Capítulo 29

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E antes que eu pudesse pensar em agir, eu estava na maior enrascada da minha vida e nem ao menos sabia disso.
Ian havia me arrastado por toda a festa até chegarmos à rua onde seus amigos estavam - dentro de um carro estacionado no meio da pista. Olhei para ele e vi o que seus olhos diziam. Eles diziam para que eu fosse com ele, para algum lugar ao qual eu só saberia o destino na hora em que o carro parasse e todos saíssem gritando e rindo como se fosse uma grande piada. Mesmo sabendo que esse lugar poderia me trazer grandes problemas, eu fui sem nem ao menos olhar para trás. Ou melhor, olhando para trás e vendo a última imagem que eu gostaria de ver.
Lá estava ele. Nos braços dela. Encostado em alguma coluna enquanto ela conversava com uma amiga patricinha sem cérebro sobre algum assunto avulso e sem importância. Pude ver que, no exato momento em que Ian pegou em minha mão e me arrastou para o carro, seu olhar se encontrou com o meu. A dor era transmitida através deles e fez com que meu coração apertasse dentro do peito.
Ian me pegou pela cintura e me colocou no banco de trás do conversível junto com as namoradas dos amigos dele e logo se pôs ao meu lado. Nós dirigimos pela cidade por quase meia hora. O som estava alto e a vodca que Carl, amigo de Ian, tinha trazido já estava acabando quando ele avisou que já estávamos chegando ao nosso destino. Ian e nem as meninas que estavam ao meu lado me respondiam sobre onde estávamos indo, eles apenas riam e Ian soltava: "É uma surpresa, você vai gostar" e me beijava ardentemente. Um sentimento dentro de mim dizia para que eu pegasse o primeiro táxi que visse na rua e fosse embora sem nem ao menos olhar para trás. Mas meu coração dizia e repetia inúmeras vezes que Ian nunca deixaria que nada de mal acontecesse comigo porque, afinal de contas, estávamos juntos. Certo?
Paramos em uma rua totalmente escura e desconhecida para mim. Os amigos de Ian desceram do carro e começaram a correr no meio da rua, até que um deles chutou uma lata de lixo, fazendo o mesmo se espalhar. Arregalei os olhos, assustada, e Ian segurou em minha mão murmurando um "Vai ficar tudo bem" enquanto saía do carro e estendia a mão para que eu descesse também. Ele me levou pela rua vazia até que todos pararam em frente a uma loja e olhou para seus amigos. Antes que eu pudesse pensar, escutei um estalo alto e a porta da frente se abrir. Um a um, os amigos de Ian entraram, mas quando Ian me puxou em direção à loja, eu o puxei de volta. Eles iam fazer isso mesmo que estava pensando?
- Ian, o que você está fazendo? O que vocês estão fazendo? - perguntei, apontando para a loja.
- O que parece que estamos fazendo? - ele perguntou, olhando para mim e abrindo os braços.
- Roubando uma loja.
- Pensei que você ia dizer fazendo comprar na madrugada. - ele tomou mais um gole da garrafa de vodca que ele tinha na mão.
- Você não acha que isso é errado?
- Relaxa, gata, essa loja é da mãe de uma das meninas e a gente sempre faz isso.
- Vocês saem por aí roubando lojas? - perguntei pasma.
- Roubando não, pegando emprestado e nunca devolvendo.
- Isso é errado, Ian. Vamos para casa. - eu o puxei em direção à rua - Eu te levo para casa.
- Não vou para casa até o dia amanhecer. E nem você. - ele me pegou no colo e me levou para dentro da loja. Era um grande departamento de roupas femininas e masculinas. Sua extensão era tão grande que eu não conseguia nem ver o final da loja, só o que era iluminado por pequenos flashes se luzes que vinham da vitrine. As meninas experimentavam roupas enquanto alguns rapazes faziam guerra com tacos de sinuca.
- Ian, me coloca no chão. - falei, olhando para ele.
- Não, lindinha, você pode escapar de mim e nenhum de nós quer que isso aconteça. - ele olhou para mim - Eu pensei que você estava disposta a se divertir e experimentar coisas novas.
