Diamante Rosa

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Amuleto: substantivo masculino, objeto que alguém leva consigo por superstição, para se preservar de perigos, doenças, etc.

Ponto de Vista de Maria Marta:

A briga de Ana e Zé me atingiu de inúmeras formas, a impulsividade de ambos prejudicou minha reputação em minha própria empresa. José Alfredo pode não ter percebido mas acabou me machucando quando tentou me empurrar de forma brusca, ele poderia ter controlado a ira, ter me olhado com mais amor, ter pensado melhor nas palavras, mas ele é assim e sempre será, duvido que mude e meu maior questionamento agora é se aguento mais alguma grande briga, já não sei se estou disposta a aturar tantas humilhações.

E quanto a Ana, sinto uma mistura de mágoa com amor, não posso culpa-lá por se defender, mas ela poderia ter segurado as farpas, sempre foi impulsiva, sua ironia são como navalhas sendo lançadas ao ar. Infelizmente hoje essas navalhas me atingiram mais do que ao Zé.

Somos três pessoas machucadas, perdemos o controle de nossas ações, chegamos em um abismo sem volta, só nos resta pular, quem sabe empurrar uns aos outros na imensidão. Tudo isso é um jogo e nenhum de nós sairá vencedor, somos perdedores buscando uma vantagem inexistente. Saudade dos tempos de outrora, onde o segredo era a peça principal do tabuleiro, onde eu era a Rainha, agora tampouco sou o Peão, perdi o meu próprio jogo, fui derrubada pelo Rei e traída pela Torre. Mas isso não ficará assim, não vou deixar que meu trono acabe em ruínas, não posso perder minha coroa, vou começar a humilhar na mesma medida, bateu, levou. Justo, não?

Adentro minha sala amparada por meu filho, sinto meu peito rasgar-se internamente, uma dor súbita, o estresse me faz arrepiar, imploro aos céus para achar meus remédios mas em minha tolisse os esqueci em casa. José Alfredo adentra a sala, impede Pedro de ir buscar meus medicamentos, solto uma farpa por impulso, ele retira do paletó meus comprimidos, espera nosso filho sair da sala e senta-se ao meu lado.

- Não me toca. - Digo baixinho ao vê-lo tentar pegar minha mão. Ele esquiva-se.

Ele pergunta se quero ir embora, quem me dera poder ir para casa, quem sabe para qualquer outro lugar no mundo, só queria poder ir embora, não da empresa, ir embora definitivamente e viver outros momentos, eu queria ser qualquer pessoa, menos Maria Marta. Respondo friamente, temos tantas coisas para resolver aqui hoje, ele me olha e suspira.

- Não estou falando da empresa, Marta. Estou falando de nós. Você quer ir embora? - Ele pergunta nervoso, o sim provavelmente está escancarado em meu rosto. Meu filho abre a porta, me entrega a água e sai novamente, tomo meu remédio, suspiro, olho meu marido, penso e repenso durante uma eternidade de segundos.

- Você tem noção do que me fez passar naquela maldita recepção? A humilhação que eu tive que aturar? Tem noção disso, José Alfredo? - Questiono, ele tenta responder mas eu o corto. - Nem precisa me responder, nem tente, nada do que me falar será levado em consideração. - Respondo ríspida. - E quanto a "ir embora", eu quero sim, mas aprendi que o "querer" não mede forças com o "poder". Espero que você aprenda isso também, tua impulsividade me fez padecer hoje.

- Marta, ela...- Tenta falar mas é interrompido novamente.

- Não põem a culpa nela, estou falando com você, depois me resolvo com Ana Helena. Minha conversa agora é única e exclusivamente com você e sobre você. - Falo de forma ríspida. - Eu não admito ser humilhada na minha própria empresa, ainda mais por causa de ciúmes! José Alfredo, você não tem noção do quanto eu tive que ser dura para ser respeitada nessa porcaria de joalheria! Eles sempre tiveram medo de você, mas de mim não, durante anos tive que ouvir os falatórios pela empresa. "Só está aqui porque é a esposa.", "Essa é Marta, esposa do comendador.", "Entendo Marta, mas vou confirmar com o José Alfredo.", essas são algumas das frases que escutei enquanto você estava me traindo por aí. - Comento com raiva. Levanto-me do sofá. - E hoje, na frente de todos os funcionários, os mesmos funcionários que eu tive que brigar pelo respeito, você fez um escândalo, me expôs ao ridículo. Colocou minha imagem no lixo. - O olho atentamente, chego próximo de seu rosto e o seguro com as mãos. - Isso não vai ficar assim, eu te amo, mas me amo mais, e não voltei para o Rio de Janeiro para ser humilhada. Tudo tem um limite, José Alfredo, e é melhor você torcer para que eu saia dessa sala maldita e ainda seja tratada como a dona desse império, caso contrário, Merival entrará com a papelada do divórcio. Espero que o seu amuleto lhe livre desse problema. E não, não irei embora, e ainda me arrisco a dizer que te amo, meu amor. - Digo me referindo ao diamante rosa que ele tem no monte. Ele engole seco, seus olhos estão marejados, beijo seus lábios rapidamente. - Agora pega aqueles papéis malditos e me encontre na sala de reuniões junto com nossos filhos. Acabou o circo. - Ordeno e saio da sala.

Olhos de Apatita - Malfred [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora