Olhos de Apatita - Malfred [EM REVISÃO]

Indispensável

Reviver: verbo transitivo e intransitivo, voltar à vida, renascer, revigorar-se, renovar-se. Ressuscitar, manifestar-se de novo, tomar novo alento. Relembrar, recordar: reviver momentos significativos do passado.

Passagem de tempo, outono de 2015, 07 de junho, 07 horas e 37 minutos.

Ponto de Vista de José Alfredo:

Hoje é o dia que tentarão tirar Marta dos sedativos, foram longas semanas lutando para mantê-la aqui. Sofremos vários sustos com o decorrer dos dias, quase a perdi algumas vezes. Mas minhas esposa é a mais forte das mulheres e hoje será o dia que ela acordará, acredito fielmente nisso. Os médicos diminuiram a ventilação mecânica gradativamente, e tudo indica que hoje ela acordará, seus pulmãos estão fortes o suficiente para respirar sozinhos.

Lembro-me de um dos dias de sua internação, com toda a certeza o pior da minha vida, Marta esteve por um triz da morte.

"Seguro sua mão, Marta apresentou uma piora há algumas horas, o medo me consome. É insuportável vê-la nesse estado. Reúno todas as minhas forças para tentar falar com ela.

- Tudo bem meu amor? Vim te ver hoje. Estava com saudades minhas? Eu estava com saudades suas. - Digo com a voz embargada. - Sei que andou meio ruinzinha, mas logo você melhora. Estou a sua espera, minha imperatriz.

É triste falar com minha esposa e não ouvir sua voz me respondendo, já faz uma semana que ela está nesse estado e cada dia parece uma eternidade. Meus pensamentos são cortados pelo som das máquinas, Marta entrou em colapso, seu coração parou.

Rapidamente os médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem entram na sala, tudo muito rápido me deixando desbaratinado.

- O senhor precisa sair do quarto, por favor. - Avisa uma das técnicas de enfermagem.

- O que está acontecendo com ela? Salvem a minha esposa! - Digo colocando as mãos na cabeça, desesperado.

- Nós faremos o possível, mas o senhor precisa sair! - Diz a moça me levando até a porta, porta esta que é logo fechada.

Em um momento de fúria, dou um soco na parede, sinto cada dedo da minha mão doer.

- Eu não posso perdê-la! - Digo andando em circulos.

Vejo pela janela da sala os médicos tentando reanimá-la, a pior cena que já vi. Meu peito dói, as lágrimas rasgam meu rosto, minha boca fica seca. Eu vou perder a minha esposa? Eu morro se algo acontecer com Maria Marta.

Sento no chão do corredor, clamando a qualquer força sobrenatural que possa me ajudar, qualquer uma, eu só preciso de ajuda. Dobro os joelhos e flexiono meus cotovelos em minhas pernas, colocando minhas mãos na cabeça. Deixo as lágrimas rolarem, entre um soluço e outro, resmungo algumas palavras.

- Marta seja forte, volta para mim, eu preciso muito de você.

Foram os piores minutos da minha vida, pareceram horas. Impaciente, levanto do chão e vou até a janela novamente. Coloco minha mão no vidro enquanto observo o incansável trabalhos dos médicos. Após alguns instantes vejo que a situação se normaliza, o coração de minha esposa voltou a bater, mas o meu foi parar lá no pé. Realmente não sei como não infartei, passou um filme na minha cabeça de como seria viver sem ela, e garanto que seria amargo, sem cor, eu perderia a melhor parte de estar vivo. Não tenho medo do famoso inferno, eu já o conheci hoje quando vi minha esposa desfalecida perante meus olhos, mulher essa que outrora me levava até o paraíso com suas pequenas melhoras."

Balanço a cabeça tentando esquecer esse dia, ele me atormenta sempre que pode.

Adentro a sala que minha esposa está, os médicos me permitiram visitá-la. Ao vê-la, percebo que diminuiram os fios ao seu redor e ela já não está mais com o tubo que a fazia respirar. Marta ainda está inconsciente mas os médicos me avisaram que pode acordar a qualquer momento. Chego perto dela e percebo que está mais corada que antes, seguro sua mão e espero ela dar algum sinal que irá acordar. Junto comigo está uma enfermeira atenta sobre seu estado, ela observa cada espasmo que o corpo de Marta dá, cuida seus sinais vitais e anota tudo em seu prontuário.