Capítulo 22

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Desci as escadas encarando meus tênis. Fazia frio. Eu adorava o frio, se me lembro bem.
A festa havia sido um sucesso, e Cassie havia ficado muito feliz com isso. Ela estava com um sorriso no rosto do começo ao final da festa, contagiando a todos com sua alegria. Cassie teve a festa que mereceu e sua família me agradeceu repetidas vezes naquela mesma noite, e eu fiz questão que sua padaria, que fazia as melhores tortas - e minhas preferidas, segundo Marta, - fosse um sucesso no dia seguinte, dando a eles o lucro que precisavam.
O poder de ter um título real pesava na hora de uma crítica. Se eu dissesse que nuggets eram a pior comida do mundo, eles o exterminariam de toda a Florença, ou, se eu dissesse que pizza de mussarela era a melhor comida, era capaz de muitas pessoas comerem pizza pelo resto da vida. Era uma responsabilidade enorme criticar alguém, pois isso influenciaria na vida de muitas pessoas. Era um absurdo pensar que uma pessoa pode mudar a opinião de outros, mas era a verdade. Mas não era o que os outros fariam no próximo dia que me importava, e sim o que havia acontecido naquela noite, aquilo que o dono do meu urso de pelúcia havia ganhado tinha feito.
Eu me lembrava. A cada minuto eu sorria quando lembrava. Meus lábios ainda ardiam; eles formigavam desde a noite passada quando Branden os tocou por míseros segundos, mas que se tornaram o motivo da minha noite sem sono. Branden foi minha companhia a noite toda, apenas em meus sonhos, pois pelo o resto do aniversário, eu fui arrastada de ponta a ponta junto com Cassie para fotos. Não que eu não gostasse de fotos - na verdade, eu gostava e muito -, mas eu queria conversar com Branden e saber o que aquele pequeno roçar de lábios havia significado, se era apenas por pena pela tonta princesa sem memória, ou se ela era realmente alguém muito importante para ele. Algo muito mais que uma amiga.
Parei no último degrau da escada, vendo malas sendo postas em um carro pela janela. Olhei para o lado e vi James e Melanie abraçando Marta. Espere um segundo, eles estavam partindo?
- Vocês estão partindo? - perguntei, descendo o último degrau da escada, vendo a expressões assustadas em seus rostos.
- Caroline? O que você faz acordada? - Melanie perguntou.
- Por quê? Não era para eu acordar? Vocês iam simplesmente partir sem nem ao menos dizer tchau?
- Marta disse que você ainda dormia, não iríamos te acordar.
- Então vocês estão partindo?
- Nós já faltamos muito tempo de aula, temos que voltar. É o nosso último ano, não podemos perder aula assim.
- Então eu devo ir com vocês. Eu também estudo lá. - virei-me para Marta - Marta, arrume minhas malas.
- Você não pode, Caroline. - Melanie falou, andando em minha direção.
- Por que não? - olhei para ela.
- Você está em recuperação. Não pode pegar um voo de horas até Londres. - ela segurou minhas mãos - Florença é sua casa. Você deve ficar aqui até se recuperar totalmente.
- Mas...
- É o melhor que você tem a fazer, Caroline. - Melanie me abraçou - Nós vamos sentir sua falta.
- Onde está o Branden?
- Ele está na biblioteca.
- Eu vou me despedir dele. - abracei-a - Eu vou sentir falta de vocês. - soltei-a e fui em direção a James, abraçando-o - Obrigada por tudo que vocês fizeram por mim. - separei-me dele - Espero vê-los em breve.
- Tchau, Caroline. - os dois falaram ao mesmo tempo.
Girei meus calcanhares em direção à biblioteca. Minhas mãos suavam e minhas pernas tremiam de acordo com o caminho que eu percorria até a biblioteca. Não era um longo caminho, mas parecia se distanciar a cada passo que eu dava. Eu estava mais nervosa do que nunca e eu podia sentir em casa nervo do meu corpo - o beijo Branden havia feito isso comigo. Podia ter sido apenas um tocar de lábios, mas isso havia causado o efeito de manadas de elefantes a cada vez que eu me lembrava.
Branden significava muito para mim. Eu sabia disso agora.
Respirei fundo, colocando a mão na maçaneta da porta e girei-a. Branden estava de costas para a porta, em frente à janela, analisando o enorme gramado lá fora, onde ainda podia se ver algumas pessoas do castelo trabalhando. Ele estava pensativo e com uma expressão séria no rosto, como se estivesse prestes a tomar uma decisão, e também segurava um livro em suas mãos, um livro velho que eu não conseguia identificar. Ele respirou fundo antes de se virar e me ver encostada ao batente da porta, parecendo assustado e surpreso.
- Pensei que você estivesse dormindo. - ele disse saindo de trás da escrivaninha.
- Acabei de acordar. - respondi, dando alguns passos em sua direção. - Você ia partir sem dizer adeus?
- Você estava dormindo, e não queríamos te acordar. Você está em estado de recuperação e, depois do esforço de ontem, achamos que você queria dormir.
- Eu sei, mas vocês são meus amigos. Eu tenho o total direito de me despedir de vocês, principalmente de você. - ele olhou em meus olhos - Especialmente depois de ontem. - ele sorriu.
- Caroline, aquilo foi... - ele se interrompeu - Um erro.
- Um erro? - perguntei, sentindo meu coração bater devagar.
- É. Eu não deveria ter feito aquilo, foi apenas um impulso. Eu nunca quis estar aqui para começo de história. - ele falou, afastando-se de mim e começando a andar até a porta - O James me obrigou a vir com ele porque a mãe dele nunca o deixa viajar sozinho, então eu vim.
- E por que você me beijou, então?
- Bem, você estava sozinha. Eu fiquei com pena. Eu tenho essa pequena queda quando meninas me olham do jeito que você me olhou.
- Então tudo não passou de pena para você? - falei, ainda de costas para ele. Eu não conseguia encará-lo, minha vista já estava turva, sinal que as lágrimas começariam a cair a qualquer instante.
- Você sabe como são os homens, não resistimos a um olhar tristonho das mulheres. - escutei seus passos se aproximarem de mim - Espero que você entenda.
- Mas é claro que entendo. - falei, limpando minhas lágrimas e me virando para ele - E também agradeço a você.
- Por quê?
- Por ter me mostrado que tudo que eu esperava de um homem era a mais pura verdade. - falei, desviando-me dele e andando até a porta.
- Caroline, espera. - ele segurou em meu braço - Eu...
- Tenha uma ótima viagem. Espero vê-lo... Oh, espere um segundo. Espero nunca mais vê-lo em minha frente. Adeus.
Fechei a porta da biblioteca com força e comecei a correr pelo corredor.
As lágrimas caiam do meu rosto, à medida que eu ia correndo. Passei pela sala, reparando que as malas de James e Melanie não estavam mais lá, sinal de que eles já iriam embora.
Talvez fosse melhor assim. Sem eles por aqui, eu poderia finalmente colocar minhas ideias no lugar e viver minha vida de acordo com as minhas obrigações de princesa, sem perder tempo imaginando o que havia acontecido comigo em Londres e o que aquele pequeno bastardo e arrogante significava em minha vida. Havia sido perda de tempo, ele estava apenas com pena da tonta princesa sem memória. Eu deveria ter previsto, mas eu preferi acreditar em meu coração.
Estúpido e bobo coração, não tomará nenhuma decisão.
Entrei em meu quarto, jogando-me na cama. Agarrei meu travesseiro na esperança de que tudo passasse, mas não passaria, pois o urso que ele havia me dado estava a alguns metros de mim, fazendo minha mente recordar-se de seu rosto.
É. Não passaria.

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