MADE IN HEAVEN (FINALIZADO)

6: Acasos

MALLORY CIRCE

Me sento na cama tomando uma respiração profunda. Os cabelos grudam em minha testa por conta do suor frio que escorre por todo o meu rosto, minha garganta está seca e meus lábios estão machucados de tanto que eu mordi durante o pesadelo. Estão sangrando na verdade.

Empurro as cobertas brancas para fora do meu corpo e eu me sento no chão, colocando a cabeça entre os joelhos, tomando uma respiração profunda. Apenas respirando.

Um, dois, três, quatro.

Conto mentalmente até as imagens saírem da minha cabeça. Os pesadelos eram sempre os mesmos.

Seus corpos caindo e o som deles se chocando no chão, eu conseguia ouvir o som da bala sendo disparada e o gotejar do sangue. Era sempre o mesmo.

Gatilho, sangue, olhos se fechando...

Um, dois, três, quatro... um, dois, três, quatro...

Me levanto do chão balançando a cabeça para dissipar os pensamentos. Toco na tela do meu celular vendo que ainda são três e meia da manhã. Saio do meu quarto abrindo a porta devagar, ando pelo corredor nas pontas dos pés e empurro a porta de Kitty vendo-a esparramada na cama, com os cabelos sobre o rosto e ouço o seu roncar baixinho. Ao seu lado, emaranhada no vão do seu pescoço está Boo, apagada.

Eu vejo a sua janela batendo assim como as cortinas flutuando, ando até lá devagar e fecho a janela. Arrumo a coberta no seu corpo pequeno e fecho a porta saindo do quarto para a cozinha para preparar uma xícara de achocolatado. Qualquer coisa que me distraísse.

Tinha se passado uma semana desde o ocorrido no Devil 's Den. Minha relação com Alex melhorou, mas eu continuo fugindo de Andrew como o diabo foge da cruz.

Seus olhares furtivos me faziam... recuar. Além disso, Reed — o chefe da Kitty dos olhos pretos — apareceu pela faculdade e Andrew estava sempre com ele, Deus! Aquele homem fazia meus pelos se arrepiarem.

Reed exalava poder, apesar de nunca ter ouvido falar qualquer palavra saindo da sua boca, sua postura mexia com qualquer um ao seu redor. Uma visão dos seus ombros largos, os cabelos pretos caindo em sua testa de maneira elegante, o nariz reto e fino, a boca carnuda e avermelhada.

Certamente, ele era um Deus por aqui. Todos paravam para olhar, inclusive eu, sua postura arrogante de quem manda naquele lugar. Reed parece saber tudo sobre todos, parece saber de todos os seus segredos mais profundos e não me admira nem um pouco os seus olhares cautelosos sobre mim. Eles tinham todos aos seus pés, com seus segredos na palma da mão. O Círculo, é assim que os chamavam.

Reed, Andrew, Hayden, Denner, Alex, Morrigan e Cathy. Os olhos e ouvidos na cidade sabiam de tudo e de todos.

Menos eu. Eles não sabiam nada sobre mim. O único que poderia me comprometer era Alex, mas esse era o menor dos meus problemas.

Depois de fotografar e guardar o documento que eu peguei a sete chaves, eu enviei para Chasina que só respondeu um "obrigada por isso" e desapareceu. Sem mensagens, telefonemas ou chamadas de vídeos. Ela sumiu, no entanto, não estava morta. Sei que sua raivinha uma hora vai passar.

O que já era um alívio para mim. Visitei Dora e Mich algumas vezes também, me assegurando que os dois estavam bem. E uma vez na semana eu enviava um buquê de tulipas brancas para Dora, eu gostava de vê-la sorrindo e cheirando as flores.

Comecei a fazer isso desde os meus dezesseis anos e nunca mais parei, Chasina, manda uma vez por semana também uma caixa de bombons com caramelo da Kopenhagen e telefona toda sexta para Dora, ela não quer matar ela de preocupação.