Olhos de Apatita - Malfred [EM REVISÃO]

Liberdade

Culpa: substantivo feminino, responsabilidade por uma ação que ocasiona dano ou prejuízo a outra pessoa. Ato ou omissão repreensível ou criminosa, falta voluntária, delito, crime.

Ponto de Vista do Narrador:

Por um impulso Ana Helena atira em Maria Ísis. O silêncio toma conta do ambiente, só resta a respiração pesada de Helena. Maria Ísis foi atingida no abdomen, ensanguentada, a menina dá seu último suspiro, o sangue escorre em sua boca, seus olhos perdem o brilho, seu corpo desiste e o coração para. Um tiro certeiro que marcou o fim do problema de Marta. O preço de uma vida é o valor de uma vingança. O quão valiosa é uma vingança?! Mesmo com todas as consequências que acarreta, Ana Helena estava disposta a pagar esse preço.

A arquiteta sai em seu carro, imaginando mil coisas, alterada por causa da bebida e anestesiada por conta de todos os acontecimentos de seu dia. Helena foi do paraíso ao inferno, o medo da mulher não é ser presa, seu medo é não ter o perdão de Maria Marta. Para a mulher, viver uma vida sem Marta é como morrer e permanecer vivo.

O corpo da jovem fica estagnado no meio da rua, em meio ao sereno da noite. Uma rua pouco movimentada, um tanto deserta, talvez demore a ser encontrada.

Ponto de Vista de Ana Helena:

Vejo a menina deitada no chão, o tiro atingiu seu abdomen, tem sangue para todo lado. Ela está estática, eu matei Ísis. Acredito que esse não seja somente o fim dela, mas o meu também. Eu matei uma pessoa, uma menina que tem a idade da minha filha, e agora?

Ainda em choque vou até meu carro, pego meu celular e tento discar o número de Marta. Como sou tola! Ela não pode me ajudar, ela seria a única que me ajudaria. Desesperada bato minhas mãos no volante, fazendo a buzina de meu carro apitar. Bebo os últimos goles de meu whiskey, coloco as mãos em minha cabeça e choro desesperadamente. Eu preciso agir agora.

Saio do local deixando o corpo da menina estirado no meio da rua, uma hora alguém vai acha-la, se fosse uma de minhas filhas eu iria querer que encontrassem. Dirijo ultrapassando sinais vermelhos, o que são algumas multas perto do que acabei de fazer? Oh céus! Eu deveria ter virado atriz, queria tanto que isso fosse apenas uma cena de teatro, mas é a amarga realidade. A realidade é ácida, ela dói, ela nos mata sem dó nem piedade, ela tira todas as nossas máscaras e somos obrigados a conviver com o fato de sermos nós mesmos.

A minha vida inteira foi um teatro, mesmo eu estando tão longe dos palcos. Nasci uma menina rica, estudei em colégio de freiras, rezava todas as manhãs, cresci e fiz faculdade de arquitetura, mesmo meu coração clamando pelas artes cênicas, casei com um belo rapaz que na época era advogado, casei com um homem mesmo amando mulheres, sempre amei mulheres mas preferi atuar e ter uma vida "perfeita", logo após engravidei e odiei cada fase, desde os enjoos até a hora do parto, odeio ter sido mãe mas amo minhas filhas. E agora eu me pergunto se valeu a pena, valeu a pena? Não! Pois a minha vida perfeita acaba de ser destruída. Um quase divórcio nas costas e um assassinato. A única pessoa que me mantém de pé é Marta, mas nem sei se ainda está viva, espero que esteja, mas de toda forma ela deve me odiar agora, e com razão pois além de eu acabar com a minha vida "perfeita", acabei ou quase acabei com a dela também.

Eu poderia ir para o meu apartamento, lugar este que só Marta conhece, mas é melhor ir para casa mesmo, os meus lençóis ainda devem ter o perfume dela levando em consideração que nunca mais fui lá, e essa é uma lembrança que não quero ter agora.

Ao chegar em casa, sou recepcionada pelas minhas filhas e meu quase ex marido.

- Ana Helena por onde você andou? - Diz Luiz apavorado.

- Mãe nós estavamos doidos a sua procura. - Responde Cecília.

- Pensei que tinha acontecido alguma coisa com você! Você está bem? - Pergunta Maria Luísa.