Olhos de Apatita - Malfred [EM REVISÃO]

Além do Tempo

Altivez: substantivo feminino, característica de altivo, de quem ou do que revela nobreza, dignidade.

Outono de 2015, 12 de Maio, 18 horas e 58 minutos.

Ponto de Vista de José Alfredo:

Após a conversa com Maria Marta nada mais faz sentido para mim. Não sei o que sinto por ela, eu já amei Marta com todas as minhas forças, prometi riquezas e lealdade a ela, e eu sei que o causador de todo esse tormento sou eu, eu sei que feri ela, minha esposa apenas se defendeu. Depois de 30 anos juntos, o relacionamento esfriou, os filhos cresceram, os negócios expandiram e só nos restou conviver dia após dia, sem nem mesmo nos olharmos nos olhos.

Quanto a Ísis, foi uma paixão inesperada, a tempos eu não sentia isso. Foi amor? Não, apenas um sentimento forte, disfarçado de amor. Ísis mudou com o passar do tempo, me causa mais dor de cabeça do que qualquer outra sensação, mas continua sendo uma válvula de escape, um refúgio.

A ascensão de Marta nos negócios me deixou como coadjuvante da minha própria empresa. Foi um momento de fraqueza minha, e de alguma forma precisei me sentir vivo novamente. E ai aparece aquela doce menina, ingênua e tímida, me olhando com orgulho e me dizendo o quão importante eu era. E eu caí nos encantos de uma mente traiçoeira, logo eu, um homem que sempre manipulei todos com tanta facilidade.

As vezes eu queria ser indestrutível como Marta. Ela me largou e fez um império novo, enquanto eu me contive e caí na lama. Meu orgulho não me permite dizer a ela, mas reconheço a capacidade da minha esposa em ser espetacular em tudo que faz. Espero um dia recuperar a minha essência, e ser aquele menino ambicioso, livre e destemido de anos atrás.

- Chegamos, comendador. - Diz Josué, ao chegarmos em minha casa.

Saio do carro um pouco atordoado devido as altas doses de whiskey que bebi. A bebida é a minha melhor amiga ultimamente.

Ao adentrar a casa, escuto gritos. Que diabos! O que Marta está fazendo dessa vez. Cautelosamente, escuto um pedaço da conversa.

- Sou inabalável, indestrutível, e espero que sejam assim um dia. - Diz Marta, soberba. Ela não cansa, sempre dando chiliques por aí.

Permaneço em silêncio, preciso saber o porquê dela estar gritando desta forma.

Ponto de Vista de Maria Marta:

- Eu sou rica, rica! Eu tenho o quero, na hora que quero. Tenho pessoas me servindo, e eu pago muito bem por isso. Mas o vazio está na alma. - Desabafo. - Nos últimos 8 anos tive que renunciar tudo o que sinto, assumi uma postura altiva, seu pai estava por aí, bebendo em bares, quem sabe até me traindo com outras mulheres. Não culpo vocês pela ignorância de me acharem uma má pessoa, mas tentem enxergar além, com os próprios olhos.

- Mãe, eu não sei o que dizer. Nós eramos jovens e nunca tentamos entender o porquê de você ficar tanto tempo fora de casa. Só nos restava presenciar as brigas entre vocês dois. - Relata Maria Clara.

- Vocês crucificam a coroa, mas tava na cara que quem controlava tudo era ela. Por quê vocês acham que a Império caiu? Ela estava mais que certa de sumir do mapa, levar tanta pancada sem merecer é desumano, dúvido aguentarem um mês.

Me sentei e apenas observei o olhar de cada um, o jeitinho de cada um enquanto discutiam entre si.

José Pedro, o mais velho, é a mistura entre eu e Zé, ao mesmo tempo que se impõe, se retrai, tem o dom de liderar mas não reconhece a sabedoria que tem. Maria Clara é a cópia do pai, deixa-se levar pela emoção, pela ambição e faz de tudo para manter o controle, mesmo quando acuada não admite seus erros, mas tem um coração gigante. Já João Lucas é como eu, reservado e imponente, seu defeito é agir por impulso e saber exatamente como ferir alguém com palavras, será um pai maravilhoso se souber separar os negócios da família.

Ponto de Vista do Narrador:

Após alguns minutos escondido, José Alfredo decide participar da conversa.

- Qual o problema aqui? Um simples jantar virou uma balbúrdia. - Confronta o comendador.

- Injustiça! É essa a palavra! Pisam em ovos para falar comigo, mas é só eu virar as costas que viro uma vilã, mil pedras são jogadas na minha cruz. - Relata Marta, secando as lágrimas.

- Vocês não tem o direito de falar da mãe de vocês. Se ela fez o que fez foi por que EU cometi inúmeros erros. - Fala Zé Alfredo, pegando todos de surpresa.

- Pelo menos um pingo de consideração esse homem ainda sente por mim. Esse dia vai ficar pra história! - Diz Marta.

- Marta você melhor do que ninguém sabe o quão difícil é para mim assumir que errei. Mas jamais deixaria eles te julgarem por algo que não fez. Eu te peço perdão por tudo que te fiz passar. - Diz José Alfredo, sério. - Eu quis te matar, acabar com você, você destruiu o meu Império. Mas isso seria uma injustiça, e eu não posso mais te colocar como a culpada de tudo.

- Pela primeira vez em anos você me olha como aquele menino, aquele José Alfredo que conheci a 30 anos atrás. É tão bom saber que ele ainda existe dentro de você, Zé. - Diz Marta emocionada.

Os filhos do casal apenas olhavam o rumo que a conversa tomou. É difícil acreditar que por trás de toda essa armadura existem pessoas de carne e osso, que sentem e erram.

Ponto de Vista de Maria Marta:

Após uma longa conversa com minha família decidimos viver um momento de trégua. Meus filhos prometeram não me desrespeitar mais. Zé Pedro irá controlar a bruaca que ele chama de esposa, eu ainda vou dar um jeito naquela garota. Maria Clara decidiu que irá querer conhecer nossas novas lojas e me prometeu um design exclusivo de presente.

Espero que a paz dure tempo suficiente para Lucas anunciar a gravidez de Eduarda. Ser avó vai ser uma experiência tão boa, nossa casa precisa de luz após tanto tempo de discórdia.

E José Alfredo, nossa que saudade de tê-lo. É tão sacrificante amar alguém que você sabe que correrá para os braços de outra pessoa. Esse homem é o céu e o inferno da minha vida. Mas... Se ele pode aproveitar, eu também posso! Afinal, não existe só um homem no planeta.

Vou instigá-lo até ter certeza dos seus sentimentos por mim, eu vou enlouquecer esse homem. Um momento bonitinho não me fará esquecer tudo que me fez passar.