Atravessei o enorme corredor olhando os quartos e encarando o segundo à direita, era o quarto de Lucy. Andei até a porta, parando na mesma e colocando a mão na maçaneta, eu estava aterrorizada, era a primeira vez que eu iria entrar no quarto de Lucy depois de sua morte e depois de sua fase rebelde. Girei a maçaneta sendo em vão, estava trancada e, com toda certeza, Esmeralda tinha feito isso para afastar mamãe de um sofrimento maior quando entrasse ali dentro. Esmeralda estava com a nossa família por anos, ela veio de Florença quando Lucy nasceu papai disse que queria alguém de confiança para cuida dela. Girei meus calcanhares em direção ao quarto de minha mãe, que ficava no final do corredor, coloquei a mão na maçaneta da porta sem girá-la. E, de repente, um medo subiu por minha espinha, mamãe estava na pior e eu me culpei parcialmente por não ter vindo antes, muito antes de Lucy morrer, ficar um tempo com ela, mas o medo daquela vizinha psicótica e o meu desejo de ficar em Florença eram maiores. Eu sei que deveria ter ficado aqui quando as coisas apertaram e Lucy havia virado uma punk idiota que chegava tarde em casa e, na maioria das vezes, chapada ou bêbada e humilhava mamãe fazendo-a chorar, mas, para mim, Lucy estava passando por alguma fase de descoberta do seu verdadeiro eu - uma tremenda estupidez, devo ressaltar. Lucy havia mudado e se tornado uma dessas jovens que odeia os pais por eles serem ricos. Lucy, que costumava ser uma das melhores irmãs que eu já tive, havia se tornado uma vadia sem coração e, bem, eu a estava odiando por isso. Ainda me lembro das inúmeras vezes que nós havíamos brigado por causa de algo que ela falava ou fazia, nós havíamos passado de irmãs para duas desconhecidas. Eu havia criado um ódio pela minha própria irmã e, por mais que parecesse errado, algo dentro de mim dizia que era o certo. Eu estava desejando que ela estivesse aqui para eu poder dar-lhe umas boas bofetadas para colocá-la em seu lugar. Deus, me perdoe por esses pensamentos.
Adentrei o quarto de minha mãe - que era conhecida como Emily por todos - vendo-a assistir "As Branquelas".
- Esse filme é épico. - falei, fechando a porta atrás de mim - Um dos meus preferidos.
- É um dos meus preferidos, era o de Lucy também. - ela falou murchando o sorriso - Ela amava esse filme. - ela disse deixando as lágrimas correrem por seu rosto.
- Oh, mãe, - falei, andando em sua direção e sentando-me em sua cama, puxando-a para um abraço - você não precisa se culpar assim.
- Ela se foi, Caroline, ela se foi e é tudo culpa minha.
- A culpa não é sua mãe, foi um acidente.
- Se eu a tivesse criado, se eu tivesse sido uma mãe melhor...
- Você é uma mãe incrível, a culpa não é sua. Lucy foi irresponsável, não se culpe por algo que você não poderia prever.
- Eu a deixei ir. Se eu a tivesse impedido...
- Não adianta chorar pelo leite derramado. Se você a tivesse impedido, ela teria ido de qualquer jeito.
- Ela mudou muito depois.
- Depois?
- Ela se tornou uma desconhecida para todos.
- Ela se tornou uma tremenda vadia, isso sim.
- Não fale assim da sua irmã. - ela me repreendeu.
- Mãe, eu falo da Lucy do jeito que eu quiser e, aliás, eu não estou mentindo.
- Ela apenas se misturou com quem não deveria.
- Não tente defendê-la, Lucy nunca foi uma pessoa influenciável, ela sabia as consequências de seus atos.
- Você fala como se a odiasse.
- Eu não a odeio, mãe, ela apenas não parecia ser minha irmã. Ela era outra pessoa.
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Flawless Curse
Mystery / ThrillerMudar de cidade nunca é uma tarefa fácil. Mudar de país então, era a última coisa que ela desejava, porém, com tudo que tinha acontecido, alguém tinha que cuidar da sua mãe e, obviamente, sua filha estava no topo da lista. Tudo parecia uma tarefa f...