Martírio

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Impulso: substantivo masculino, necessidade imperiosa, muitas vezes irresistível, que leva certos indivíduos à prática de atos irrefletidos; ímpeto. O que incentiva alguém a fazer algo, estímulo, incitamento.

Ponto de Vista de José Alfredo:

As horas passam e nada de notícias, Marta está na sala de cirurgia há pelo menos cinco horas. Em um momento de desespero chamo uma enfermeira.

- Moça, eu preciso de notícias da minha esposa! Já fazem horas que ela entrou e até agora nada! - Digo e no mesmo instante vejo uma médica se aproximar.

- Familiares de Maria Marta Medeiros! - Chama a doutora para alívio meu e dos meus filhos.

- Aqui! Me diga que ela está viva! - Respondo desesperado.

- Olá, sou a Dra. Beatriz Vilela, auxiliei na cirurgia de Maria Marta. A cirurgia foi um sucesso levando em consideração o estado que ela chegou até o hospital. Está entubada, o caso ainda é muito delicado. Por pouco o projétil não atinge o coração, infelizmente a bala ficou alojada no pulmão esquerdo dela, por isso a gravidade de seu estado. - Ela explica pacientemente. - Conseguimos salvar o órgão, mas sua respiração estará comprometida por alguns dias, ou semanas. Precisamos estar atentos ao seu estado neurológico por conta da baixa oxigenação, até então ela responde a estímulos, mas possivelmente demorará a acordar.

As palavras da médica me trouxeram um misto de sensações. De um lado a alegria por ela estar viva, mas por outro a angústia de saber que seu estado é preocupante. Eu só quero ver a minha esposa e ter a certeza que ela está bem, preciso estar com ela nesse momento, Maria Marta salvou a minha vida.

- Podemos vê-la? - Pergunta Clara.

- Na ala que ela está somente um acompanhante é permitido. - Responde a doutora.

- Vamos deixar o pai ir! Ele precisa disso! - Diz Pedro.

- Eu também acho, ela iria querer o coroa lá com ela. - Completa Lucas.

- É melhor mesmo, você concorda pai? - Pergunta minha filha.

- Concordo. - Respondo com um certo medo de vê-la nessa situação.

- O senhor pode me acompanhar, o levarei lá. - Diz Beatriz.

Sinto o ar mórbido que paira nesse hospital, é terrível. Shit! Isso não deveria ter acontecido! Antes de entrar na sala, Beatriz me para e avisa.

- Bom, seu José Alfredo, antes de entrarmos quero avisá-lo que Marta está cheia de fios e tubos. Pode ser uma cena chocante para quem não está acostumado. - Ela explica. - Está preparado?

- Ok, eu entendo. Estou pronto. - Digo mas no fundo sei que é mentira minha, eu nunca estaria pronto para esse momento.

Beatriz abre a porta da sala e eu vejo minha esposa deitada na maca, cheia de fios, entubada, pálida, uma cena que acaba comigo, hell! Me aproximo dela, com receio, parece tão frágil. Toco em sua mão, está fria. Uma lágrima teimosa cai rasgando meu rosto, um sentimento angustiante me atinge, aquele tiro não me atingiu mas morro um pouco cada vez que a olho.

- Se eu falar com ela, ela escuta? - Pergunto a médica que me observa atentamente.

- Como neurologista eu diria que não, tem certos níveis de sedação que permitem que os pacientes possam escutar e até sentir o toque, mas o nível dela é um pouco elevado consequentemente as chances são poucas. Então, lhe respondo como esposa de alguém, como mãe, como filha, se eu estivesse no lugar de Marta, gostaria que alguém tentasse falar mesmo eu não escutando. - Diz a médica mostrando uma humanidade gigantesca. - Eu vou te deixar a sós com ela, me chame se precisar de algo. - Ela fala e eu concordo com a cabeça.

Olhos de Apatita - Malfred [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora