronta em menos de duas horas, e só faltavam meus sapatos, que estavam ao lado de minha cama.
Sem querer, meus olhos passaram de meus sapatos para um ursinho que se encontrava em cima da cama. Ele tinha seu cheiro e, nessa última semana, eu havia dormido abraçada a ele.
- Você está linda. - Marta falou, olhando para meu reflexo no espelho.
- Graças a você, Marta. - falei, levantando-me - Tenho que admitir, você faz milagres. Transformar-me em uma princesa outra vez depois de uma temporada de plebeia em Londres deve ter sido uma tarefa difícil.
- Você é linda, Caroline. - ela falou, segurando em minhas mãos - Eu só realcei isso.
- Obrigada, Marta. - dei um abraço nela - Obrigada por tudo mesmo.
- Não foi por nada, querida. - ela me soltou.
- Filha? Você já está pronta? - meu pai entrou em meu quarto - Nossa! Você está linda!
- Obrigada, senhor. - falei, fazendo reverência.
- Você cresceu tão rápido. Parece que foi ontem que a segurei em meus braços.
- Não fica assim, pai. - falei, andando em sua direção e abraçando-o pela cintura - Eu sempre serei sua garotinha.
- Não, filha, - ele se afastou - você agora é uma mulher.
- Uma linda mulher. - minha mãe apareceu ao lado do meu pai - Você está linda.
- Tudo graças a Marta. - falei, olhando para ela - E, falando em Marta, o que você ainda faz aqui? Vá se arrumar.
- Para quê?
- Você é minha convidada. Vamos, Marta, você tem que estar linda no meu aniversário.
- Obrigada, Sua Majestade.
- Chame-me de tudo, Marta, menos de Sua Majestade. Eu me sinto velha que nem meu pai.
- Ei! - meu pai protestou, fazendo com que ríssemos. Marta deu um beijo no topo da minha cabeça, saindo logo em seguida.
- Onde está Lucy?
- Ela disse que foi esperar seu acompanhante.
- Ela tem um acompanhante? - perguntei surpresa.
- Foi isso que ela disse antes de sair.
- Nossa! Por essa eu não esperava.
- Vamos, então? - meu pai perguntou, estendendo os braços para mim e minha mãe.
- Com todo o prazer, senhor Jonathan. - falei, colocando minha mão na curva de seu braço.
Meu pai nos guiou pela escada que dava até a sala, e eu jurei ter visto olhares significativos durante o percurso que fazíamos até a escada que dava até o gramado, onde estavam todos os convidados.
- Vossa Majestade, o rei Jonathan com sua linda esposa, Emily, e sua filha, aniversariante e princesa, Caroline. - o guarda anunciou nossa chegada, e todos os convidados pararam para ver-nos descer a escada. Mas os convidados eram o de menos, perto do que meus olhos conseguiam ver.
Tirei meu braço da curva do braço de meu pai e corri em direção à ela, abraçando-a o mais forte possível.
- Wow! Recepção calorosa essa. - Melanie falou, enquanto eu a esmagava em um abraço.
- Eu pensei que vocês não viriam. - falei, separando-me dela.
- E perder os quitutes? - James perguntou, colocando alguns quitutes, que estavam em cima da mesa, em sua boca.
- Ai, James, seu idiota. - dei um empurrão em seu ombro e o abracei - Eu também senti sua falta.
- Eu também senti. - ele me soltou - Nós trouxemos um presente para você. Está lá no seu quarto.
- Verdade? O que é?
- Não vamos dizer. - Melanie falou.
- Fala, Melanie, por favor.
- Não, é surpresa.
- Diz, por favor.
- Nossa! Como você é chata. Não digo e ponto. - Melanie falou, cruzando os braços.
- Você é a pior melhor amiga do mundo.
- Não sou não. Eu vim para o seu aniversário em semana de aula.
- Hoje é sexta.
- Mas eu vim e ainda trouxe meu lindo namorado. - ela o abraçou pelo pescoço, e eu abaixei a cabeça - Ele não tem ido à escola.
- Eu não quero saber, Melanie.
- Ele não anda mais com a gente.
- Eu não me importo, Melanie. Ele escolheu assim.
Melanie sabia do que eu estava falando. Logo que recuperei a memória, uma semana atrás, eu contei a ela tudo que havia acontecido desde que eu havia chegado a Florença - desde minha briga com Lucy até a volta da minha memória - aos dias atuais. Melanie escutou tudo sem me interromper e, depois de escutar as barbaridades que Branden tinha me dito, ela tentou me consolar ao máximo. A única coisa que eu pude fazer foi escutá-la e pedir que ela nunca mais tocasse no nome dele.
- Tudo bem. - ela disse, levantando as mãos - Você não deveria cumprimentar os convidados?
- Você tem razão. Volto em um minuto. - falei, indo em direção ao local onde alguns convidados se encontravam.
Cumprimentei a todos que me desejaram feliz aniversário. A maioria dos convidados eram amigos de meu pai, membros da nobreza para ser mais precisa, mas ainda podia se ver os trabalhadores do castelo que animavam a festa com sua enorme alegria. E era deles que eu mais gostava - eles me recebiam com abraços calorosos e ainda tiveram a atenção de se juntar algum dinheiro para comprar um presente para mim, muito diferente de alguns nobres que vinham apenas para reclamar da festa quando chegassem em casa.
Papai sempre dizia que quando eu era criança fugia para a cozinha apenas para observar os criados trabalharem. Ele dizia que eu odiava a atenção que me davam e sempre fugia para cozinha para ser tratada como um deles. Eu me sentia segura lá; talvez fosse o único lugar que eu me sentia segura nessas festas, onde a atenção era virada para mim.
- Olha quem apareceu, rapazes, a nossa querida princesa. - John falou - Façam referência, seus idiotas. - ele continuou, e todos o obedeceram.
John era o filho mais velho de Marta e, acompanhado de Lorenzo, Marcus, seus irmãos, e mais alguns rapazes, formavam o time de futebol da universidade de Florença. Lorenzo era o mais próximo de mim, pois passava mais tempo comigo por trabalhar no castelo e ter sido criado junto comigo.
- Deixe de baboseira, seu besta. - dei um empurrão nele - Eu já disse para vocês me tratarem como se eu fosse uma de vocês.
- Se eu fosse você... - a fala de Lorenzo foi interrompida pelo cajado do criado que anunciava as entrada de membros importante da realeza. Lorenzo estava com os olhos arregalados, fazendo a curiosidade tomar conta de mim.
Virei meu rosto na direção da escada, sentindo a curva do sorriso que se encontrava em meu rosto se desmanchar.
- A princesa Lucy com seu acompanhante, Branden Grandville.
Meus olhos piscaram algumas vezes para ter certeza que aquilo não era uma ilusão ou coisa da minha cabeça. Lucy estava com um sorriso estampado em seu rosto, enquanto Branden estava com a expressão séria, quase parecendo que ele não queria estar aqui.
Lucy vestia um vestido branco e longo, enquanto Branden vestia um terno, mas seus pés calçavam coturnos, em vez de sapatos para festa.
Minha respiração parou quando seus olhos encontraram-se com os meus. Meu coração batia devagar dentro do peito, não acreditando no que meus olhos presenciavam. Eu estava estática no mesmo lugar, apenas observando Lucy andar em minha direção agarrada no braço de Branden. Acidentalmente, uma lágrima desceu por meu rosto e logo tratei de limpá-la. Eu não me faria de frágil.
- Parabéns, minha irmãzinha. - Lucy falou, abraçando-me forte - Que você seja muito feliz. - ela se separou de mim.
- Obrigada, Lucy.
- Desculpe o atraso. Eu ainda tive que buscar meu acompanhante no aeroporto. - ela se pôs ao lado de Branden - Espero que você não se importe.
- Não. Eu não me importo nem um pouco. - falei, olhando para Branden e depois para ela - Espero que aproveitem a festa. - falei sarcástica.
- Caroline... - Branden começou.
- Não, Branden, eu entendi. - interrompi-o - Eu desejo, do fundo do meu coração, que vocês sejam felizes. - dei um sorriso nervoso.
- Que bom que você entende. - Lucy olhou para ele e depois para mim - O seu apoio era o que nós precisávamos.
- Hora de ser tratada como os outros, princesa. - John se intrometeu à nossa conversa antes que eu desabasse em lágrimas.
- O que...
John me pegou no colo, arrastando-me para a pista de dança. Tocava uma das minhas músicas preferidas e que marcou um dos melhores momentos da minha vida - quando John, o mesmo que me carregava agora, havia me chamado para dançar em meu aniversário de quinze anos. Essa mesma música tocava, e ele me pediu em namoro logo em seguida.
(I've Had) the Time of My Life era a nossa música. Mesmo que dois meses depois nós decidimos terminar e ser amigos, nada mudaria o fato de que John havia sido o melhor namorado que eu já tive.
- Você lembra? - ele perguntou, colocando-me no chão.
- Mas é claro que lembro. - respondi, deixando-o me guiar de acordo com o ritmo da música.
- Então aquele é o babaca?
- Que babaca?
- O babaca pelo qual você está apaixonada.
- Pode-se dizer que sim.
- E o que deu errado?
- Isso é uma pergunta que nem eu tenho a resposta. - ele me rodopiou.
- Partir para outra faz parte da vida, mas pegar sua irmã já é sacanagem.
- Eu não me importo, John. Não mais. Se isso fará Lucy feliz, que deixe como está. Hoje não é dia de desanimar, hoje é dia de felicidade.
- Por que nós não namoramos mesmo?
- Porque nós decidimos ser só amigos.
- Era estranho beijar alguém da realeza.
- Agora meu título é o culpado do término do nosso relacionamento?
- Nossa amizade é a culpada do término do nosso namoro. Eu confiava a você todos os detalhes da minha vida, e isso não estava certo.
- Mas eu agradeço por tudo, sabe? Se eu pudesse escolher viver outra vida, eu escolheria essa. Eu não tenho do que reclamar.
- Com a maldição inclusa?
- Do jeitinho que ela é, sem mudar nada. - ele me rodopiou outra vez - A vida não é feita só de coisas boas. - a música parou, e todos aplaudiram - Eu vou buscar uma água. - falei, separando-me dele e apontando para a mesa de refrigerantes.
- Tudo bem, mas não me abandone. Eu não sei se consigo viver sem você.
- Idiota! - falei, andando em direção à mesa de bebida.
- Caroline? - Marta parou em minha frente, interrompendo que eu continuasse.
- Diga, Marta, minha linda.
- Você lembra daquele doce que eu fazia para você quando você era pequena?
- Aquele tubinho de chocolate recheado com morango?
- Esse mesmo.
- Lembro sim. Eles eram deliciosos.
- Eu fiz alguns para você, estão lá na geladeira.
- Eu não acredito. Eu posso ir buscar?
- Se você não mostrar ao seu pai.
- Obrigada, Marta. - falei, abraçando-a.
Segui meu caminho agora em direção à lateral do castelo, onde ficava uma escada que dava direto para a cozinha. Andei o mais devagar possível para não chamar atenção, principalmente de John, que dividia essa pequena obsessão pelos tubinhos de Marta comigo.
- O que você fez não tem perdão! - escutei uma voz gritar. Eu reconhecia aquela voz, era a voz de James - Vir no aniversário da Caroline com a irmã dela depois da cagada que você fez foi o auge da falta de respeito, Branden!
Aproximei-me um pouco mais, podendo ver os dois a apenas alguns metros de mim.
- James, por favor, me entende.
- Te entender? Eu não posso conhecer a Caroline por muito tempo, mas eu sei que ela nunca faria nada como isso com você.
- Você acha que eu tive escolha?
- Sempre há uma escolha.
- E se eu tivesse escolha, eu escolheria ficar com a Caroline. Acredite, eu a escolheria sem dúvida alguma, mas eu não posso, eu preciso protegê-la. - ele abaixou a cabeça.
- E ficar com a Lucy tem o que haver com isso?
- É complicado, James. Eu não posso falar disso.
- Seja homem, Branden. - James deu um empurrão nele, e eu abafei um grito de dor - Pelo menos, uma vez em sua vida, admita que você brincou com a única menina que realmente se importou com você. Você é um covarde, e eu não sei como eu fui virar seu amigo. Você...
- Eu a amo! - Branden interrompeu James - Eu a amo e por isso estou fazendo todo esse showzinho. É por isso que eu vim até aqui com a Lucy. Será que você não vê, James? Será que você não percebeu? Eu amo aquela garota e, desde que eu saí dos enormes portões desse palácio, eu desejei voltar e dizer o tanto que eu a amo e gritar para o mundo que ela seria minha para sempre. Mas às vezes quando se ama, você tem que pensar nos outros ,em vez de você. Eu preferiria morrer a ter que ver a Caroline machucada, e esse foi o único motivo por eu ter mentido para ela. Ela corre perigo e, por amá-la tanto, eu tenho que ficar o mais longe possível dela. Eu estou pela primeira vez amando e nem ao menos posso dizer a ela.
Uma lágrima desceu por meu rosto e tocou meus lábios, que sustentavam aquelas palavras que saíam da sua boca com um sorriso. Ele me amava, e não tinha sido uma alucinação ou um sonho que eu estava vivendo. Era a realidade, era a mais pura realidade.
Minha respiração acompanhava meu coração em um perfeita sintonia. Os dois estavam acelerados como nunca antes, e minhas pernas estavam fracas. Eu sentia que, a qualquer momento, eu poderia cair ali mesmo, mas eu cairia feliz. Os meus ouvidos haviam escutado as palavras que qualquer garota queria ouvir, e eram palavras sinceras, que apenas um coração que estava amando poderia reproduzir com toda a sinceridade através de um simples par de palavras.
Oh, Deus, ele me ama.
Ele me ama.
E-L-E M-E A-M-A.
- Bem, você já disse. - James fez com que eu saísse do meu transe quando apontou para mim, fazendo Branden olhar para mim - Eu acho que ouvi a Melanie me chamar. - ele começou a andar até a minha direção - Vou ver o que meu amor quer.
James passou com mim e murmurou um Boa sorte e seguiu seu caminho. Minha cabeça continuava abaixada, e eu podia sentir minhas bochechas queimarem.
- Eu te trouxe um presente.
- Verdade? - perguntei, levantando a cabeça e olhando pela primeira vez em seus olhos.
- Se você tivesse deixado, eu teria lhe dado logo quando cheguei. - ele começou a andar em minha direção.
- Você estava muito entretido, e eu não queria atrapalhar.
- É para você. - ele parou em minha frente e estendeu uma caixa de veludo azul - É um cordão, eu comprei em uma loja vintage. Eu sei o quanto você gosta dessas coisas.
- Obrigada. - falei, abrindo a caixa e vendo o colar que estava lá - É lindo. Você pode colocar em mim? - perguntei, estendendo o cordão a ele.
- Claro.
Ele pegou o colar de minhas mãos, e eu me virei de costas para ele, afastando meu cabelo. Ele passou o cordão por cima de minha cabeça, fechando o feixe.
- Obrigada. - falei, virando-me para ele e dando de cara com seu rosto a centímetros do meu.
Seu nariz tocou o meu, e eu automaticamente fechei os olhos, sentindo sua respiração bater em meu rosto e logo seus lábios tocarem os meus. Suas mãos rodearam minha cintura, puxando-me para mais perto e colando nossos corpos, enquanto minhas mãos soltavam a pequena caixa de veludo e travavam o caminho de seus braços até seu cangote, entrelaçando meus dedos em seus cabelos. Sua língua passou por meus lábios, fazendo-me entreabri-los e deixando sua língua tocar a minha, o que causou uma pequena corrente por meu corpo inteiro e fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem involuntariamente.
Sua língua explorava cada canto da minha boca e ainda estava sincronizada com a minha como em uma perfeita valsa - sem erros, sem paradas. Eu sentia como se todo o meu corpo relaxasse; minhas pernas estavam fracas e parecia que a única coisa que me sustentava eram seus braços, que seguravam minha cintura fortemente, como se nunca quisesse que eu fosse embora. Mesmo que eu fosse obrigada, eu não conseguiria, pois em seus braços era o único lugar em que eu me sentia segura, protegida e totalmente anestesiada.
Era assim que o amor era. Essa estúpida necessidade de sentir cada pedaço do corpo do outro, podia ser em um beijo, em um abraço ou apenas em um aperto de mão, apenas para senti-lo, pois o amor tornava o mundo miserável em que vivemos um lugar decente de se viver, um lugar melhor. O amor causa isso nas pessoas; o amor estava causando isso em mim, e eu não queria que fosse embora nunca mais. Porque amar alguém, mesmo que não seja recíproco, é a melhor coisa do mundo. É o que impede o ser humano de ser um total robô e o transforma em um ser com sentimentos, sendo eles ruins ou bons. É o motivo do mundo girar, de cada ser humano ter nascido; era o motivo de filmes românticos fazerem sucessos e músicas melosas serem as melhores. Amor é o que todos procuram, é que todos um dia esperam encontrar para sua felicidade ser completa, para que aqueles calafrios, sorrisos bobos, sonhos estúpidos e pequenas lembranças com aquela pessoa, que fazem um sorriso nascer em seu lábio, fazerem sentido.
O amor não faz sentido, não para aqueles que não amam. Mas para aqueles que o sentem correndo em suas veias, é um sentimento impossível de se largar.
O ar de meus pulmões havia sumido e, por mais que eu não quisesse largar dos lábios de Branden, eu tinha ou iria morrer.
Separamos nosso lábios e apenas podia se escutar o som alto que vinha do outro lado do castelo.
- Eu te amo. - falamos ao mesmo tempo.
- Eu disse primeiro. - Branden falou, dando-me dando um selinho.
- Onde fica seu cavalheirismo, Branden? - falei, cruzando os braços.
- Eu realmente disse primeiro. Não para você, mas para o James.
- Essa não vale. - falei, dando um empurrão em seu ombro.
- Desculpe por ter mentido quando você estava sem memória. Eu não queria, mas foi preciso. Eu preciso te proteger.
- Proteger? Proteger do quê? - falei, separando-me dele.
- Isso não é fácil de se falar. E não é hora, nem lugar. - ele abaixou a cabeça.
- O que é tão grave que você não pode falar?
- É sobre sua irmã, Caroline. - ele levantou a cabeça - A Lucy, ela...
- Caroline? - Branden foi interrompido por John, que estava atrás de mim. Virei-me imediatamente para ele - Seu pai está te procurando e ele disse que é urgente. Eu estou atrapalhando algo?
- Está sim. - Branden deu um passo em direção a John, ficando ao meu lado.
- Algum problema, britannico?
- Calma, rapazes. - falei, empurrando cada um para o lado - Onde meu pai está?
- Ele está na biblioteca.
- Tudo bem, eu vou ver o que ele quer.
- Eu vou te esperar aqui. - Branden falou, segurando meu rosto e me dando um selinho demorado.
- Tudo bem. - falei, andando de costas e olhando para os dois - Não se matem.
Subi as escadas que davam para a cozinha e atravessei quase correndo o corredor, já que essa cozinha me dava calafrios à noite. Continuei meu caminho até a biblioteca e escutei soluços altos vindo da mesma. Apressei meu passo e entrei na biblioteca com tudo.
Minha mãe estava sentada no sofá com as mãos em seu rosto, enquanto meu pai a consolava.
- O que está acontecendo aqui? - perguntei, olhando para minha mãe.
- Você deve ser a Caroline. - uma mulher, que estava parada ao lado da prateleira de livros antigos do meu pai, falou. Ela vestia um vestido de festa, e seus cabelos soltos encaracolados e ruivos destacavam seu rosto branco, quase pálido.
- Sou sim. Quem gostaria de saber?
- Eu sou Germana, sou irmã de Greta.
- O quê? Guardas, prendam-na. - falei, apontando para ela e olhando para Lorenzo, que estava parada ao lado da porta.
- Acalme-se, Caroline. - ela falou - Eu estou aqui para ajudar.
- Sua irmã já tentou isso e me deu uma cicatriz de presente, obrigada.
- Greta nunca ajudou sua família. Ela tentou ao máximo destruí-los.
- Do que você está falando?
- Eu estou aqui para contar a verdade sobre você, sobre o seu destino e sobre a sua maldição.
Meus olhos arregalaram-se, e eu olhei diretamente para ela.
- Como você sabe sobre minha maldição?
- Como eu não poderia saber? Minhas descendentes a jogaram em você.
- Espere um segundo. Você é tia de Branden?
- Vamos dizer que uma prima distante, muito distante. A mãe de Branden se mudou para Londres para ficar ao máximo longe das "loucuras" da família.
- Eu faria o mesmo. - sorri sem humor - Mas a senhora ainda não me disse o que quer comigo, já que não quer nos destruir.
- Você conhece a história da sua maldição?
- Conheço.
- Você poderia me dizer como é?
- Mas você...
- Apenas me diga. - ela me interrompeu.
- Uma mulher que não conseguiu o amor do rei amaldiçoou todas as descendentes mulheres dele, dizendo que todo homem que ela amasse iria morrer, a não ser que um descendente dela morresse. Aí a maldição iria ser quebrada.
- Onde exatamente está isso?
- No livro de Charles P. James. Ele era um escritor muito famoso da época e escreveu sobre o mistério da família Linford logo quando um garoto, que tentou fugir com a princesa, morreu.
- Você poderia vir até a mesa?
- Senhora, eu não preciso de uma aula sobre o meu toque de recolher.
- Meu Deus, garota, você tem um gênio difícil.
- Obrigada.
- Caroline, deixa de interrompê-la. - Lorenzo falou furioso.
- Desculpe. - falei, andando até a mesa.
- Você reconhece esse livro? - ela apontou para o livro, que estava à minha direita.
- Sim. É o livro de Charles P. James, onde contém a maldição. Uma edição mais nova usada em aulas de Literatura.
- Está vendo esse outro? - ela apontou para o livro que estava do lado esquerdo. Era um livro velho, parecia bem antigo - Leia o que está escrito na capa.
- Mezzanotte. Prima edizione. La storia del bene e del male, la sorella non avrebbe dovuto nascere. Charles P. James. (Meia noite. Primeira edição. A história do bem e do mal, a irmã que não deveria ter nascido. Charles P. James.) O quê? - perguntei, olhando para ela. Ela ignorou minha pergunta e pegou o livro, começando a lê-lo:
- Rosalie era uma mulher de muito rancor no coração, principalmente quando se tratava de Alexander, o homem que ela sempre amou desde pequena. Então Rosalie, com toda a amargura de seu coração, invadiu o castelo do rei e de sua esposa grávida de nove meses e disse as seguintes palavras: "Toda mulher que nascer descendente do rei vai conhecer o bem e o mal, e terá ter que sacrificar um bem maior. Nascerão duas de suas meninas; a primeira carregará todos os sentimentos ruins: raiva, dor, ódio, amargura, inveja e ira. E a segunda trará consigo todos os sentimentos bons: felicidade, compaixão, ternura e bondade. Mas, um dia, elas terão que se enfrentar. Quando as duas atingirem idade suficiente para se entregar totalmente ao amor, e as palavras "eu te amo" saírem de suas bocas, elas terão que lutar. E a segunda terá que matar a primeira para que os lobos a libertem do seu castigo da meia-noite. Se ela não o fizer, a primeira trará a escuridão e o sofrimento para todo o reino, até que não sobre mais nada. Mas, se ela o fizer, terá que conviver com os sentimentos ruins dali para frente." E, ali mesmo, a rainha deu à luz uma menina e, um ano depois, à outra. E, então, ela soube que a maldição havia se concretizado; ela iria conhecer o bem e o mal e teria que sacrificar um bem maior, para o bem do seu reino. - ela fechou o livro e o colocou de lado.
Meu pés pareciam não tocar o chão, e meus joelhos fraquejaram logo que o livro foi fechado em meu rosto, fazendo-me sentar na cadeira que estava atrás de mim. As palavras daquela mulher ainda estavam sendo digeridas pela minha mente.
Eu não queria acreditar. Eu não podia acreditar. Minha visão começou a ficar embaçada, e as lágrimas começaram a rolar por meu rosto.
- Isso... Isso não pode ser verdade, esse livro é uma farsa. - gaguejei, olhando para ela.
- Desculpe, mas não é. - ela se sentou à minha frente.
- Mas as edições seguintes... Elas não mostram nada disso. Como, em anos, nada disso apareceu nos outros livros?
- O rei não queria que os outros soubessem da existência dessa maldição. Quando ele soube que Charles, ex-guarda do palácio, iria escrever sobre o que ele havia presenciado naquela noite, o rei pegou a única cópia que falava da verdadeira maldição e a guardou na biblioteca, onde apenas ele e a rainha saberiam onde estava.
- E como você sabe da existência desse livro?
- Minha mãe costumava contar essa história para eu e minha irmã dormirmos. Quando descobriu que era verdade, ela nos contou tudo, até sobre o livro.
- Mas por que você não apareceu antes? Por que esperar tanto tempo?
- Eu venho observando o castelo faz pouco tempo. Lorenzo, John, Marcus e Marta me ajudaram.
- Você sabia? - perguntei, olhando para ele.
- Sim. - ele andou até minha direção e se agachou ao meu lado - Eu queria te contar, mas nós precisávamos esperar até ver se a maldição se concretizaria, e ela se concretizou.
- O que isso significa?
- Que você terá que cumprir o que a maldição diz.
- Mas como você sabe que eu sou a boazinha? Eu nem sou boazinha.
- Você faz tudo pelo seu reino. Você deu uma festa de aniversário para uma garota de dez anos, você se mudou para Londres para cuidar de sua mãe e você passa mais tempo preocupada com o povo de Florença do que com você. - Germana se levantou e começou a falar - E hoje, você abriu mão do único cara a qual você estava disposta a dizer aquelas três palavrinhas para ele ficar com sua irmã. Mesmo sabendo que isso traria uma dor enorme em seu coração, você preferiu à dor a infelicidade dela.
- É errado querer a felicidade dos outros? - perguntei, levantando-me.
- Errado não é, mas quando impede a nossa, às vezes, temos que nos colocar à frente. - ela segurou minhas mãos - Você sabe que o que eu estou falando é verdade. Dentro do seu coração, você sabe que eu tenho razão.
- Eu não posso.
- Ela está certa. - meu pai falou, levantando-se - Você deve cumprir o que a maldição diz.
- Pai.
- Eu sei. Lucy pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece um fim trágico desse jeito. E, acredite, eu tentei ao máximo evitar que a maldição se concretizasse, mas não pudemos evitar.
- Espera aí, você sabia da maldição original?
- Sabia. - meu pai respondeu - Quando eu me separei, pensei que a maldição nunca iria se concretizar. Lucy e sua mãe estavam em outro país, e você estava aqui, então nunca aconteceria de vocês duas se apaixonarem pelo mesmo garoto, e eu decidi contar apenas a parte da maldição que estavam nos novos exemplares. E, quando Lucy fingiu sua morte, achei que tudo isso havia acabado, mas sua mãe me contou que os lobos te seguiram enquanto você voltava do jogo, e eu pensei que a maldição não tinha acabado ou algo estava errado. Então, comecei a acreditar que os novos exemplares poderiam estar certos, e que o velho livro de Charles era apenas uma história fantasiosa. Mas, quando Lucy invadiu o castelo, eu soube que Charles não era um homem fantasioso. Ele estava certo quanto à maldição.
- Eu sabia que tinha algo de errado com ela. - minha mãe falou, levantando-se e limpando as lágrimas - Principalmente quando ela tentou me empurrar da escada.
- Aquela va...
- Lorenzo. - John entrou com tudo dentro da biblioteca, segurando uma bolsa de gelo no rosto, acompanhado por James e Melanie.
- O que aconteceu?
- Lucy, ela me acertou. - John começou - Ela levou o Branden.
- O quê?
- Ela disse algo sobre ele ser a única esperança de que ela possa viver.
- Greta está com ela. - Germana falou - Ela sabe de toda a verdade agora.
- Desculpe, Caroline, eu não pude evitar.
- Tudo bem, John. - falei, passando a mão em seu braço.
- Então, o que vamos fazer, princesa? - Germana perguntou, cruzando os braços.
- Lorenzo, chame a todos. - falei, afastando-me de John e indo em direção à porta.
- Aonde você vai? - meu pai perguntou.
- Vou me preparar. A temporada de caça à vadia está aberta, e eu tenho uma vadia para caçar.

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