- Você está linda.
Virei-me para trás e vi Branden parado, enquanto segurava a porta. Ele estava lindo no terno de meu pai, que lhe caía como se fosse feito sob medida para ele.
- E você não está tão atrás assim. - respondi, andando em sua direção.
A tarde que Branden e eu passamos juntos tinha sido uma das melhores, e o fato de que a casa estava vazia por praticamente toda a tarde tinha ajudado muito. Eu tinha descoberto que Branden tinha dotes culinários dignos de um futuro chef. Até sugeri que ele seguisse essa carreira caso o futebol não desse certo, mas Branden tinha outros planos, e fazia questão de dizer que iria cozinhar somente para mim, para sua mãe ou para nossos futuros filhos.
Era assustador o quanto, em apenas uma tarde, toda a história que durava meses estava resolvida. Sem brigas, lágrimas ou desencontros. Parecia que todo aquele sofrimento tinha sido só uma falha de comunicação, com o pouquinho do meu orgulho e um pouquinho a mais do mau julgamento dele.
Agora eu tinha adicionado um motivo a mais para ficar em Londres. Eu sei que havia prometido que dedicaria minha vida a ajudar os outros, mas, às vezes, nossos planos mudam e dão espaço para outros planos, que, nem em um milhão de anos, você pensou que passariam por sua cabeça. Eu estava pensando em ir para uma faculdade, pelo amor de Deus! Quando em minha vida eu realmente pensei em um futuro além das paredes daquele castelo?
Se me perguntassem no começo do ano o que a vida proporcionaria para mim, eu diria: "Festas e mais calos nos pés." Eu nunca diria: "Ir a Londres, encontrar o amor da minha vida e, ainda por cima, ir para uma faculdade e estudar um pouco mais sobre Literatura."
Branden e eu passamos uma boa parte da tarde decidindo o que eu poderia cursar de acordo com meus gostos. Ele achava que a Literatura estava em meu sangue, quem sabe eu não poderia ser uma escritora de sucesso algum dia?
- Você tem certeza de que quer fazer isso? - ele perguntou, colocando as mãos em minha cintura - Digo, você não acha perigoso?
- Perigoso é, mas eu tenho que dar um fim a essa história. Ela já se estendeu por tempo demais e, agora, é a segurança de inocentes que está em jogo.
- E a sua segurança? Não é importante?
- Eu ficarei bem. - assegurei, segurando-o pelo colarinho - Esqueceu que sou uma princesa altamente treinada, quase uma espadachim?
Ele riu sem humor.
- Mesmo assim, eu sinto que algo pode acontecer. Algo ruim.
- É para isso que nós viemos, para evitar que esse mal aconteça.
- Eu não acredito que você está levando isso numa boa.
- Eu não estou levando isso "numa boa", - fiz aspas com os dedos - eu só quero que tudo isso acabe, sabe? Eu quero poder viver a minha vida sem a preocupação de que alguém que eu amo possa se machucar.
- Então por que você não deixa os soldados do seu pai darem um fim nisso?
- Simplesmente porque é a minha história e só eu posso dar um fim nela. - disse, passando os braços por sua cintura - Entenda, Branden, eu preciso de um ponto final para que eu possa viver meu "felizes para sempre" em paz. Com você.
Vi um sorriso brotar em seus lábios.
- Caroline, dá para você descer logo? Todo mundo está te esperando. - Cassie entrou de uma vez em meu quarto, fazendo com que Branden se afastasse de mim - Opa! Não sabia que você estava ocupada.
- Não, não! - Branden começou - Eu estava vindo chamá-la mesmo.
- Pelo jeito, se perdeu nos braços dela porque se esqueceu de chamá-la.
- Cassie! - repreendi-a, vendo sair do quarto dando de ombros - Ah, ela vai me ouvir. Onde já se viu uma coisa dessas? Ela está precisando urgentemente de umas aulas de boas maneiras.
- Talvez você possa ensiná-la, já que ela te ensinou a se transformar na Xena.
Olhei para ele, que prendia o riso.
- Como você sabe disso?
- Lorenzo. Você não comentou sobre esse seu apelido tão... Como eu posso dizer? Oh... Tão a sua cara, princesa.
- Não comentei porque não gosto desse apelido. Não me sinto nada como a Xena.
- Oh, mas é claro que não. - ele falou, pegando minha mão e colocando-a na curva de seu braço - Talvez, Kiddo.
- Kiddo? - perguntei, descendo o primeiro degrau da escada.
- Sim, Beatrix Kiddo. Kill Bill? Você nunca assistiu a Kill Bill?
- Não, esse daí eu nunca vi.
- Bem, nós teremos todo o tempo do mundo para fazê-lo quando você terminar sua missão.
- Vocês estão perfeitos! - Mel falou tão animada, que eu podia jurar que ela estava mais animada do que todos nós - Oh, eu sempre soube que vocês acabariam juntos. Venham, desçam! Deixe-me olhá-los de perto. - segurei forte no braço de Branden, enquanto ele me conduzia pela escada. Paramos em frente a Mel, que quase chorou quando nos aproximamos dela - Eu nunca vi duas pessoas que se completassem tanto quanto vocês dois. Bem, eu vi, Emily e Jonathan. Eu sempre soube que eles acabariam juntos, apesar de tudo.
- Obrigada, Mel! - respondi, dando um breve sorriso.
Olhei para o resto do grupo e vi Kyle comendo um sanduíche enorme com um babador preso na gola da camisa social. James e Melanie estavam abraçados enquanto cochichavam algo um para o outro e Cassie olhava para mim com uma cara de poucos amigos, ao mesmo tempo em que Lorenzo a encarava com o queixo no chão.
Mel e eu tínhamos obrigado Cassie a ter um tratamento de princesa antes da festa. Sabíamos que não era nenhum baile da nobreza, porém o prazer de ver Cassie soltando gritos de reprovação ao longo do processo foi mais que prazeroso. Agora ela sabia o que uma princesa passava e nunca mais abriria a boca para dizer o quanto é fácil ser uma princesa.
- Vocês já terminaram? - Cassie perguntou mal humorada - Vamos logo com isso. - ela falou, andando em direção à porta - Estou esperando vocês dentro do carro.
- Eu vou com você. - Lorenzo falou, correndo em direção à Cassie e abrindo a porta para ela passar.
Cassie se assustou, mas deu de ombros e saiu porta afora com Lorenzo atrás.
- Acho melhor nós irmos mesmo também. - falei, olhando para Mel - Vai tudo ficar bem, Mel. Não se preocupe porque eu volto mais tarde.
- Eu espero. - ela me abraçou - Cuide-se.
- Não se preocupe, - Branden começou - eu vou protegê-la.
Ele colocou a mão na minha cintura e me conduziu até a porta. Quando nós passamos pela mesma, vi que não era o típico carro de James que nos esperava, e sim uma limusine.
- Uma limusine? - perguntei, olhando para ele.
- Bem, se vamos ao baile, pelo menos, eu acho que deveríamos ir do jeito correto.
- Não precisava.
- Mas é claro que precisava. - Branden me segurou pelos ombros e me virou para que eu ficasse à sua frente - Eu sei que você está indo a esse baile para uma missão, mas isso não quer dizer que não podemos nos divertir ou, muito menos, que eu não possa te dar um presente. - ele colocou a mão no bolso e tirou um anel de lá - Eu sei que não é hora e, muito menos, lugar, mas quem foi que disse que eu tenho um timing perfeito? - ele pegou minha mão direita e deslizou o anel pelo meu dedo anelar - Você se lembra da Thunder? - assenti - Você é igual à Thunder para mim: veio depois de uma tempestade e me mostrou que sempre algo de bom acontece quando você perde todas as esperanças. Thunder me salvou depois que eu a encontrei, e você me salvou depois que eu me apaixonei por você. - olhei-o e senti uma lágrima descer por meu rosto - Não chore, pequena. - ele me abraçou pelos braços, fazendo com que eu passasse meus braços por sua cintura.
- Não estou chorando de tristeza, e sim de felicidade. - afastei meu rosto de seu peito para que pudesse olhá-lo. Ele segurou meu rosto e limpou as lágrimas que caíam - Obrigada, eu...
- Dá para vocês se apressarem? - Cassie colocou a cabeça para fora do carro - Quero voltar antes do jantar!
- Falando em timing, Cassie tem o melhor, principalmente quando se trata de atrapalhar os outros. - ele disse, separando-se de mim.
- Você não tem ideia. - falei, olhando para o carro e vendo Kyle puxar Cassie de volta para dentro.
Branden se adiantou e abriu a porta para que eu pudesse entrar e, logo que eu o fiz, ele se sentou ao meu lado. Confesso que senti um frio na barriga, especialmente quando olhei ao redor e vi as vidas que eu estava colocando em risco.
Eu sabia que seria arriscado, e eu tinha falado isso para eles logo que eles voltaram para minha casa, no final da tarde. No entanto, parecia que eles não estavam escutando porque todos ignoraram meus avisos e subiram para se arrumar para o baile. Pouco tempo depois, Mel apareceu para me ajudar a me arrumar e ela disse algo que eu tinha esquecido:
- Amigos de verdade estão com você nos melhores momentos, mas, principalmente, quando tudo parece que está perdido. Amizade é sobre ser a fé para aqueles que já perderam a sua. É acreditar que, mesmo que tudo esteja perdido, ainda existe algo para se agarrar e acreditar que algo melhor está por vir.
E Mel estava certa. Quando eu havia perdido toda a fé de que eu seria uma melhor pessoa depois do que eu fiz com Lucy, Lorenzo apareceu para me resgatar da pior versão que eu poderia ser de mim mesma. Ele me mostrou que, mesmo que eu estivesse me tornando alguém que ele desprezava, uma parte de mim ainda estava enterrada em algum lugar no fundo da minha alma, e ele foi lá e me resgatou. Lorenzo não sabia, mas eu agradecia mentalmente todos os dias por tê-lo em minha vida, porque só Deus sabia o que eu poderia me tornar se não o tivesse para puxar minha orelha de vez em quando.
Na amizade, nós escolhemos quem nós queremos ao nosso redor, e eu tinha muita sorte de estar rodeada de pessoas maravilhosas que me tornavam uma pessoa melhor. E não era só na amizade que eu tinha feita uma ótima escolha, mas também no amor.
- Chegamos! - o motorista avisou.
Branden abriu a porta e me ajudou a descer. James fez o mesmo com Melanie e Lorenzo repetiu o gesto com Cassie, que ficou espantada, o que arrancou uma boa risada de Kyle.
- George e eu vamos pelos fundos. - Kyle começou - A gente se encontra lá dentro, então. - Kyle e George desapareceram entre a multidão.
Na mesma tarde, na qual Branden e eu colocamos tudo em pratos limpos, Kyle, George, Lorenzo e Cassie foram com James e Melanie conhecer a escola para que tudo acontecesse como o planejado. Eles até conseguiram entrar no escritório do diretor e tiraram a planta do colégio para estudar as possibilidades de entradas e saídas.
Branden segurou minha mão, colocou-a na curva de seu braço e sussurrou em meu ouvido:
- Se eu te falar uma coisa, você não fica chateada? - ele disse logo depois que passamos pela porta do ginásio. O ginásio feio e fedido que, provavelmente, era odiado pela maioria dos alunos desse colégio estava irreconhecível.
Havia estrelas por todos os lados e algumas delas estavam dependuradas como bandeiras de São João, dando a sensação de que estávamos em um céu estrelado. No chão, também havia estrelas que levavam por vários caminhos diferentes. O palco estava montado no fundo e a banda que tocava não era tão ruim, era até agradável.
- Não. - respondi, olhando para ele.
- Melanie mentiu. - ele me rodopiou, o que fez com que eu ficasse de frente para ele e dançássemos de acordo com a música.
- Sobre o quê?
- Sobre entrar no baile com alguém do colégio ser obrigatório. - ele me girou e me puxou para perto dele outra vez - Não era obrigatório. Ela fez isso porque tinha fé que, se você viesse comigo, teria que me escutar mesmo que você não quisesse.
- Eu não acredito nisso.
- Acho que seu amigo Kyle percebeu o que ela estava fazendo porque ele disse exatamente o que Melanie ia dizer. - ele me deu um beijo no pescoço - Você está brava?
- Claro que não.
- Por que não?
- Porque, lá no fundo, eu queria ir com você, mas não queria admitir.
- Oh, minha princesa, estávamos com o mesmo pensamento, então. - ele me deu um selinho - Estou feliz que eu esteja aqui com você, estou feliz que esse capítulo da minha vida vai acabar, e eu vou começar outro com você nele desde a primeira folha.
Sorri e me aproximei dele. Porém, antes que eu pudesse tocar seus lábios, alguém me interrompeu.
- Caroline, vem comigo agora. - Cassie segurou meu braço, puxando-me para longe de Branden.
Gesticulei um volto logo e me virei para Cassie com uma expressão não muito amigável.
- O que você está fazendo?
- Eu preciso falar com você. - ela me empurrou para o banheiro e expulsou qualquer um que estivesse lá dentro.
- O que foi, Cassie? - falei, encostando-me na pia - Alguém te maltratou? Te disse algo que você não gostou? Nossa! Você não ia sobreviver no colégio nem que você fosse a menina mais temida daqui.
- Lorenzo me beijou! - ela gritou e colocou as mãos no rosto.
- Isso é incrível. - falei, colocando as mãos em seus braços - Finalmente, hein? Pensei que ia ter que trancar vocês dois em um quarto até que vocês dois admitirem.
- Admitirem o quê? - ela tirou as mãos do rosto - Você acha?
- Mas é claro que sim. Acho que vocês sempre se gostaram, só precisavam de um empurrãozinho para perceber.
- Perceber o quê?
- Que o Lorenzo é um homem e você é uma mulher, então é totalmente aceitável que vocês se sintam atraídos um pelo outro. Mesmo que vocês sejam parceiros naquele acampamento, nada impede vocês de ser um pouquinho mais. Aliás, vocês se amam.
- Como você sabe?
- Já ouviu aquela frase sobre uma imagem valer mais do que mil palavras? Então, quando vocês dois estão juntos, não é preciso dizer nenhuma palavra porque tudo já está dito. - segurei em seus ombros - Então vai lá, vai viver seu final feliz. Não espere um ano e muito sofrimento do mesmo jeito que eu fiz.
- Obrigada. - ela sorriu e me abraçou.
- Boa sorte.
Cassie sorriu mais uma vez e desapareceu.
Olhei para o chão e vi que ela tinha deixado cair um de seus brincos, então me ajoelhei e peguei o mesmo. Virei-me para o espelho e arregalei os olhos.
- "Se estiver pronta, venha me pegar, Xena." - li o recado escrito em vermelho no espelho. Aproximei-me do mesmo e peguei um bilhete colocado lá - "Siga as estrelas."
Andei em direção à saída e, logo que eu passei pela porta, vi o caminho de estrelas que dava em direção a uma saída lateral. Levantei a barra do meu vestido e andei a passos largos até a saída. Quando abri a porta, vi o caminho se estender pelo gramado em direção ao ginásio velho. Eu sabia que deveria avisar alguém, porém minha vontade de conhecer o maldito que estava ameaçando meus amigos era maior, então andei em passos largos até o ginásio velho.
O gramado estava vazio. O único barulho era o som das árvores balançando por conta do vento gelado. Senti todo o meu corpo tremer e um mal-estar em meu estômago. Era como se meu corpo soubesse que algo muito ruim estava para acontecer, do mesmo jeito que eu senti que deveria encontrar Greta naquele castelo abandonado e quando acordei no meio da noite no dia em que tentaram botar fogo no acampamento. Era como se eu estivesse dando passos em direção a alguma tragédia que iria resultar em alguma morte.
Nas primeiras vezes, era eu quem deveria ter morrido. Será que, dessa vez, seria diferente?
Cheguei em frente ao ginásio e empurrei a porta, o que fez com que um barulho ecoasse pelo ambiente. O velho ginásio era um pouco menor que o outro, mas tinha a mesma aparência, tirando, é claro, o fato de que tudo estava enferrujado e coberto de poeira. No meio do ginásio, tinha uma luz. Embaixo dessa luz, havia alguém de costas para mim.
- Acho que eu deveria, pelo menos, conhecê-lo antes de acabar com você. - falei alto o suficiente para que ele escutasse.
- Tenho certeza de que não será necessário, - ele se virou, fazendo com que todo o ar de meus pulmões fugisse - você já me conhece. E muito bem, por sinal.
- Eu pensei...
- Pensou errado. Na verdade, pensou certo e ainda pensou do jeito que eu queria. - ele começou a andar na minha direção - No começo, eu realmente pensei que você ia se tocar, mas, após eu conseguir que você fizesse tudo que eu quisesse, bem, eu sabia que você estava em minhas mãos.
- Por que você está fazendo isso?
- Eu poderia dizer todos os motivos, mas eu não tenho o dia todo, então vou tornar isso mais fácil para você entender. - ele deu uma breve pausa - A culpa é toda sua. Não só sua, mas também da sua família e, principalmente, do seu descendente, Alexander, que fez questão de desprezar uma bruxa só para mostrar que nada o atingia. Nada disso teria acontecido se ele tivesse ficado com Rosálie. Porém, por outro lado, eu fico feliz que ele o fez porque, senão, eu não teria conhecido a mulher da minha vida. Que você, obviamente, matou.
- Eu não matei ninguém.
- Então agora Lucy não era ninguém?! - ele gritou - Pensei que você estivesse arrependida de ter matado sua própria irmã, já que você é uma "nova pessoa". - ele fez aspas com as mãos.
- Lucy tinha que morrer.
- Por quê? Para você sobreviver? Foi preciso um acampamento de três meses e um estranho em um bar na Perdition Street para você se tornar o que você é hoje. Se Lucy tivesse sobrevivido, não precisaria de tanto.
- O problema de pessoas como você é que vocês realmente acham que eu queria Lucy, minha própria irmã, morta só porque tivemos algumas desavenças. Diga-me: qual irmão não tem desavenças com o outro? Lucy e eu poderíamos ser de mundos diferentes, mas era como se o tempo não tivesse passado quando nós nos encontrávamos. Obviamente, ninguém se lembra desses momentos, certo? Porque vocês preferem se agarrar aos ruins para ter alguém para culpar, o que normalmente sou eu. Se eu pudesse, eu voltava no tempo e matava a bruxa que jogou essa maldição na minha família, porque, obviamente, ela não pensou nas consequências de seus atos quando jogou aquela maldição. Se ela tivesse, pelo menos, um pouquinho de consciência, veria que uma pequena decepção amorosa não é motivo para amaldiçoar uma família inteira.
- Por um breve momento, eu quase caí nesse seu papinho. Mas não tem nada que você faça ou diga que vá me impedir de te matar ou matar aqueles pirralhos com quem você veio.
- Não era papinho. Mas, já que você não caiu naquilo, vamos ver se você cai com isso. - segurei seus ombros e dei uma joelhada em suas partes, o que fez com que ele caísse no chão. Segurei meu vestido e corri em direção à saída.
- Aonde você pensa que vai, princesa? - parei bruscamente, quase caindo para frente. Oh, não! - Nós temos muito que conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Greta.
- Aí é que você se engana, - ela andou em minha direção - não só temos muito o que conversar, como temos um acerto de contas. - ela estendeu a mão e agarrou meu pescoço. Segurei seu braço na esperança de tentar fazê-la me soltar, porém Greta era mais forte. - Você vai me ouvir mesmo que você não queira. Eu quero que você saiba o quanto eu sofri todos esses anos naquele calabouço porque sua família nos caçava como se fôssemos ratos e, principalmente, - ela se aproximou e apertou mais sua mão em meu pescoço - eu vim terminar o que Lucy não pôde porque era fraca e te amava demais.
- Solte-a! - escutei um grito ecoar pelo velho ginásio. Olhei por cima do ombro de Greta e vi Branden parado perto da entrada segurando o que aparentava ser a minha espada.
Juntei todas as minhas forças e consegui socar Greta em seu estômago, fazendo com que ela afrouxasse a mão em meu pescoço. Consegui me virar de costas para ela e usei todo o peso de seu corpo para frente, o que fez com que ela caísse no chão à minha frente. Olhei para Branden e fiz menção de andar em sua direção, porém a mão de Greta segurou em meu calcanhar, impedindo-me de andar.
- Branden, me dá essa espada! - gritei, esticando a mão.
- Mas, Caroline... - ele começou.
- Branden, agora! - ele jogou a espada e, em um movimento rápido, me soltei da mão de Greta e peguei a espada. Virei-me novamente para ela e tirei minhas sandálias. Quem tinha inventado o salto alto definitivamente não esperava que alguém fosse usar em uma briga, sobretudo uma que envolvia espadas.
- Eu vou acabar com você, pirralha. - ela se levantou e, em uma fração de segundo, uma espada apareceu em sua mão também. Ela fez o primeiro movimento e veio para cima de mim.
Levantei minha espada, impedindo que ela me acertasse no meio da cabeça. Greta se afastou e atacou novamente, agora rasgando uma parte da saia do meu vestido.
- Ei, esse vestido é da Elie Saab, você sabe quanto custa um vestido desse, sua bruxa? - perguntei, indignada, arrancando o resto do vestido e partindo para cima dela.
Greta desviou todas as minhas investidas, mas o que ela não esperava era que eu segurasse seu braço e atingisse sua costela com meu cotovelo. Ela deu dois passos para trás e deixou a espada cair no chão. Fiz o mesmo com a minha, cerrei o punho e, sem a menor cerimônia, atingi sua bochecha.
- Para quem era uma mosca morta, até que você luta bem. - ela desviou dos meus socos e se pôs de pé novamente.
- É porque você ainda não viu o grande final. - falei, aproximando-me dela.
Greta levantou seu punho e, antes que pudesse atingir meu rosto, eu o segurei. Virei-me, fazendo com que meu cotovelo batesse em sua costela, o que fez com que ela gemesse de dor. Movi meu pé para que ele batesse na parte de trás de seu joelho e, deste modo, ela se ajoelhasse.
Girei meus calcanhares até ficar de frente para ela.
- E isso é por ter manipulado minha irmã. - falei, cerrando o punho e concentrando o máximo de força que eu tinha. Pareceu funcionar, já que Greta caiu desacordada.
Tudo aconteceu tão rápido e, quando eu menos esperava, estava gritando para Branden, implorando que ele parasse de lutar com Ian. Por mais que eu sempre achasse o ultimato romântico o mocinho brigar com o vilão para defender a mocinha, eu não estava achando nada agradável ver Branden travar uma luta de espadas com Ian.
A minha apreensão, porém, se foi no segundo seguinte porque Branden conseguiu acertar Ian, fazendo com que ele cambaleasse e caísse no chão. Ele olhou para mim, antes de correr em minha direção e me abraçar forte.
- Greta previu meu plano. - eu me afastei dele - Eu estava planejando rasgar esse vestido no momento que eu vi você nele.
Ele sorriu e depositou um selinho em meus lábios.
- Alguém já disse que você tem péssimo timing?
- Não. - a voz de Greta ecoou pelo ginásio, fazendo com que nós nos separássemos. O sangue escorria de seu lábio - Até porque o meu próximo passo, definitivamente, vai vir em boa hora. - ela tirou sua mão das costas e mostrou um dispositivo - Se você não fizer o que eu digo, eu vou explodir esse lugar com você e seu namorado dentro.
Soltei uma gargalhada, o que fez com que Branden e Greta me olhassem assustados.
- Do que você está rindo? - Greta perguntou.
- Não é óbvio? - perguntei, segurando o riso - Bem, eu estou rindo de você.
- E por quê?
- Você é uma bruxa. B-R-U-X-A. Se você quisesse que esse lugar fosse abaixo, era preciso apenas um estalar de dedos.
- Isso foi antes da sua querida guardiã, minha irmã, tirar todos os meus poderes e me fazer uma bruxa de quinta.
Segurei a mão de Branden e retirei a espada lentamente da mesma.
- Caroline, - Branden sussurrou em meu ouvido - o que você vai fazer?
- O que eu vim fazer. - falei, começando a andar em direção a ela - Dar um ponto final naquela que começou a escrever o prólogo.
Ergui a espada, segurando-a com as duas mãos. De repente, senti uma pontada na barriga no mesmo lugar onde Greta tinha me machucado, fazendo com que eu andasse mais devagar.
- Eu esqueci de lhe dizer que eu não perdi totalmente meus poderes. - ela levantou a mão, fazendo com que a dor aumentasse, e eu caísse a apenas alguns metros dela - Acho que não vai ser dessa vez que você vai ter seu final feliz, princesa. - ela disse, segurando meu pescoço.
- Não só vou ter meu final feliz, - ergui minha mão e empurrei a espada, o que fez com que ela deslizasse por sua barriga até que chegasse ao outro lado - como estou escrevendo o seu final exatamente como você merece.
Levantei-me, sentindo toda a dor ir embora, enquanto assistia Greta cair inconsciente à minha frente. Retirei a espada dela, vendo o sangue escorrer pela ponta. Eu sentia como se o peso de todo o mundo tivesse sendo tirado de minhas costas e finalmente algo de bom estivesse prestes a acontecer.
Virei-me para Branden, que corria em minha direção e falava alguma coisa a qual eu não entendia.
- Mas você não escreverá o meu. - virei-me para trás e, antes que eu pudesse erguer minha espada novamente, eu já estava sendo nocauteada.
Minha vista estava embaçada, mas eu podia ver que Branden travava sua última batalha com Ian, e eu podia até estar alucinando, mas ele realmente parecia um príncipe lutando por uma donzela indefesa.
Como todo príncipe, Branden ganhou a luta e me pegou pelos braços, levando-me para fora do ginásio. Em menos de alguns segundos, eu vi o mesmo ser tomado pela chamas.
E essa foi a última coisa que eu vi porque nada mais importava. A batalha que eu esperei por meses tinha sido finalmente concluída, não exatamente do jeito que eu tinha planejado porque colocarBranden, Melanie ou James no meio dessa história não estava em meus planos. Porém, eu, mais do que ninguém, sabia que nem tudo na vida pode ser controlado. Mesmo que eu quisesse sair como a heroína como a dos filmes que eu assistia, eu não poderia; eu estava apreciando demais a ideia de ser a donzela indefesa. Pelo menos, dessa vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Flawless Curse
Mystery / ThrillerMudar de cidade nunca é uma tarefa fácil. Mudar de país então, era a última coisa que ela desejava, porém, com tudo que tinha acontecido, alguém tinha que cuidar da sua mãe e, obviamente, sua filha estava no topo da lista. Tudo parecia uma tarefa f...