Diferente do que eu imaginei, Talles não tentou impedir que minha mãe saísse da casa. Ele apenas destacou mais uma vez o fato dela sempre me escolher em primeiro lugar. Suas exatas palavras foram: "Você sempre vai escolher ele em primeiro lugar. E é por isso que eu o odeio tanto."
Agora, minha mãe e eu estamos dentro do carro, parados na porta do condomínio fechado. Eu não faço ideia de para onde ela pretende ir, mas também não havia tido coragem de estourar a bolha na qual ela se encontra para perguntar. Até agora.ㅡ Mãe? ㅡ chamo com cautela. Sua atenção volta para mim, lenta e perdida. ㅡ O que fazemos agora?
ㅡ Agora a gente recomeça. ㅡ Ela suspira pesado.
Não deixo de notar a fragilidade em sua voz. Seguro sua mão, que estar sobre sua coxa, e a aperto em conforto. Ela sorri minimamente, virando a palma para cima e entrelaçando nossos dedos. Seus olhos estão lacrimejando quando ela ergue o olhar de volta ao meu. Nego com a cabeça ao perceber no que ela está pensando. Não quero ouvi-la se desculpar.
ㅡ Recomeçar ㅡ lembro em tom gentil. ㅡ Não podemos recomeçar se não deixarmos o passado pra trás. Você não pode mudar o que foi feito, mãe. Mas podemos tentar um novo caminho.
ㅡ Como pode não sentir raiva de mim? ㅡ ela sussurra, acariciando o dorso da minha mão. ㅡ Eu não estive lá por você. Não pude... evitar que ele ferisse você.
ㅡ Como eu poderia te odiar, mãe? ㅡ Lhe ofereço um sorriso trêmulo. ㅡ A pessoa que mais me ama no mundo. Que me ensinou a ser forte. Enquanto ele me odiava e me espancava, você me amava e curava os meus machucados. Mesmo sem saber, você curava minhas feridas.
ㅡ Eu poderia ter percebido ㅡ soluça baixinho.
ㅡ Tá tudo bem, mãe ㅡ murmuro, levando nossas mãos unidas até meus lábios e beijando os nós dos seus dedos. ㅡ Vamos lidar com isso juntos. Vou te ajudar a superar isso. Eu prometo tá?
Ela leva minha mão até seu rosto, pousando-o contra a mesma, e fecha os olhos, assentindo. Acaricio sua bochecha e me inclino pra depositar um beijo em sua testa.
ㅡ Eu te amo ㅡ sussurro.
ㅡ Eu te amo mais ㅡ ela rebate.
ㅡ Pra onde vamos agora? ㅡ questiono, ao me afastar.
ㅡ Casa da sua avó ㅡ responde, se recostando no banco e fitando a janela. ㅡ Por enquanto.
Assinto, mesmo ela não vendo, e coloco o carro em movimento, seguindo em direção ao condomínio da dona Amélia.
A viagem não demora mais que quarenta minutos e é passada toda em silêncio. Estaciono em frente a casa de paredes brancas, sorrindo ao ver o lugar onde passei os melhores momentos da minha infância. Aqui, fora o único lugar onde eu me senti seguro. Onde nada parecia ser capaz de me machucar.
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Sentimento Improvável
RomanceDominick é um cara tranquilo e que está sempre disposto a ajudar alguém. Mas não se engane, apesar do bom coração, Dom não costuma levar desaforo pra casa. Tem sempre uma resposta na ponta da língua quando alguém tenta pisar nele. Dom trabalha como...