Um novo dia, novos problemas

19 2 5
                                    

Já estava meio acordado, ouvi a porta do meu quarto abrindo e depois um suspiro, como se alguém tivesse se assustado.

— Caralho! — ele exclama.

Coloco a cabeça pra fora do lençol e olho para meu pai. Ele não costuma falar muito palavrão, então deve ter se assustado mesmo e eu não sei o motivo.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei com a voz rouca, afinal acordei agora.

— Eu vim bisbilhotar! — ele diz com tanta simplicidade que eu não sei se acredito. Ele ri e passa a mão no cabelo — Esqueci que você foi expulsou da escola, não esperava te ver aqui. Levei um susto desgraçado quando vi o lençol se mexendo.

— Você precisa ver isso com um médico, vai que é Alzheimer.

Me espreguiço e levanto, em seguida ouço meu pai reclamando e logo o vejo virando de costas.

— Eu não precisava te ver pelado, sabia? Por que levantou?

— Desculpa, esqueci que estava pelado! — vou em direção ao banheiro, mas me viro pra ele novamente, agora me sinto mais acordado e me dou conta do que realmente está acontecendo — Desculpa uma ova! O que diabos você veio fazer no meu quarto? Se eu tô pelado aqui é mais do que normal, você que não devia entrar assim!

— Eu já disse que vim bisbilhotar! — ele vira novamente e faz careta, depois coloca a mão pra frente, talvez para ocultar o que ele não deseja ver —  Eu sempre venho aqui depois que você vai pra aula e às vezes de madrugada, só pra ver se não tem nenhuma carteira de cigarros escondida por aí.

— Entendi! — entro no banheiro de uma vez, preciso fazer minhas coisas. — Vê se não faz mais isso, eu não fumo mais! Nunca mais falei com o Yan.

— Então era ele que conseguia os cigarros pra você? Eu bem que desconfiei... aliás, se arruma aí que nós vamos sair!

— Pra onde? Não tô muito afim não! — ele nem falou para onde íamos e eu já estou dizendo que não vou, preciso ter mais paciência antes de negar as coisas.

— Você andou me enrolando muito desde que fez dezesseis anos, tá na hora de tirar sua habilitação. E nem adianta dar a desculpa de que está cansado e que tem trabalho da escola pra fazer, porque você foi expulso, então tem tempo de sobra.

— Tá, mas que saco! Para de jogar isso na minha cara.

— Eu vou jogar quantas vezes for preciso! — ele bate na porta do meu banheiro, e noto um leve tom zangado em sua voz — Você tá me ouvindo? Espero que sim e pense muito bem no que você fez! Brigando na escola depois de tanto tempo e sabendo que seria expulso se acontecesse novamente. Você ficou maluco?

— Okay, me desculpe! Mas você bem que podia esperar eu acordar direito pra brigar comigo, né?

— Heitor, eu vou te bater e não é pouco se você continua debochando!

Dou uma gargalhada, essa e a primeira vez que ele ameaça me bater e eu não acredito nenhum pouco nisso, até porque seu tom de voz não está tão severo assim.

— Vou pegar meu cinto. Quando você sair desse banheiro e melhor estar preparado!

— Tá bom, pai! Tá legal!

Bato na minha testa e balanço a cabeça negativamente, quando me olho no espelho, percebo que bati um pouco forte demais, pois ficou meio vermelhinho, mas logo vai sumir. Trato de escovar meus dentes, depois tomo um banho e saio com a toalha enrolada na minha cintura, para minha surpresa meu pai estava realmente me esperando com um cinto na mão. Arqueio uma sobrancelha e começo a me desesperar quando ele levanta, mas também não consigo ficar totalmente sério.

Heitor Onde histórias criam vida. Descubra agora