- Estava. Quero dizer, estou, mas isso é totalmente ilegal.
- Claro que não. - ele me colocou em cima de um balcão onde algumas jóias estavam espalhadas - Nós não roubamos coisas, Caroline. - ele começou se colocar entre minhas pernas.
- Não, - cruzei os braços e olhei para ele - então me diga o que vocês fazem.
- Nós apenas a provamos e colocamos de volta. Depois de tirar algumas fotos, é claro. - ele pegou um colar em cima do balcão e colocou em meu pescoço.
- Isso é errado, Ian.
- Claro que não. - ele falou, passando os braços por minha cintura - Só somos amigos querendo se divertir.
- Às custas dos outros, não é? - falei, olhando para ele.
- Pimenta nos olhos dos outros, para mim, é refresco. - ele falou, fazendo-me rir.
Ian me puxou mais para perto. Ele aproximou o rosto do meu, o que fez com que nossos narizes se tocassem. Sorri antes de sentir seus lábios capturarem os meus e dar início a um beijo. Sua língua brincou com a minha enquanto suas mãos apertavam a minha cintura, e eu cruzei minhas pernas em sua cintura, puxando-o mais para perto.
Passei meus dedos sobre seus cabelos e os puxei de leve ao mesmo tempo em que as mãos de Ian apertavam minhas coxas de leve. Meu corpo todo estava queimando, e eu achava isso o mais errado dos pecados, não porque eu estava sentindo desejo, mas porque não era em Ian que eu estava pensando, e sim em Branden.
Cada milímetro do meu corpo queria que fosse Branden no lugar de Ian. Minha mente, por um momento, pregou uma peça em mim porque cheguei a abrir os olhos e ver a imagem de Branden, o que fez com que eu empurrasse Ian para longe.
- Desculpe, Ian, eu... - e antes que eu pudesse terminar de falar, Ian veio com tudo para cima de mim.
Ele calou minha boca com um beijo fervoroso que praticamente machucaram meus lábios com tanta intensidade. Suas mãos apertaram forte minhas coxas antes de subirem por dentro da minha blusa. Eu estava sem palavras e sem ação. Tudo havia acontecido tão rápido que, quando percebi, as mãos de Ian já estavam em meu sutiã e meu corpo sendo inclinado por cima do balcão.
- Ian. - falei quando seus lábios desceram por meu pescoço - Ian, por favor, para. - falei, tentando empurrá-lo para longe.
- Calma, linda, prometa que não vou te machucar. - senti seus lábios morderem de leve meu pescoço.
- Ian, para. Eu não quero.
- Muitas não querem no começo. - ele disse, como se não fosse nada de mais. Arregalei os olhos e juntei todas as forças que eu não tinha para empurrá-lo para longe. Para a minha má sorte, deixou uma marca de dentes em meu pescoço.
Desci do balcão e, quando Ian tentou se aproximar mais uma vez de mim, meu punho voou automaticamente em seu rosto, fazendo com que ele caísse no meio de algumas roupas. Corri para fora da loja e tive a pior surpresa da minha vida.
Oh, não. Eu estava muito encrencada.
- Senhorita, você tem o direito de ficar calada e tudo que você fizer ou falar pode ser usado contra você.
Para piorar aquele dia, aqui estava eu, sentada em uma sala de interrogação esperando que Alfred viesse me buscar, apenas imaginando que o caminho para casa seria longo. Meus ouvidos, provavelmente, iriam sangrar de tanto que Alfred iria falar. A frase preferida que ele diria até o fim da minha vida seria: "Eu te disse."
Eu nunca acreditei de verdade nessa história de maldição. Só quando eu a vi se realizar na frente dos meus olhos quando eu ainda era uma adolescente meio irracional que não acreditava numa história em que os pais contavam para os filhos quando temiam que eles escapassem de casa à noite. Mas, no meu aniversário de quinze anos, o conde de Liberting me convidou para o lago fora do castelo para que nós pudéssemos finalmente dar o nosso primeiro beijo à meia noite. No instante em que a décima segunda balada soou, eu vi a história se concretizar diante de meus olhos. E eu me lembro que eu nunca corri tanto em minha vida.
O conde Liberting saiu apenas com um arranhão em uma das coxas, mas eu saí com o meu primeiro coração partido. O conde não gostava de mim de verdade e, quando escutou a história sobre a minha vida contada pelo meu pai junto com o apelo que ele ficasse calado ou sairia de seu posto, ele apenas acenou e disse que não gostava assim de mim. Eu nunca tinha chorado tanto na minha vida, mas mesmo assim, no fim, ainda tive um final feliz, pois duas horas depois John já estava me fazendo rir enquanto dançávamos ao som de (I've Had) the Time of My Life e ele se declarava para mim. Um dos piores dias da minha vida tinha sido um dos mais divertidos e emocionantes.
Mesmo sem acreditar, havia sido isso que eu acreditava que iam acontecer. Eu iria achar alguém que curasse meu coração como John fez, como eu achava que Ian estava fazendo. Mas eu não esperava era que o príncipe moderno, que vinha acompanhado de uma Harley, iria se transformar em uma sapo, como Lucy sempre dizia que Liberting iria fazer.
Lucy fazia falta, agora mais do que nunca. Se ela estivesse aqui, teria me ajudado a não cair nas garras de um cara como Ian. Lucy era a única pessoa que sentia o faro de gente falsa, antes mesmo que ela lhe dirigisse a palavra. Tantas foram as vezes em que ela tinha me salvado de tantas enrascadas com garotas da corte que queriam casar-se com papai. Lucy foi a melhor a irmã que já tive, mesmo quando ela havia virado uma vadia sem coração. Uma voz dentro de mim dizia que ela ainda estava comigo, não como um espírito que iria me perseguir até o meu túmulo, mas dentro do meu coração, como ela sempre esteve. Essa mesma voz me lembrava que Lucy tinha morrido para que eu sobrevivesse, para que eu pudesse ter a vida normal que sempre sonhei quando assistia àqueles filmes americanos. E a única coisa que eu estava fazendo era jogando isso fora e começado a me tornar uma vadia pior que Lucy.
- Oh, não, o que fiz com minha vida? - falei, abaixando a cabeça.
- Não sei o que você fez, menina, - o policial que estava me interrogando entrou na sala, fazendo com que eu pulasse da cadeira - mas sei que você tem amigos muito poderosos. Você pode ir.
- Sério? - perguntei, surpresa - Digo, não tenho que passar a noite aqui porque roubei esse colar?
- Então você está admitindo que roubou esse colar esse colar?
- Não foi o senhor que disse que tudo estava contra mim? Eu estou com o colar, estava no lugar do crime e fui pega em flagrante. - comecei a contar nos dedos.
- É, mas, à as vezes, mesmo na polícia, muitas coisas não são como parecem. - ele falou, sentando-se na cadeira à minha frente - Tem certeza de que não quer falar o nome dos garotos que estavam com você?
- Já lhe disse que não sei o nome de nenhum. Eu tinha acabado de conhecê-los e também, de onde venho, as pessoas não costumam ser dedos duros.
- Sei que você não é a má pessoa, menina. Você apenas se meteu com as pessoas erradas. - ele apoiou suas mãos na mesa e se levantou. Finalmente pude ver o nome em seu crachá: "Agente Smith".
- Eu sei disso agora. - falei, levantando-me também - Eu apenas me deixei levar por aquela curiosidade que todo adolescente tem.
- A curiosidade que todo jovem tem por aquilo que, para ele, foi contado como perigoso. - ele falou, abrindo a porta.
- Como o senhor sabe? - perguntei, andando até a mesma.
- Eu já fui jovem e já quis provar do desconhecido também. - vi-o sorrir, fazendo com que eu sorrisse também.
- Desculpe. - falei quando passei pela porta e me virei para ele.
- Pelo quê? - ele perguntou surpreso, fechando a porta.
- Por ter causado tanto transtorno. Se não for incômodo, o senhor poderia dizer à dona da loja que sinto muito e que tentarei recompensá-la de alguma forma?
- Avisarei, princesa. - ele disse, fazendo reverência.
- O que o senhor disse? - perguntei, virando-me para ele com os olhos arregalados.
- A Rainha manda lembranças ao seu pai.
- Mas...
- Caroline! - fui interrompida pelos braços de Mel me esmagando em um abraço - Fiquei tão preocupada com você!
- Mel, o que você está fazendo aqui? - falei, abraçando-a de volta - Você deveria estar de folga!
- Eu sei, mas Branden me ligou e disse que você estava na cadeia. Tive que vir correndo te resgatar. - Mel me soltou e me segurou pelos ombros - O que você estava pensando? Você não acha que seu pai não tem dinheiro para comprar milhões de colares para você?
- Desculpe, Mel, eu não sabia o que estava fazendo.
- Com certeza não, mas Ian sabia.
Levantei meu olhar e vi Branden em pé ao lado de Alfred, com os braços cruzados. O ar faltou em meus pulmões, e eu prendi minha respiração ao ver que, a alguns metros de mim, ele estava com a mesma roupa da noite interior. O que me lembrava o momento em que seus braços estavam ao redor de mim, fazendo com que eu desfalecesse aos poucos. Mas, logo em seguida, veio a imagem dele e sua namorada, além das palavras - que deveriam ser ditas para mim -saindo de sua boca, o que fez com que a raiva borbulhassem em minhas veias.
- O que você está fazendo aqui? - perguntei ao me afastar de Mel e andar em sua direção - Você não tem outro lugar para estar? Tipo, a casa da sua namorada? - perguntei, cruzando os braços.
- Só vim ter certeza de que você não iria fazer mais nenhuma besteira. Melanie ficou preocupada, mas não pôde vir.
- Então você veio no lugar dela, porque você é um ótimo amigo. - disse, sarcástica.
- Eu me preocupo com meus amigos.
- Que bom saber disso. - debochei - Então, já que você se importa tanto assim, que tal levar Alfred e Mel para casa?
- Com todo prazer.
- Ótimo, então. - falei, descruzando os braços. Desviei dele e comecei a andar em direção à saída.
- Ei, aonde você pensa que você vai? - ele falou, segurando em meu braço, o que me fez virar para ele. Olhei para sua mão e senti um arrepio subir por minha espinha e o lugar em que sua mão estava queimar levemente.
- Tenho que resolver uma coisa.
- Você vai se encontrar com Ian, não é? - ele falou, com um olhar indignado.
- O que eu faço da minha vida não é do seu interesse. - respondi com os dentes trincados.
- O cara te coloca na cadeia e você vai atrás dele? Que tipo de idiota é você?
- Do tipo que resolve os próprios problemas.
- Você vai fazer o quê? - ele soltou meu braço de uma vez - Bater nele que nem fez com a Ashley?
- O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta, Branden.
- Creio que tenho que lhe decepcionar dessa vez. O que você faz sempre foi e sempre será da minha conta. - ele me pegou pela cintura e, em um movimento rápido, estava me carregando para fora da delegacia comigo em seus braços.
- Branden, me larga. - falei, batendo em seu peito. Nunca um lugar pareceu tão certo e tão reconfortante como nos braços de Branden. E eu não me lembrava porque eu estava mandando que ele me soltasse, pois, provavelmente, aquilo era a última coisa que eu queria fazer - Branden, por favor. - supliquei, sentindo o seu perfume invadir minhas narinas.
- Não, Caroline, eu não me sacrifiquei tanto para você estragar sua vida. - ele falou enquanto empurrava a porta com as costas para que ele passasse comigo.
- Branden, cuidado com ela. - Mel disse ao passar em nossa frente e correndo em direção ao carro - Ela é muito frágil.
- Frágil como uma rosa, - ele olhou para mim - e perigosa também.
Olhei para ele e não pude segurar o sorriso em meu rosto. Logo depois, um habitou o seu também. Escondi meu rosto na curva de seu pescoço sentindo o seu cheiro, aquela mistura de perfume masculino com um shampoo de lavanda que, provavelmente, tinha sido comprado por sua mãe. Abracei-o mais, fazendo com que meu rosto levantasse um pouco e meus lábios roçarem no seu pescoço, o que fez com que ele se arrepiasse. Não sei ao certo como aconteceu, mas percebi que minha boca abriu-se automaticamente e meus dentes perderam um pedaço de seu pescoço. Senti sua mão em minha cintura apertar-se mais um pouco, e, antes que eu pudesse continuar explorando aquele pescoço tão chamativo, Branden me colocou dentro do carro e fechou a porta na minha cara. Mel e Alfred já estavam no carro e Alfred deu a partida enquanto Mel falava:
- Quando seu pai souber, ele vai ficar tão decepcionado e sua mãe... E sua mãe, Caroline? - ela perguntou, olhando para mim - O que ela vai fazer quando descobrir que a filha dela estava roubando? O que você estava pensando, menina?
- Desculpe-me, Mel.
- Só isso que você tem a dizer?
- E o que você quer que eu fale? Me leve de volta para Florença e me apedreje em praça pública? O que eu fiz não foi nada diferente que muitos jovens fazem. Curiosidade é algo que todos temos, principalmente quando se tem dezoito anos e viveu sua vida toda trancada em um castelo porque uma maldição idiota impedia de sair de casa. E você sabe que eu tenho todo o direito de aproveitar minha vida e Deus sabe o quanto eu sonhei com isso. Não estou dizendo que o que fiz foi certo, mas, pelo menos, eu aproveitei e cresci com isso. Lucy queria que eu fizesse isso. Lucy sempre sonhou que eu me libertasse, que aproveitasse um pouco a vida. Sei que não deveria ter sido desse jeito, mas quebrar a cara faz parte da vida e me desculpe se pareço um pouco irresponsável, mas, se perguntassem, eu faria tudo de novo.
- Até a parte de ser presa? - Alfred perguntou.
- Tudo, Alfred, tudo. - falei, encostando-me no banco.
- Eu também já fui preso, se serve de consolo. - Alfred disse ao parar em um sinal.
- Alfred! - Mel deu um tapa em seu ombro - Que belo exemplo você esta dando para nossa menina.
- O que foi? Todo jovem já quis queimar sua vida de uma vez em uma chama sem fim. Curiosidade não mata, só te leva para cadeia. - Alfred falou, soltando uma gargalhada e dando língua para Mel - Mas, sério, o que a Caroline fez não foi nada demais. E além do mais, ela não roubou o colar.
- Ah, não? Então o colar estava fazendo no pescoço dela?
- Ian o colocou lá.
- Como você sabe disso? - Mel e eu perguntamos ao mesmo tempo.
- Ian me contou.
Minha respiração parou, e eu pude ver meus olhos arregalados no retrovisor.
- O quê? - perguntamos as duas ao mesmo tempo - Mas como? - Mel continuou - Que horas você falou com aquele crápula covarde? Eu deveria ter arrancado aqueles olhos dele.
- Ele estava do lado de fora da delegacia quando eu fui pegar as documentações da Caroline dentro do carro. Ele perguntou como você estava e quando iria sair.
- E o que você disse?
- Que não sabia. Foi então que ele começou a falar um monte de coisas que eu não entendi no começo, mas, depois que ele se acalmou, me contou tudo. Ele parecia arrependido.
- Eu não estou com raiva dele.
- Não? - Mel perguntou - Como assim não? Depois de tudo que ele fez você não tem raiva dele? Meu Deus, você tem o coração muito mole mesmo.
- Sentir raiva não vai mudar o fato de que tudo que eu fiz foi com plena consciência de que não estava certo. E de que provavelmente não me traria nenhum aprendizado, pelo menos um aprendizado que prestasse. A culpa não é apenas de Ian, a culpa foi minha também que me deixei levar pelo meu "sonho americano". Como Alfred disse, quando se é jovem, você quer deixar queimar-se em um fogo sem fim, pois só se é jovem uma vez e todos os segundos contam.
- Entendo o que você quer dizer. - Mel disse.
- Você também já foi presa, Mel?
- Não, mas trabalhei em um bar uma vez.
- Fazendo o quê? Vendendo ingressos?
- Não, como uma coyote.*
- Naughty Mel. - falei, vendo Alfred entrar pelo portão da frente da minha casa.
- Caroline! - Mel me repreendeu.
- Mel, de todas as coisas do mundo, eu nunca pensei que você tivesse sido uma coyote.
- O quê? Todo mundo já teve seu momento.
- Mas o seu momento superar os nossos. Não estou certa, Alfred? - falei, vendo Alfred estacionar o carro em frente à minha casa.
- Com certeza não chega nem perto. - Alfred desceu do carro gargalhando, o que fez com que Mel bufasse.
Abri a porta do carro com minha barriga doendo de tanto rir. Mel e Alfred eram meus segundos pais, era como se eles tivessem ajudado na minha criação junto com meus pais. Ainda não me contento com o fato de eles não serem casados, ou muito menos namorarem. A química entre os dois era visível, mas eram muito bobos para admitir, pois tanto Alfred quanto Mel já tinha filhos de casamentos passados, mas, por obra do destino, os dois haviam ficado viúvos quase ao mesmo tempo.
A mulher de Alfred morreu três meses antes do marido de Mel morrer em um acidente de carro. Lembro-me bem de como os dois sofreram e lembro-me também de como eles trouxeram a felicidade um ao outro, mas são velhos e cabeças duras demais para admitir.
- Alfred, eu vou te matar enquanto você estiver dormindo. - Mel falou, andando em direção à porta.
- Vai invadir meu quarto à noite? Naughty Mel. - ele disse, andando atrás dela e fazendo-lhe cócegas.
- Alfred! - ela falou, batendo o pé no chão - Como... - Mel foi interrompida por um ranger de uma moto.
Olhei para o lado e vi uma moto estacionar a alguns metros de nós. Meu coração parou e minhas narinas se fecharam, fazendo com que minha respiração parasse em meus pulmões. Eu sabia que aquela moto não era a de Ian, passava muito longe. A moto de Ian era uma Harley, essa era uma Honda, uma daquelas que você só vê naqueles filmes de ação e deseja ardentemente estar naquela garupa segurando aquele bad boy, que, no final, acaba sendo o príncipe de sua vida.
O tal motoqueiro tirou o capacete, e eu pude ver seu rosto. E quando pensei que não poderia morrer sem ar, o mesmo fugiu de meus pulmões e meu coração começou a bater mais rápido, quase como um carro de corrida pronto para partida. Quase pulando de meu peito. Branden estava naquela moto e, mesmo com a roupa de ontem, com botas sujas de lama, camisa desabotoada mostrando seu peitoral e os cabelos todo bagunçados, ele ainda parecia o homem mais bonito de todos os tempos. Ele desceu da moto arrumando os cabelos bagunçados pelo vento e, quando conseguiu, olhou diretamente para mim.
Minhas pernas tremeram na base, especialmente quando ele passou por mim dando um sorriso de lado e foi em direção à Mel, abraçando-a pelo pescoço.
- E aí, Mel, onde eu vou ficar? - ele falou, sorrindo para ela.
- Espera, espera aí. - falei, fazendo com que os dois virassem para mim - O que você disse? Ficar aqui? Você vai ficar aqui? Quem disse que você disse que você vai ficar aqui? Você não vai ficar aqui.
- E quem foi que disse isso? Você? - ele falou, virando-se completamente para mim.
- Essa casa é minha. Você não pode ficar aqui sem a minha permissão.
- Primeiro, essa casa não é sua, é do seu pai. Segundo, quando seu pai e sua mãe não estão aqui, Mel e Alfred são os responsáveis pela sua casa. E terceiro, você perdeu todo o direito de reclamar sua responsabilidade por si própria quando se meteu com o cara errado. - ele deu as costas para mim, abraçando Mel de lado novamente - Onde nós estávamos? Ah, sim, onde eu posso tomar um banho? Ainda estou com cheiro de bebida impregnado em mim. - ele continuou até que os dois desaparecessem pela porta.
Bufei e bati o pé no chão. Idiota, Idiota, idiota, pensei, jogando a cabeça para trás. Virei para o lado e vi sua moto a alguns metros de distância.
Talvez meu príncipe realmente tivesse vindo em uma moto, mas era apenas eu quem estava andando na garupa da moto errada.

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