Coisas inesperadas

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É tão estranho ficar em casa em dia de semana quando não é férias e nem feriado, o pior é que fico sozinho, pois meu pai e Janne estão trabalhando. Mas pelo menos Janne chega na hora do almoço e me faz companhia por um tempo, depois ela vai se deitar. Cada dia que passa parece que ela tá mais pálida. Hoje é sexta e amanhã felizmente vou ter companhia e vou passar um tempo com meu pai, nunca senti tanta falta dele quanto agora. Me recusei a sair com minha mãe algumas vezes, não quero dar muita abertura para ela, além do que é muito chato. Decidi ficar um pouco na sala e assistir algo, pois não vale a pena sair de casa com um sol de pelar.

Que tédio.

Ouvi batidas na porta e sentei no sofá sonolento, estava passando algo bem aleatório na TV agora. Ouvi batidas novamente e levantei, depois abri a porta de casa e me surpreendi ao ver Anthony. Arqueio uma sobrancelha.

— Cê matou aula?

— Não! Já são quatro horas, você bebeu ou o quê? — ele suspira e passa a mão no cabelo — Preciso falar com você, posso entrar?

Abro mais a porta e deixo ele entrar, mas vou até a cozinha beber uma água. Não acredito que eu dormi, sinceramente, agora tô me sentindo um velho. Me volto para Anthony que me seguiu até a cozinha e bebo minha água.

— Fala aí!

— Foi mal, beleza? Eu sei que fui meio babaca com você por causa da Isabella! Eu... — ele dá uma pausa e olha para um canto aleatório, depois coça a cabeça.

— Tá com piolho?

— Não! — ele me olha meio bravo — Cala a boca, eu tô tentando me declarar aqui!

— Eu não gosto da fruta, amigo!

— Cala. Essa. Boca. — ele bufa e eu começo a rir, logo ele ri também, mas depois fica meio pensativo — Não, não é nesse sentido. Eu sinto sua falta, cara! Você é meu único amigo e a Liz tá namorando. Ela e o namorado até passam um tempo comigo, mas me sinto segurando vela para eles. Além disso o cara é meio esquisito. É igual você na verdade, só quero com um senso de humor diferente.

— Eles tentam copiar, mas continuo sendo o rei delas! — mando beijos para o ar e por fim um para Anthony.

— É isso o que falta nele, um pouco de carisma eu acho! O cara parece o Google querendo fazer graça — Anthony suspira e senta em uma cadeira — Quero meu amigo de volta, sério!

— Tudo bem, eu não estou bravo com você! Na verdade também senti sua falta. — pisco para ele com um olho e rosno para fazer uma graça. Ele revira os olhos e mostra o dedo do meio. Finjo indignação e pego no peito — Toy, com quem você apreendeu isso?

— Vai se ferrar! Não me chama assim... Tuto! — seu tom foi meio debochado.

Cerro os olhos e mostro o dedo do meio pra ele também. É estranho que outra pessoa me chame assim sem ser meu pai, já falei isso.

— Não, mas falando sério agora... — ele começa e me viro para fazer um café — Eu tô com medo de participar do jogo!

— Por que? É só pegar a bola e correr!

— Você sabe que é uma posição tão importante quanto a do quarterback e a pressão é enorme! Olha só o que aconteceu com você no treino. Foi uma lesão grave e talvez por sorte você não precisou operar. Imagine só como vai ser em um campeonato escolar, os caras vão querer me comer vivo.

Umedeço meus lábios e olho para ele, me aproximo e sento na mesa, depois olho para meu tornozelo. Realmente foi grave e eu ainda sinto um pouco de dor quando ando, de vez em quando incha também. O fisioterapeuta falou que mesmo se passar um ano, eu não estarei 100 %, vou acabar sentindo se eu fizer muito esforço, como pular e correr por muito tempo, carregar muito peso, essas coisas.

Heitor Onde histórias criam vida. Descubra agora