Fio vermelho

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Abro os olhos e encaro o teto branco acima de mim. É fim de semana, então não preciso me preocupar com a hora de levantar.

A chuva fraca que começou lá fora bate na janela, e vejo pela pequena fresta da cortina, os pingos que escorrem de maneira devagar no vidro. O som passa tão abafado até o quarto, preenchendo o ambiente de maneira tão agradável que penso em continuar dormindo mais um pouco, mesmo não sentindo mais sono.

A mão de Bakugou que continua rodeando meu corpo me faz soltar um riso fraco. Me viro olhando a expressão que ele tem ao dormir, é a primeira vez que vejo e procuro memorizar cada detalhe. O semblante calmo e a respiração tranquila, conforme seu peito sobe e desce me deixam ali, aproveitando o momento por alguns instantes.

Sei que ele sempre levanta muito cedo, o que é estranho, já que ao pegar o celular que estava em baixo do travesseiro vejo que já são nove horas. Tiro a mão dele de cima de mim devagar, com cuidado pra que não acorde.

Caminho na ponta dos pés até o banheiro, tentando não fazer barulho. Fecho a porta e abro o chuveiro tomando um banho demorado, sem pressa nenhuma. O vapor me acolhe relaxando cada músculo do meu corpo enquanto esfrego meu cabelo. Escovo os dentes, enrolo uma toalha na cabeça e me visto com algumas peças que haviam lá e saio, me deparando com a cama já vazia.

Não estava surpresa, então pego o celular pra responder a notificação que havia visto antes de Todoroki, mas antes de enviar a primeira mensagem a porta do quarto abre e Bakugou entra sem cerimônia nenhuma, com os cabelos levemente úmidos e roupas diferentes das que ele usava.

— Trouxe comida. - Ele diz apoiando algumas embalagens de papel e um copo grande de plástico pintado com a logo da padaria que fica próxima a universidade.

— Já comeu? - Pergunto quando o vejo se afastar dos pacotes e colocar as mãos nos bolsos, como se não fosse ficar por mais tempo.

— Não.

— Tem comida pra dois aqui. - Encosto na escrivaninha e me sirvo com alguns bolinhos recheados, segurando o copo do que parece ser um cappuccino. Sento na cama e dou o primeiro gole da bebida doce com um leve toque de chocolate amargo no fundo, na dose perfeita que costumo tomar quando estou na livraria.

Ele se aproxima se servindo também e depois vem em minha direção, se sentando ao meu lado na cama, quando meu corpo sobe um pouco no colchão em resposta ao peso dele.

Mastigo em silêncio e passo o copo pra ele que aceita, bebe e depois me devolve. 

Há tempos eu não havia me sentido tão desconfortável. Havíamos ficado tantas vezes sem falar nada, por longos minutos e nunca nos incomodávamos com isso, infelizmente dessa vez era totalmente diferente.

Não demora muito pra que Bakugou se levante indo em direção a porta, e me levanto, por algum motivo hesitando antes de falar.

— Obrigada!

Um passo pra frente é dado, mas seu rosto vira por cima do ombro me olhando antes de sua bochecha dar um pequeno sinal de sorriso e ele sair.

Passo a tarde toda no quarto, saindo só depois de escurecer pra dar uma volta. Conforme meu tênis se arrasta na calçada, reparo que desde ontem passei a respirar com tranquilidade. Antes, cada vez que eu soltava o ar do meu corpo aquela sensação de ser abordada em algum lugar me rondava, como um sombra a espreita. Não havia mais esse sentimento, foi como se um enorme peso tivesse sido arrancado de minhas costas. 

Até mesmo uma coisa tão simples quanto andar na rua havia voltado a ter significado, ir e vir pra onde eu quisesse sem precisar me preocupar parecia algo muito mais importante agora.

LIKE DYNAMIGHT - Bakugou KatsukiOnde histórias criam vida. Descubra agora