CAPÍTULO 08

1.4K 129 3
                                    

   Diferente do que eu imaginei, Talles não tentou impedir que minha mãe saísse da casa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

   Diferente do que eu imaginei, Talles não tentou impedir que minha mãe saísse da casa. Ele apenas destacou mais uma vez o fato dela sempre me escolher em primeiro lugar. Suas exatas palavras foram: "Você sempre vai escolher ele em primeiro lugar. E é por isso que eu o odeio tanto."
   Agora, minha mãe e eu estamos dentro do carro, parados na porta do condomínio fechado. Eu não faço ideia de para onde ela pretende ir, mas também não havia tido coragem de estourar a bolha na qual ela se encontra para perguntar. Até agora.

   ㅡ Mãe? ㅡ chamo com cautela. Sua atenção volta para mim, lenta e perdida. ㅡ O que fazemos agora?

   ㅡ Agora a gente recomeça. ㅡ Ela suspira pesado.

   Não deixo de notar a fragilidade em sua voz. Seguro sua mão, que estar sobre sua coxa, e a aperto em conforto. Ela sorri minimamente, virando a palma para cima e entrelaçando nossos dedos. Seus olhos estão lacrimejando quando ela ergue o olhar de volta ao meu. Nego com a cabeça ao perceber no que ela está pensando. Não quero ouvi-la se desculpar.

   ㅡ Recomeçar ㅡ lembro em tom gentil. ㅡ Não podemos recomeçar se não deixarmos o passado pra trás. Você não pode mudar o que foi feito, mãe. Mas podemos tentar um novo caminho.

   ㅡ Como pode não sentir raiva de mim? ㅡ ela sussurra, acariciando o dorso da minha mão. ㅡ Eu não estive lá por você. Não pude... evitar que ele ferisse você.

   ㅡ Como eu poderia te odiar, mãe? ㅡ Lhe ofereço um sorriso trêmulo. ㅡ A pessoa que mais me ama no mundo. Que me ensinou a ser forte. Enquanto ele me odiava e me espancava, você me amava e curava os meus machucados. Mesmo sem saber, você curava minhas feridas.

   ㅡ Eu poderia ter percebido ㅡ soluça baixinho.

   ㅡ Tá tudo bem, mãe ㅡ murmuro, levando nossas mãos unidas até meus lábios e beijando os nós dos seus dedos. ㅡ Vamos lidar com isso juntos. Vou te ajudar a superar isso. Eu prometo tá?

   Ela leva minha mão até seu rosto, pousando-o contra a mesma, e fecha os olhos, assentindo. Acaricio sua bochecha e me inclino pra depositar um beijo em sua testa.

   ㅡ Eu te amo ㅡ sussurro.

   ㅡ Eu te amo mais ㅡ ela rebate.

   ㅡ Pra onde vamos agora? ㅡ questiono, ao me afastar.

   ㅡ Casa da sua avó ㅡ responde, se recostando no banco e fitando a janela. ㅡ Por enquanto.

   Assinto, mesmo ela não vendo, e coloco o carro em movimento, seguindo em direção ao condomínio da dona Amélia.
   A viagem não demora mais que quarenta minutos e é passada toda em silêncio. Estaciono em frente a casa de paredes brancas, sorrindo ao ver o lugar onde passei os melhores momentos da minha infância. Aqui, fora o único lugar onde eu me senti seguro. Onde nada parecia ser capaz de me machucar.

Sentimento ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora