Filho da Lua

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Hoje é quarta-feira, e só de pensar que amanhã tem aula de educação física já sinto dores no corpo e o cansaço. Já mencionei que sou bem disputado quando o assunto é esporte e isso significa que estou em quadra mais tempo que qualquer um. Também já falei que sou besta, certo? Pelo menos eu espero que seja algo tranquilo para que eu não faça muito esforço.

Deixando isso de lado, acabai de contar aos meus amigos sobre a conversa que tive com meu pai sobre a possível namorada dele, que é sua ex-terapeuta.

— [...] Meu pai é realmente uma figura! — concluo, rindo.

Ontem passei um tempo com a Liz, mas não costumo falar da minha vida com ela, agora que Anthony está presente, é mais natural falar.

Estamos almoçando na cantina, e o clima é descontraído. Ainda sinto uma leve tensão sexual quando cruzo olhares com Liz, e acho que isso não vai sumir enquanto a gente não resolver nossas questões. Há dois caminhos possíveis: da gente se afastar depois de transar, se afastar por não transar, ou transar e viver como se nada tivesse acontecido, mas vai ser impossível "esquecer" já que vamos topar um com o outro sempre.

— Eu não sei como você consegue rir com a ideia de outra mulher ocupando o lugar da sua mãe! — comentou Anthony, me olhando com uma misto de tristeza e confusão. — No seu lugar, eu estaria um pouco... sentido. Só de imaginar minha mãe com um namorado, já fico desconfortável.

— Por que você ficaria desconfortável se sua mãe arrumasse um namorado? — faço uma careta — Ela não quer que você namore, ela não namora, que relação estranha. Tenho certeza que ela tá precisando de uma pica e você de uma buceta. Mas olha bem suas atitudes e o que você fala, isso soa como uma relação muito estranha entre mãe e filho! — pode me chamar de mente poluída, mas toda essa situação é muito perturbadora.

— Cala a boca, seu... — Anthony começa, até espero pelo chingamento, mas ele só suspira — Eu não sei, tá? Ela sempre diz que quem namora deve casar, então seria estranho que ela arrumasse um namorado. Ela sempre diz por aí que é viúva e que não pode casar novamente porque só tem um marido, e viver com um homem sem estar casada seria um pecado. Seu pai é divorciado, também não poderia casar com outra mulher!

— Cara... — fico até um pouco triste pelo Anthony, parece que ele tá acorrentado. Mas as coisas estão um pouco tensas pra eu demostrar pena — Meu pai não é religioso, então não fica julgando ele com seus princípios religiosos! Eu quero que meu pai seja feliz com alguém que realmente o valorize e o mereça, se eles vão casar ou só foder até se cansarem um do outro eu não me importo, desde que ele fique feliz no processo. Eu entendo que você tenha uns pensamentos meio conturbados porque sua mãe é uma maluca, mas nossa situação a diferente! Seu pai morreu, minha mãe me abandonou, quer que eu fique triste porque meu pai vai finalmente esquecer aquela desgraçada?

— Olha como você fala da sua própria mãe, que desrespeito! Que coisa feia! E minha mãe não é maluca! Só porque você é um depravado, não vem dizendo que minha mãe é a errada por ser reservada!

— Calma, meninos! — Liz pede, parecendo um pouco nervosa pela discussão entre Anthony e eu — Estão todos olhando!

Suspiro e balanço a cabeça, irritado. Para quem não gosta de ficar falando da vida, tô exponto para toda a escola agora. Que assunto infeliz. Mas só posso culpar a mim mesmo por me alterar aqui.

— Ah, vão se foder! — me levanto e saio rumo à sala de aula.

Não gosto de lembrar da minha mãe, não gosto de falar dela, as coisas sairam do controle e acabei ofendendo a mãe de Anthony e os princípios dela. Eu até entendo o pensamento dela, tivemos aulas de ensino religioso na escola, então não é uma surpresa que ela não se sinta à vontade em se relacionar com alguém. Mas também sei que ela é bem preconceituosa e crítica. Lembro da reação dela quando me viu pela primeira vez. Não gostou logo de cara por causa dos meus brincos, me chamou logo de gay e disse que o filho dela não deveria fazer amizade comigo. Não que me ofenda, mas eu me defendia da pior forma possível, dizendo que eu adoraria provar o contrário no quarto dela. Não preciso nem dizer que fui expulso da casa dela, certo? Mesmo assim ela não conseguiu impedir minha amizade com o filho dela e hoje em dia até frequento a casa dela, mas ela não oferece nenhuma hospitalidade, além de ignorar minha presença.

Heitor Onde histórias criam vida. Descubra agora