15: Acordo

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MALLORY CIRCE

Sinto seis pares de olhos sobre mim. Ignoro todos eles.

Sei exatamente o que eles estão olhando, e a única coisa que eu faço é engolir em seco e segurar firmemente o rosto de Alex em minhas mãos tentando desesperadamente controlar o tremor em meus dedos. Seus olhos verdes estão arregalados, e sua respiração superficial bate em minha bochecha. Sussurro baixo, em italiano para nenhum deles entenderem:

— Nathaniel não foi igual a você. Sabe muito bem disso, não vou deixar Sina encostar em você — engulo em seco. — Eu prometo — ele assente sinalizando que entendeu o que eu falei.

De canto de olho vejo a boca de Morgan se erguer em um sorriso nada satisfeito por não ter entendido o que eu falei. Hayden desvia o olhar descontente da minha coxa e Andrew suspira baixinho me puxando para sentar na cama.

— Em que confusão nos metemos —  é Denner que resmunga saindo do quarto.

Logo atrás dele vai Hayden e Morgan, Cathy,  Alex, abalado, também sai do quarto depois de me dar um beijo em minha testa. Ignoro totalmente Reed e fito Andrew.

— Quero ir para casa. — Murmuro baixo, e cansada. Andrew abre a boca para responder, mas Reed o corta:

— Não vai para o seu apartamento tão cedo, boneca. — Franzo o cenho confusa, e o meu erro é olhar fundo nas suas íris igual a carvão que me analisa friamente.

Eu posso sentir sua raiva fluindo, mesmo ele não deixando transparecer.

— Sabiam que você estaria naquele bar, te seguiram no momento que ligou a chave do carro. Não podemos arriscar que você volte para casa e eles terminem de vez o que tanto querem — Andrew me explica calmamente. Suas mãos passeiam por meus fios molhados. Eu tomo uma breve respiração, contando mentalmente. Meu coração está disparado.

— Kitty? — pergunto preocupada, olhando para as minhas mãos que estão com os nós dos dedos machucados.

— Na casa de Denner — maneio a cabeça em direção a Andrew. Memórias da noite passada me consomem, sangue. Um tiro. Corpos. Estremeço. — Você matou duas pessoas, Mallory — Andrew diz roucamente. Eu nem reajo. Nem me surpreendo.

— Tentaram me machucar — levanto o meu olhar para Andrew que fica em silêncio. — Eu não deixo ninguém me machucar.

— Eu entendo, princesa. Realmente entendo mas como... como? Como sabia as partes que teria que atingir para provocar... provocar a morte de uma pessoa em poucos segundos?

O meu silêncio é sua resposta. Eu não queria que Andrew soubesse como, e nem quantas pessoas eu já atingi para alcançar a perfeição de matar uma pessoa em poucos segundos. Meus olhos ficam vazios.

Um silêncio recai sobre o quarto. Seus olhos cor de whisky refletem tanta culpa e questionamentos que me sinto obrigada a desviar o olhar. Andrew se culpa. Se culpa pelo que aconteceu comigo, os lábios avermelhados estão franzidos em uma careta pensativa.

— Não tem culpa de nada, Ken — sussurro.

Vejo-o engolir em seco, sua boca se entreabre mas nada sai. Nada.

Não faça isso, não me deixa no silêncio. Eu não suporto o silêncio. As palavras quase saem de minha boca, até Reed dizer:

— Quero falar com Mallory — indaga, arregalo os olhos. Andrew abre a boca provavelmente para refutar, quando o seu amigo frisa: — A sós, por favor.

Relutantemente Andrew sai sem antes murmurar "estarei na cozinha". E duas coisas passam pela minha cabeça: ou Andrew não liga para o que Reed fazer, ou confia em seu amigo para me deixar com Reed. Não é possível que ele não veja o quanto Reed me deixa desconfortável e o quão intimidante ele é.

MADE IN HEAVEN (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora