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As cartas estavam espalhadas pelo chão da cela, Malia mirava algo distante, algo que não conseguia identificar sequer alguma forma ou cor, seus pés cobertos pelas meias pisavam entre os papéis, até que o chão pareceu despencar, em um barulho oco e alto, algum tipo de escuridão tomou conta do lugar.

- Malia, o que foi? - Cora se levantou da cama assustada.

- A fase das alucinações, acho que começou. - A37 permanecia com seus braços estendidos ao lado do corpo como se tentasse se equilibrar, o despencar surgiu mais uma vez, como se um elevador estivesse caindo de andar em andar, lentamente.

A fase das alucinações, Malia se lembrava muito bem de cada coisa que havia lido sobre aquele vírus, na verdade ela se lembrava muito bem de qualquer coisa, sua mente era como uma enciclopédia, e sua capacidade de aprender tão veloz ao ponto de sequer perceber.

Aquela era a pior parte, a parte onde havia fotos de militares usados para experimentos amarrados em camisas de força, com a pele pálida e um olhar desesperador enquanto alucinavam loucamente, aquele era o mais próximo que podiam estar da morte.

- A37, tente focar na minha voz. - Cora disse calmamente, mas tão fraca que já mal conseguia enxergar Malia nitidamente.

- Estou focando. - A escuridão que lhe cercava era confusa, onde não se sabia se devia ter medo ou não, algo nas sombras parecia tentar convence-la a não temer enquanto ela sabia que havia algo escondido ali, algo que a devoraria a qualquer momento.

- Consegue me ouvir claramente?

- Sim, completamente... Droga! - O despencar veio mais uma vez, e quase a fez cair. - Para onde... a minha mente está tentando me levar?

- Eu não sei mas... eu vou chamar as máquinas, fica calma, ta bom? - Cora correu até o telefone.

- Não!

- Não?

- O subconsciente sempre tenta dizer algo, não é? As alucinações sempre significam alguma coisa.

- Não temos um psicanalista aqui agora, Malia, preciso chamar alguém.

- Cora sai de perto desse telefone! - A37 esbravejou.

- Ok, tudo bem, larguei o telefone. - Hale arregalou os olhos.

- Só escuta bem o que estou dizendo, ok?

- Eu vou... vou anotar, tudo que você disser. - Cora correu para procurar um papel e caneta na cômoda ao lado da cama.

- Ótimo, tem alguma coisa aqui. - A37 permanecia muito consciente da alucinação ao seu redor, no meio da escuridão, o som de corações batendo começou a surgir sorrateiramente. - Batimentos, são corações batendo.

- Ok... batimentos cardíacos. - Cora anotava tudo as presas e em um completo nervosismo.

- Dois batimentos cardíacos! Dois!

- Ok, não precisa gritar, to ficando com medo...

- Dois corações batendo. - A37 não tinha coragem de mover seus olhos para procurar de onde vinha o som, algo lhe dizia para não fazê-lo. - Um parou.

- O que?

- Um coração, parou de bater. - Malia semicerrou os olhos, pensativa.

Enquanto anotava, Cora olhou para as câmeras, não sabia se queria que as máquinas chegassem logo para ajudar ou se queria que elas demorassem um pouco para concluir o pensamento de Malia.

- Ele voltou! - A37 gritou de repente, assustando Hale. - Dois corações de novo!

- Ok, ok... o que mais?

Cristais de Vidro - Scalia 2Onde histórias criam vida. Descubra agora