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»»DEZESSETE««

ɴᴏᴀʜ

— Alteza, peço o seu perdão real. — Kyle ainda sorria, no fim de sua gargalhada anterior, e mantinha o tom solene, embora não me enganasse em nada com sua ironia.

— Vá se foder, Kyle.
— Mas, cara, quando lembro de você saindo daquele buraco… — Mais uma vez riu.
— Isso não teria acontecido se você tivesse feito seu trabalho direito.
— Claro… eu deveria ter me empenhado ao máximo para cobrir sua retaguarda contra a tirania daquele ardiloso coelho. Vossa Alteza está certo.

— Se o tivesse cercado conforme o meu plano…

—Abram os portões! — Ouvi alguém gritar quando nos aproximamos das grades e da muralha, interrompendo-me por um instante.

— Hum?
— Eu não teria tido a necessidade de me enterrar.
— Correção, Alteza, com o devido respeito, é claro, mas o coelho teria fugido e nós teríamos retornado para o abrigo. Mas foi Vossa Alteza quem transformou isso em vida ou morte… para o coelho estúpido, no entanto, não foi ele quem quase acabou virando Churrasquinho Real.

— Por sua culpa, fiquei horas enterrado, prendendo a respiração.

— Uma coisa boa que possa fazer isso, não? Em todo caso, não foi por minha culpa. Seja o nobre que nasceu para ser e diga com honestidade se foi culpa minha que estava perdendo a cabeça.

— É que ela me frustra! — retorqui entre os dentes.
— Ela? A Sina Black?
— Senhorita Black — corrigi.
— Para você, talvez, que nasceu na época das colonizações. Sou da década de noventa, cara. As mulheres perderam esses pronomes de  tratamento desde a liberação feminina. Eu estudei história, Vossa Alteza viveu a história, deveria se lembrar disso.

— Cala a boca, Joshua.
— Porra…

Ele odiava quando o chamava pelo nome. Quando descobriam sobre seu nome, o chamavam de Joshua Basset anabolizado. Foi minha vez de rir, embora sem metade do entusiasmo dele.

Ficamos em silêncio até chegarmos em Creones, onde um barco esperava para nos levar à Anell Angels. O porto pesqueiro, que atendia à região oeste da ilha de Alkmene, estava localizado longe das fazendas e da vila de shifters, que seguia a partir dali até Vale Potenay.

— Ainda preferia ter vindo de carro… estou com a porra da minha bunda dolorida — resmungou. — Isso é mesmo coisa de gente apegada ao  colonialismo…

— Isso tem mais a ver com você caindo em um arbusto de espinhos do que a pobre Perola… — respondi, referindo-me à sua égua.

— Não teria caído naquela merda se um certo príncipe de Alkmene não tivesse me assustado.
— Já disse que foi um acidente, pare de resmungar feito uma velha.

A noite estava tranquila quando deixamos nossos cavalos com os guardas que nos acompanhavam. Bailey nos esperava em seu novo e moderno barco a motor.
— Podem dizer o quanto é uma beleza esta maravilha náutica. Digam mesmo, porque custou muito mais do que eu deveria ter pago.

Subi a bordo, a todo momento, com a esperança de que Sina viesse  conosco. Mas não. Ela ainda não estava pronta para nós, talvez, nem estivesse realmente considerando esse “nós”, e essa era a possibilidade que me quebrava por dentro.

— É melhor que aquela banheira horrorosa que seus pais te deram. Não me leve a mal.

— Vá se foder, Kyle. Você não reconheceria um clássico nem se fosse atropelado por ele.
— Vocês resolveram me xingar hoje… Eu posso aceitar essa merda, porque sou o único aqui com a cabeça no lugar. Vocês têm problemas com  mulheres, então compram coisas enormes para compensar ao que o ego de vocês foi reduzido. Além disso, aquele é um clássico tão bosta que comprou esse novo barco.

🎯|ᴏ ᴘʀɪ́ɴᴄɪᴘᴇ ᴅᴏs ᴠᴀᴍᴘɪʀᴏs » sᴇɢʀᴇᴅᴏs ᴅᴇ sᴀɴɢᴜᴇ • ɴᴏᴀʀᴛ [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora