Último capítulo.

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22 horas depois...

J.C adentrou sua sala, o som de alarme tocava por todos os computadores do prédio, mas ele sabia que ele era o único que podia atender aquela ligação.

Ele se sentou na cadeira, hesitante, mas decidiu aceitar a tal ligação sem pensar muito sobre, se ele pensasse muito, não conseguiria. E quando a tela do computador ligou, uma chamada de video foi iniciada imediatamente, e lá estava ela, a L.

J.C pareceu até mesmo cair em um suspiro, levou as mãos aos seus cabelos, se ele pudesse chorar, ele choraria agora.

A mulher estava dentro de algum bunker construído dentro de uma caverna, ele sabia disso porque a conhecia muito bem, o suficiente para saber seus truques e esconderijos, a iluminação era péssima, mas o suficiente para ele perceber que L estava em seu corpo humano, parecia pálida, frágil, talvez até mesmo suasse em febre, foi o que J.C presumiu devido as gotículas de suor em seu rosto, e a forma ela se esforçava para não tremer.

- Achou que eu morreria, nas mãos do meu ex marido? - Ela disse baixo, com um sorriso.

- Não. - Ele se mostrou ansioso, batendo seus pés contra o chão como se tentasse se acalmar.

- Fiquei surpresa, por você ter atendido.

- Eu matei a minha filha. - As mãos de J.C começaram a tremer. - Eu matei Rose.

J.C sentiu uma lágrima cair em sua camisa, ele pôde até mesmo enxergar em câmera lenta a gotícula cair seus olhos, primeiro ele não sabia como aquilo era possível em seu corpo robótico, mas depois percebeu
que à aquele ponto, ele estava apenas alucinando, estava alucinando estar em seu corpo humano, um corpo onde ele podia chorar e expressar toda a raiva e desespero que ele sentindo agora.

L não o respondeu com nenhuma palavra.

- Não sei porque você me ligou, mas eu tenho muitas perguntas para você. - J.C disse. - Se você soubesse disso tudo antes, você faria tudo de novo?

- Eu não sei.

- Não sabe?!

L pareceu sensível a voz alta de J.C naquele computador, agora ela já tremia sem parar, parecia estar passando por algum tipo de dor extrema.

- Do que aquelas vidas valiam? Eram só corpos, porque essa droga significa tanto pra vocês?! Não tem nada demais nessa merda! Não tente me dizer sobre amor, maternidade ou da sensação de ficar com os seus pés na areia da praia essas porras não significam nada pra mim! Isso não entra na minha cabeça o que vocês pensam que um ser humano tem de especial! Que diferença a porra de um ser humano tem de uma formiga que você mata sem pensar suas vezes?! - Ela esbravejou.

- Então porque buscou tanto a imortalidade? Se nada nessa vida é importante pra você porque queria tanto viver para sempre?

- Para finalmente ser importante! Talvez a imortalidade nos permitisse deixar de ser um pedaço de carne de merda e nos tornassemos em algo maior, algo que realmente fosse poderoso e importante! - L se encostou na parede, suspirando indignada. - E você? Por que queria tanto a imortalidade?

- Eu tive um pesadelo, quando criança, era meu último de vida mas tudo de bom começava a acontecer enquanto eu sabia que iria morrer no dia seguinte, meu pai havia retornado, minha mãe havia sido curada do câncer e eu estava desesperado em saber que não poderia aproveitar tudo aquilo porque era meu último dia de vida... quando eu acordei, decidi que iria viver para sempre para não ter que me preocupar com quando minha vida iria acabar, eu poderia aproveitar tudo.

L pareceu pensativa, por um bom tempo, longos segundos, até que em um profundo suspiro, ela disse:

- Hoje é meu último dia de vida.

Cristais de Vidro - Scalia 2Onde histórias criam vida. Descubra agora