De volta ao infer... digo, à escola

34 6 9
                                    

Na segunda-feira, fomos ao hospital para fazer o raio-X e descobri que rompi um ligamento do tornozelo direito. Os outros tiveram lesões leves, ou seja, uma lesão de grau três e três de grau um... parece até piada.

Também fui ao dermatologista e, como esperado, está tudo bem – nada de câncer de pele por enquanto. Não que eu esteja prevendo algo, mas nunca se sabe, nessa cidade, os riscos são grandes. Com sorte, morro de velhice.

Para completar, tive que passar uma semana preso em casa, esperando minhas muletas e uma bota que vai manter meu pé imóvel. Vou ter que usá-las por pelo menos um mês. Ficar em casa não foi tão ruim, meu pai aproveitou para "tirar folga" e me fazer companhia. Na obra, ele já não era tão necessário, estavam em outra fase.

Enquanto ando pelo corredor, me equilibrando nas muletas, percebo os olhares curiosos. Acho que a presença do meu pai ao lado também chama atenção. Ele veio apenas para me trazer e conversar com a diretora sobre minhas faltas. Já consigo prever o sermão, porque sei que ela não vai aliviar. Não costumo faltar, mas me atraso muito e, às vezes, perco as primeiras aulas quando meu pai não me traz. Faz tempo que não mato aula, mas a vontade sempre aparece.

Entramos na sala da diretora e os olhos dela brilharam ao ver meu pai. Não, ela não está apaixonada, só ansiosa para me detonar. Ele raramente aparece por aqui.

— Christian, que bom que está aqui! Temos muito o que conversar! — ela disse de forma simpática. E que papo é esse de Christian? Eles não têm toda essa intimidade. Eles apertaram a mão e ela e me deu um sorriso macabro – ou talvez seja coisa da minha cabeça. — Pode ir para a sua sala, senhor Hendrix!

Arqueio uma sobrancelha. Ela só está sendo educada por causa do meu pai. Normalmente, ela me chama de delinquente, inconsequente, peste. Não tenho o que fazer na sala dela, então apenas saí de uma vez. Fui ao corredor dos armários para pegar minha mochila. Como os professores não passam tarefas para casa, às vezes deixo ela, acho que ficou no dia anterior ao dia que me machuquei. Quando fui colocar a mochila no ombro, alguém a puxou de repente. Por um segundo achei que iam se aproveitar da minha vulnerabilidade pra me bater, mas era apenas Anthony sendo prestativo.

— Eu levo para você! — ele sorriu e colocou a mochila no ombro. — Você tá mal, hein?

— Um pouco… — olhei para a bota esquisita que prendia meu pé e voltei a encará-lo. — Mas é meu pé que tá ferrado, não meu ombro!

— Não reclame, seu ingrato! — ele começou a andar, e eu fui atrás. — Desculpa por não ter ido na sua casa semana passada. Minha mãe me deixou de castigo e sem celular. A culpa foi sua, só pra constar.

— Minha? O que eu fiz?

— Quebrou o pé! Brincadeira. Foi porque eu não pedi permissão antes de confirmar com seu pai que iria lá. Mas acho que ela só não queria deixar eu te ver mesmo. Ela até veio me buscar na escola esses últimos dias pra me impedir de ir até sua casa depois da aulas.

— Sério? Sua mãe realmente não gosta de mim! — Ri da situação, que parecia cômica para mim, mas trágica para ele. — Tudo bem. Conheci a namorada do meu pai, ela é bem bonita… mas já tô enjoando da cara dela. Ela vai lá em casa todo dia!

— E qual o problema? — Ele arqueou uma sobrancelha.

— O problema é que ela rouba toda a atenção do meu pai! — Fiz uma careta, e ele começou a rir. — Qual a graça?

— Eu vivi para ver o Heitor com ciúmes! — Ele disse, rindo.

— Cala a boca, seu idiota! — Quase dei um chute nas costas dele, mas lembrei que meu pé direito estava fora de combate. Se eu tentasse me apoiar com as muletas, provavelmente cairia. Então só bufei e continuei andando. — E a Liz?

Heitor Onde histórias criam vida. Descubra agora