Lençóis de Seda

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Segredo: substantivo masculino, o que há de mais escondido, o que se oculta à vista, ao conhecimento.

Ponto de Vista do Narrador:

A ira de Marta resultou em uma acalourada briga, deixando todos a sua volta surpresos. A imperatriz é segurada pelo filhos enquanto recebe ameaças da amante do marido. Sem dar chances da melhor amiga responder, Ana Helena agarra Ísis e a tira da empresa aos gritos.

José Alfredo, sem falar nada, entra em sua sala. Pela primeira vez, o comendador não sabia o que fazer. A culpa consome o homem aos poucos, o fazendo definhar em seus próprios pensamentos.

Após a briga, Marta não disse uma palavra, apenas arrumou sua roupa, ergueu a cabeça e saiu forte, sem derrubar uma lágrima. Ana Helena, acolheu sua amada e a levou até seu apartamento, deixando-a livre para extravasar seus sentimentos.

A dor da imperatriz era descontada em gritos e lágrimas desesperadas. A dor da traição veio à tona com toda intensidade, mas junto dela, o sentimento de dever cumprido, dar aqueles tapas em Ísis foi como um combustível. Naquele momento Marta percebe que nada nesse mundo é capaz de pará-la, a ira é como um sopro de vida.

Ponto de Vista de Maria Marta:

- Eu bati na amante do meu marido. - Digo, gargalhando.

- Maria Marta você bateu na amante do seu marido. - Heleninha responde em meio a risadas.

- Não acredito que me prestei a esse papel! Mas quando eu vi, já estava em cima da garota. - Admito, ainda sem acreditar.

- Vai ser difícil ela beijar alguém pelos próximos meses! Você quase arrancou a boca daquela vadia.- Ironiza.

Naquele momento nossos olhares se cruzaram e em meio a gargalhadas percebemos o quão malucas somos. O que seria de mim sem Ana Helena?!

- Marta, deixe-me ver as suas mãos! Olha o inchaço disso! - Ela diz, levantando e pegando gelo para aliviar os machucados.

Cuidadosamente ela passa o gelo em minhas mãos, fazendo o inchaço dos meus dedos diminuir. Os anéis que uso cortaram minha pele fazendo machucados superficiais.

- Quem diria que depois de tanto tempo você ainda teria paciência para me cuidar. - Digo.

- Eu sempre terei paciência para cuidar de você. - Ela responde, olhando em meus olhos. - Eu te amo, Marta. Sempre amei, e durante esses vinte anos nada mudou.

Ana Helena foi a única mulher da minha vida, ela me fez experimentar coisas que jamais imaginei. Essa maldita é o maior segredo que carrego, julgo José Alfredo, faço escândalos e digo o quanto doeu ser traída, mas quem traiu primeiro fui eu, há dezoito anos atrás, com alguém que ele nunca suspeitaria.

Essa mulher me enfeitiçou, me seduziu e me proporcionou momentos que nunca tive com meu marido. Pensei ter deixado essa história no passado, mas como ela diz: o passado pode virar futuro, basta eu querer.

E eu quero.

Ponto de Vista do Narrador:

Entre quatro paredes, Marta e Helena nunca foram amigas e dessa vez não será diferente. Marta tira o gelo das mãos de Helena, o jogando no sofá. A imperatriz puxa a arquiteta para perto dela, segurando-a pela cintura.

- Você joga sujo, Maria. - Diz a arquiteta em um sussurro.

- E você ama quando faço isso. - Responde Marta.

O silêncio se fez presente, as mulheres falavam com o olhar. Ana Helena, analisava cada detalhe de Maria Marta, admirando-a como uma deusa. Suas mãos passeavam pelo corpo da amada, suavemente, matando a saudade de cada parte da mulher. Os belos olhos azuis de Marta brilhavam como apatitas. Helena, paciente, passou a mão no rosto de Marta, e sem demoras à puxou para um beijo. A intensidade e a calmaria viraram melhores amigas naquele momento.

Olhos de Apatita - Malfred [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora