- Por favor, meus monstrinhos, não toquem, não assustem os peixes, não respirem e não quebrem nada, não façam das paredes do aquário um antro de sua perdição diária. - o professor falou enquanto íamos em direção ao ônibus que iria nos levar até o aquário. Melanie estava ao meu lado falando sobre o quanto o aquário era legal e o quanto eu não tive infância por nunca ter ido a um antes, fazendo-me soltar algumas gargalhadas. Mas Melanie não estava me entretendo o suficiente, pois meus olhos estavam fixos em uma roda de garotos - que julguei serem os mais bonitos daquela escola -, onde apenas um garoto naquele meio me interessava, um que escutava atenciosamente o que um de seus amigos falava com os braços cruzados, escondendo sua camisa preta por baixo de um casaco da mesma cor junto com uma calça de lavagem escura e um tênis qualquer.
Eu estava parecendo uma daquelas garotas estúpidas de filmes que dedicavam seu tempo analisando cada milímetro de um garoto, mas eu estava me recusando a aceitar isso, então pulei para a única opção que ainda me restava: a culpa. Isso era culpa, com toda certeza era a culpa por ter dado uma mancada com ele e achado que ele era um desses mauricinhos que eu estou acostumada. Erro meu em julgá-lo sem nem ao menos conhecê-lo, achando que ele não passava de um idiota que queria o meu dinheiro e status por ser visto comigo. Então eu me toquei o quanto eu estava sendo estúpida. Ninguém aqui sabe a verdade sobre mim e duvido muito que Lucy tenha comentado com alguém, e foi nesse momento que eu percebi o quanto estúpida eu estava sendo. Eu não era assim, eu costumava ser simpática com as pessoas. Eu sou simpática com as pessoas, mas algo deixava minha voz falha e todo o meu corpo em estado de defesa ao senti-lo perto de mim, como se ele fosse algum tipo de vírus que tomaria conta de mim e não sairia nunca mais.
E então bastou apenas o seu olhar frio e duro sobre mim para o meu coração entrar em estado de colapso e toda a culpa e arrependimento que eu nunca senti em minha vida tomarem conta de mim. Meus olhos não gostavam nada do que viam, ele me olhava de forma seca, sem nem ao menos uma compaixão ou diversão como o dia interior. Frio, seco, era assim que ele se encontrava e eu não o culpava por isso. Ele tinha todo o direito de me odiar e querer que eu caísse no primeiro buraco e nunca mais voltasse, mas esse não era a minha maior preocupação. A pergunta que não queria calar era: Por que eu me importava tanto se ele me odiava ou não?
- Caroline! - Melanie gritou no meu ouvido.
- Qual é o teu problema? - perguntei, colocando a mão no meu ouvido - Perdeu o juízo, Melanie?
- Faz quase cinco minutos que eu te chamo. - ela me puxou pelo braço - O professor está chamando, todos já entraram no ônibus. - ela me arrastou para dentro do ônibus - No que você estava pensando?
- Ninguém. - falei, acompanhando-a pelo corredor do ônibus.
- Eu sabia que você estava pensando em alguém, você estava muito concentrada. - ela falou analisando um lugar para nós sentarmos.
- Eu estava pensando no... Meu pai. Sinto falta dele.
- Ah, claro, como se eu tivesse nascido ontem. Eu vi. - ela falou sentando-se do lado da janela - O que aconteceu?
- Viu o quê? - falei, virando meu rosto para ela, sentando-me ao seu lado.
- Vi você encarando um certo alguém. - ela apontou para o grupo de garoto que havia acabado de entrar no ônibus fazendo muito barulho.
- Foi apenas um daqueles momentos que você olha para um canto fixo e não pensa em nada.
- Então por que ele não brincou com você hoje?
- Sei lá, arranjou outra garota para se preocupar. - falei, sentindo um peso no meu braço, fazendo-me olhar para o lado e ver um par de olhos verdes me encarando.
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Flawless Curse
Mystery / ThrillerMudar de cidade nunca é uma tarefa fácil. Mudar de país então, era a última coisa que ela desejava, porém, com tudo que tinha acontecido, alguém tinha que cuidar da sua mãe e, obviamente, sua filha estava no topo da lista. Tudo parecia uma tarefa f...