Capítulo 20

362 32 1
                                    

Por favor, volte. Não me abandone. Uma voz sussurrava em meu ouvido, mas eu não conseguia distinguir de onde ela vinha, a única coisa que eu sabia era aquela era linda. Meus pés moveram-se em direção àquela voz aveludada, que habitava meus ouvidos como uma linda melodia em um fim de tarde chuvoso. Era uma estrada sem fim, e, mesmo que eu fizesse esforço para ver o dono daquela voz, minha vista estava embaçada. A única coisa que eu conseguia ver era um par de olhos extremamente viciantes.

E, de repente, minha cabeça doía e um canto da minha barriga queimava por baixo da blusa, o que me fez apertar meus lábios, fazendo uma careta de dor. Água. Eu precisava de água. E muito, pelo visto.

Estendi minha mão para o lado, tentando alcançar o criado-mudo ao meu lado ou, pelo menos, o que deveria estar lá. De repente, barulhos irritantes de pequenas buzinas e apitos ecoaram ao meu lado.O que é isso?, pensei, tentando mover minha outra mão. Dei-me por vencida e abri meus olhos, machucando-os com a luz do sol que entrava no meu quarto, o que me fez gemer baixinho e fechar meus olhos novamente. Quem havia deixado as cortinas abertas iria pagar pela brincadeira de mau gosto, pensei, tentando levantar meu corpo para fora da cama para que eu pudesse fechar as cortinas e dormir o resto do dia. Eu estava muito cansada e não sabia o porquê.

Virei minha cabeça para o lado, abrindo meus olhos e a imagem a seguir foi a mais assustadora e linda que eu já havia visto. Um garoto estava deitado por cima da minha mão e a segurava entre as suas, apertando-a com certa força. Sua pele era branca e seu cabelo era de um tom escuro e ele aparentava estar cansado, as olheiras debaixo de seus olhos acusavam que não dormia há dias. Ele parecia um anjo, um anjo ferido pelas preocupações do mundo. Ele era lindo, perfeito; seu rosto parecia ser esculpido para ninguém botar defeito. Eu queria conhecê-lo, queria que ele abrisse os olhos, queria ver a cor de suas íris, queria ver seus lábios vermelhos rodearem um sorriso lindo. Cheguei a pensar que ele não era de verdade, que aquilo era fruto da minha imaginação. Que eu estava sonhando.

E, lentamente, aqueles olhos se abriram e me encararam, parecendo me decifrar em questão de segundos. Meus olhos se arregalaram, e a única coisa que eu consegui formular foi um grito. Um grito tão alto que fez o garoto se levantar assustado, encarando-me com uma estátua.

- Caroline... - ele falou com uma voz chorosa. E a minha vontade foi de levantar e abraçá-lo forte. E, mesmo que o quisesse, não conseguiria fazer. Não antes de perguntá-lo como ele sabia meu nome.

Quando eu já havia juntado minhas forças para mandá-lo embora de meus aposentos, um homem em seu jaleco branco entrou em meu quarto acompanhado de meu pai, minha mãe, Lucy e mais dois desconhecidos. Olhei em volta, analisando onde eu estava, e, com toda certeza, não era meu quarto. O que diabos eu estava fazendo em um hospital?

- Oh, minha filha, - minha mãe andou em minha direção - eu fiquei tão preocupada. - ela me abraçou e pude perceber que lágrimas rolavam de seu rosto - Nós pensamos que você não voltaria para nós.

- O que está acontecendo? - perguntei, ajeitando-me na cama com um pouco de dificuldade.

- Você não pode fazer esforço. - o garoto, que estava deitado sobre minha mão, disse.

- Pelo o que eu saiba, meu pai é outro, garoto. - falei, olhando para seu rosto e não, para seus olhos. Eu era fraca demais para encarar olhos tão lindos sem gaguejar.

- Caroline, por que você está falando assim com o Branden? - minha mãe perguntou.

- Deve ser porque eu não o conheço e ele estava dormindo em cima da minha mão? - perguntei, cruzando os braços - Aliás, o que você estava fazendo dormindo em cima da minha mão?

Flawless CurseOnde histórias criam vida. Descubra agora