Guerra de Egos

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Incontrolável: adjetivo, que não se consegue controlar, que não pode ser submetido ou controlado.

Outono de 2015, 17 de Maio, 14 horas e 20 minutos.

Ponto de Vista de Maria Marta:

- Eu quero que me diga a verdade, Maria Marta. Você pensa mesmo em reatar nosso casamento, ou está apenas querendo fazer da minha vida um inferno? - Questiona. - Não estou falando de dinheiro ou de negócios. Estou falando de amor, de paixão. Você ainda me ama, Marta?

- Há trinta anos atrás, quando me casei com você, eu tive a certeza que te amaria pelo resto da minha vida. E eu te amei, te amei em todos os momentos, em todos os lugares, te amei quando nossos filhos nasceram, te amei quando nossos olhares se desencontraram, quando nossos corpos já não estavam mais juntos, te amei até mesmo quando você parou de me amar. - Falo, olhando fixamente o rosto de meu marido. - Eu suportei humilhações, traições e brigas. Suportei nossos filhos me virando as costas por sua causa, suportei sua amante invadindo nossa empresa, suportei o fato de ter que seguir e construir tudo sozinha. Eu suportei tudo, José Alfredo, e é por isso que eu ainda te amo, porquê eu não passei por cima do meu ego à toa, eu não sacrifiquei a minha vida à toa, eu não me doei a você e a nossa família à toa, eu não voltei à toa. E respondendo a sua pergunta, eu reataria o nosso casamento agora, se eu pudesse, mas não acredito que você tenha mudado tanto em tão pouco tempo. Porque enquanto você questiona o meu amor, eu me pergunto se um dia você me amou. Você me amou, José Alfredo? Eu não quero fazer da sua vida um inferno, você mesmo já fez isso antes de mim, se hoje estamos tendo essa conversa foi por causa dos erros que você cometeu, e eu não me responsabilizo por nada que você tenha feito. - Falo, esperando sua resposta. Pela primeira vez não derrubo uma lágrima sequer.

- Eu te dei mil motivos para me abandonar, mas eu espero ter dado ao menos um motivo para ficar. É horrível acordar sem você do meu lado, e eu odeio ir dormir sabendo que você não vai chegar com suas camisolas de seda ou com sua lingerie de renda, é um castigo não sentir o teu perfume nos meus lençóis. As manhãs não são mais as mesmas sem você roubando a minha xícara de café porquê a sua esfriou, é estranho não ter você dizendo o quanto a minha camisa está amarrotada, ou como minha barba está mal feita. Durante trinta anos você esteve aqui e de uma hora para a outra eu perdi tudo isso, infelizmente eu não valorizei a grande mulher que você é enquanto estava do meu lado. Eu odeio te amar, Marta, eu odeio saber o quanto eu preciso de você, eu te praguejei, preferi que estivesse morta ou bem longe de mim, mas foi por não suportar o fato de ter feito a maior das ignorâncias. Contudo, eu odeio ainda mais não ter você. O que eu sinto por você vai muito além do amor. E você tem razão, eu mesmo fiz esse inferno, mas eu preciso de uma chance de voltar para o paraíso. - Ele diz com um semblante cansado.

Eu vi verdade nos olhos do meu marido, sei exatamente quando ele está mentindo, e dessa vez ele disse a verdade. Pela primeira vez, José Alfredo deixou o orgulho de lado, e eu já não sei o que fazer.

- Por que você não olhou para e mim e disse de uma vez que estava com outra pessoa? Você só admitiu porque o nosso filho te desmascarou na frente da família toda! Você jogou trinta anos no lixo por causa de uma ninfeta! Uma ninfeta de vinte anos! Preferia que eu estivesse morta para não precisar encarar o rosto da única pessoa que esteve ao seu lado durante todo esse tempo. Você odeia me amar e vai odiar mais ainda! E quer saber de uma coisa, José Alfredo Medeiros, você continua um gostoso! E eu odeio achar isso porquê você é um imundo, um desgraçado e eu preferia que você tivesse deixado aquele maldito ônibus me atropelar! - Grito de raiva por amar este homem. - Eu quero te matar, Zé Alfredo, eu quero que você morra! Maldita hora que eu te encontrei naquele banco, agora estamos aqui, casados, com filhos e eu vou ser avó dos SEUS netos! Nós fomos longe de mais!

Ponto de Vista de José Alfredo:

- Admite que é doida por mim, imperatriz. - Digo ironicamente.

- Eu te odeio, comendador! Fica inventando essas perguntas idiotas para me tirar do sério, mesmo já sabendo as respostas! - Ela grita.

- Eu só consigo a verdade quando te irrito! E eu faço com gosto porquê amo te ver brava. - Falo recebendo um olhar fuzilante. - Eu te peço perdão, Maria Marta Medeiros. Perdão por acabar com nosso casamento e eu sei que talvez você não aceite, mas eu ainda vou reconquistar você. Quero que lembre o início de tudo, esse tempo longe de você me fez relembrar cada passo dado ao seu lado, e eu quero que você lembre porque estamos aqui hoje. - Explico aproximando-me de minha esposa. - Você não pode negar o quão feliz nós fomos juntos.

- E por quê você não pensou nisso antes de me fazer passar por toda essa situação? - Ela diz, com um olhar triste. - Você precisou entregar-se para outra mulher para lembrar o quão feliz nós fomos. Em nenhum momento passou pela sua cabeça o quão magoada eu ficaria? Valeu á pena destruir trinta anos por causa de uma qualquer? Espero que você tenha aproveitado bastante. Lhe garanto que eu aproveitei muito bem o meu tempo "solteira". - Essa mulher vai do céu ao inferno em frações de segundo.

Ponto de Vista do Narrador:

- Você adora insinuar que me traiu, Maria Marta. Mas eu sei que você não seria capaz disso, você não teria essa coragem! - Diz o comendador irritado.

- E quem te disse que não tenho? Quer pagar para ver? - Debocha a imperatriz.

- Eu mato a pessoa que ousar tocar em você! - Rebate José Alfredo.

- Será um prazer te ver na cadeia, comendador. Agora vá dar os seus chiliques em outro lugar, preciso descansar, afinal amanhã será um dia cheio. Muitos contratos e muito dinheiro envolvido, é a grande chance sa Império, não temos tempo para probleminhas de casal! Esqueceu que não sou sua garotinha? Eu tenho mais o que fazer, Zé Alfredo! Vai ficar aí parado ou vai me deixar aproveitar as últimas horas do meu dia?! - Pede Marta, já cansada de tanto brigar. - Trinta anos te aturando, não sei se aguento mais trinta! Mas apesar da sua idade, você ainda é um pedaço de mal caminho, José Alfredo. - Finaliza Marta com um sorriso debochado estampado em seu rosto.

A luta de egos de José Alfredo e Maria Marta é incontrolável. Eles brigam mas deixam a paixão tomar conta, é como uma batalha eterna, por mais ódio que sintam, mais deixam escapar o quão apaixonados são. Em um dia querem distância, querem matar um ao outro, mostrar o quão machucados estão, mas de contrapartida, na manhã seguinte fazem juras de amor. O problema é que Maria não está disposta a ceder e José não admite perder sua esposa.

Olhos de Apatita - Malfred [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora