A ideia de Cynthia soava um tanto estúpida, assim como todo o plano em si, enganar as máquinas, tomar o controle, tudo tão patético que as vezes lhes davam vontade rir, jovens humanos contra máquinas cientistas imortais, uma verdadeira piada.
Mas a conclusão sempre era "Essa é a nossa única opção." Fugir para o mundo lá fora era suicídio, e permanecer ali, pelo menos, era um suicídio heróico, morreriam sabendo que tentaram fazer algo para ajudar a humanidade que L destruiu. E não demorou muito tempo para que Malia percebesse isso, sua ideia de fugir foi um completo pânico enquanto estava embriagada, e dizer para Scott que seria capaz de ir sem ele, foi a maior mentira que já disse em sua vida, ela jamais faria aquilo, mesmo que custasse sua vida.
Haviam se passado dois dias, 48 horas um tanto estranhas, as máquinas estavam a quase todo momento ocupadas, inacessíveis, sempre como se estivessem resolvendo algo de vida ou morte na sala de controle. Malia e Scott não trocavam uma palavra sequer desde o desentendimento, mesmo que no final das contas, A37 reconhecesse que o que disse foi idiota e inverdade, ela não parecia disposta a se redimir para Scott, talvez por orgulho, ou talvez por ainda não ser capaz de interpretar os sentimentos dos outros ao redor.
Acreditava que Scott estava distante por pura e espontânea vontade, então sentia que não deveria incomoda-lo.
De restante, os jovens não sabiam ao certo o que fazer, como agir a partir dali ou qual seria a próxima grande jogada, então permaneciam em passividade, apenas vivendo seus dias, e tentando discretamente, como pequenos espiões mal sucedidos, descobrir mais sobre o controle do prédio e das máquinas.
Mas de uma coisas eles sabiam, deveriam estar preparados para tudo e qualquer coisa.
Por isso treinavam no exterior do prédio, assim como sempre fizeram no Resort.
- Descobriu o que aconteceu entre Scott e Malia? - Cora parou na porta do quarto, esperando a ruiva para o treino.
Os jovens já não estavam alojados no prédio das máquinas, estavam em um outro próximo prédio de primeira mão para quarentena de militares infectados na época da pandemia causada por L, por isso, lá eles tinham mais recursos que humanos necessitavam, como por exemplo, banheiros.
- Perguntei para Malia, ela sempre conta tudo sem muito filtro. - Lydia ajeitava seu top. - Eles tiveram um desentendimento na noite da festa, A37 queria fugir para o mundo lá fora, Scott não achava uma boa ideia, então Malia disse que iria sem ele, e bum... Tensão instalada com sucesso.
- Malia queria fugir? Porque ela não nos contou sobre isso? - Hale franziu o cenho.
- Ela disse que foi só uma ideia estúpida quando entrou em pânico naquela noite.
- Então, o que disse para ela? - Cora cruzou as pernas.
- Nada.
- Nada?
Martin terminava de prender seu cabelo em um rabo de cavalo, se aproximou de Cora, e parou em sua frente.
- Scott e A37 tem uma história quase inacreditável, conectados desde que nasceram, é como se eles fossem realmente almas gêmeas de vidas passadas. E Malia é uma garota incrível, ela é uma parte que faltava no nosso grupo que nós nem sabíamos que precisávamos, e depois de tudo que Scott passou nas mãos de Rose, A37 é a coisa mais incrível que aconteceu na vida dele. Então é óbvio que Scott e Malia são destinados um ao outro, mas a construção de um amor verdadeiro, exige turbulências.
Lydia deixou o quarto, e Hale lhe seguiu pelos corredores.
- Em que livro romântico idiota você leu isso?
- É verdade, Cora! Só olhe para nós, somos melhores amigas, mas tivemos que passar por muitas coisas para perceber que nossa amizade é inquebrável.
- Você é doida, Lydia.
Cora e a ruiva logo chegaram ao exterior do prédio, encontrando o restante do grupo no gramado, os garotos treinavam entre eles a poucos passos de distância, enquanto Cynthia e Malia se alongavam preguiçosamente.
O treinamento foi como qualquer outro, não falavam muito, só levavam seus corpos ao limite para que esquecessem o que lhes atormentavam em suas mentes. Mas bem, tais tormentos uma hora ou outra sempre retornavam.
Especialmente em um dia como aquele, parecia como um looping, havia sido exatamente como ontem, e anteontem, era agoniante para todos os jogadores permanecer naquele impasse, mas Malia parecia ter esquecido a situação de vida ou morte que estavam, pois tudo que pensou naquele dia foi sobre Scott.
Ele sequer olhava para ela, em nenhum momento, estava sempre extremamente distante, inalcançável, e parecia até mesmo que estava muito ocupado com algo mais importante que A37, ele tinha mais o que fazer, tinha outros amigos, era lindo e poderia ter qualquer outra garota, ele não precisava dela.
Tais pensamentos perpetuavam em sua cabeça desde a chegada a noite, quando tudo começou a ficar mais silencioso, e os jogadores se recolheram para os seus quartos.
Malia estava parada no meio de seu dormitório como um móvel, coçando seus pulsos, com o olhar vago e um sentimento angustiante. Ela sentia falta de Scott, em todos os sentidos, sentia falta de estar perto dele, sentia falta da segurança e paz que era estar perto dele, sentia falta do jeito que ele tocava sua pele e do jeito que fazia amor com ela. Mas ela também pensava que deveria ser independente, e que Scott poderia ser substituído, algo que seu subconsciente logo tratou de contesta-la, porque ela sequer conseguia imaginar a ideia de ficar nua na frente de qualquer outra pessoa que não fosse ele.
- Foda-se. - Disse em seus pensamentos, caminhando impulsivamente para fora, andando em passos pesados pelos corredores em direção ao local onde sabia que Scott estava.
E ele de fato ainda estava lá, sentado no sofá de couro marrom da área onde costumava ser de consultórios, a muitos anos atrás, no ápice da pandemia.
Mccall observava concentrado uma pequena adaga roxa em suas mãos, ela não sabia o que ele estava fazendo, ou porque aquele objeto parecia algo tão intrigante e precioso ao olhar dele. Mas Scott não demorou a notar sua presença.
- O que foi? - Ele indagou.
Malia permaneceu em silêncio, apreensiva, apertava suas mãos como se criasse coragem, e o olhar castanho fuzilante mirado a ela lhe deixava ainda mais nervosa.
- Você é estúpido de pensar que eu poderia ir a qualquer lugar sem você! - Ela engoliu a seco. - Como pôde acreditar nisso e ficar com raiva de mim?
Ele desviou seu olhar para o chão, soltando um pequeno riso irônico, e disse baixo:
- Você é meio estúpida por acreditar que sou capaz de sentir raiva de você.
Ela ficou extasiada, perdida, até que disse:
- Não falou comigo por dois dias.
- Sim. - Ele retornou a observar sua lâmina.
- Não me ama mais?
- Isso é impossível.
- Mas você ficou distante.
- Eu estava aqui caso precisasse.
- Não. - Ela balançou a cabeça negativamente. - Não estava.
- Malia, a qualquer pequeno sinal de perigo eu estaria lá, e queimaria qualquer prédio ou máquina por você caso fosse necessário.
- Mas eu sinto falta de você perto. - Disse cabisbaixa.
Ele sorriu de lado, e levantou seu olhar para ela:
- Quer dormir no meu quarto esta noite?
Gente desculpa o bagulho ta loco.
