17: Sentimentos

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MALLORY CIRCE

— Eu sabia que você era rica, mas não tão rica — Kitty murmurou com a cara colada na janela igual uma criança vendo um papai noel na rua. Andrew soltou um bufo divertido enquanto estacionava.

— Se dinheiro pudesse trazer vida aos mortos... — sussurrei, Kitty não escutou, mas Andrew sim de acordo com os seus ombros levemente tensionados enquanto tirava o cinto e me olhava um tanto quanto preocupado.

A verdade era que o clima entre nós estava estranho, bem estranho depois daquela conversa que tivemos no meu apartamento. Não era sua culpa, de forma alguma, mas eu me senti tão... tão sozinha depois dele falar com tanto amor e carinho de Alex e de seus amigos. Senti inveja, inveja de Alex ter escolhido eles e não a nós, senti raiva deles por não saberem da minha existência nesses quatro anos.

Ele nunca falou de nós. Nunca comentou. Uma chama inflamou dentro de mim e por um segundo queria eu mesmo esganá-lo só não só de raiva, mas também de certo ressentimento.

Minha cabeça ficou girando e girando com as perguntas.

O que eles têm que a gente não teve? O que eles te deram, que a gente não te deu? Eu sabia a resposta, no entanto. Segurança. Lar. Uma família que não hesitou em abrir os braços para um desconhecido que precisava de ajuda. Conforto. Amor.

A.m.o.r.

Encarando minha casa de infância, ouvindo de fundo a conversa de Kitty e de Andrew eu me pergunto se era isso. Amor... eu o amava a ponto de sacrificar minha vida por Alex? Eu o amava com tamanha imensidão a ponto de morrer juntamente com ele?

Eu sabia a resposta, mas afinal, como eu saberia se eu nunca amei de verdade alguém. Amar Chasina, Dora e Mitch era diferente. Totalmente. Mas eu não tinha dúvidas de que, por eles, eu daria minha vida. Eu faria isso por Alex em uma época da minha vida, mas agora não tenho tanta certeza.

— Você não tem uma gata? — Andrew perguntou a Kitty fazendo-me sair do estupor que estava.

— Cadê Boo? — digo, abrindo a porta e saltando do carro.

Contornando a Dodge Ram preta do loiro, fico ao lado de Kitty, suas bochechas enrubescem.

— Não sabia que seus... parentes iriam se sentir confortáveis — ela deu de ombros levemente. — Deixei com o meu pai.

— Não tinha problema algum Kitty...

— Não — sou interrompida, a mesma ajeita os óculos em seu rosto com uma cara séria. — Vou me hospedar aqui, por sua tamanha gentileza, não queria trazer algo que poderia atrapalhá-los. Além disso, meu pai gosta dela.

— Mas...

— Não, Lily — Kitty me interrompeu novamente sorrindo gentilmente. Fechei a minha boca.

Sinto Andrew parar atrás de mim, seu cheiro logo me envolve assim como sua presença marcante, meu corpo trava levemente e eu olho para cima encontrando as íris âmbar me fitando cautelosamente, as madeixas loiras caindo em seu rosto e os lábios cerrados em uma linha tênue.

— Vamos — digo, contornando o seu corpo.

Ajeito o gorro em minha cabeça e respiro fundo passando a trança para frente, ouço Kitty sussurrar para Andrew logo atrás de mim:

— O que você fez? — sua voz doce, porém preocupada disse baixo.

— Eu não fiz porra nenhuma — é sua resposta.

Finjo que não estou ouvindo e abro a porta com a minha chave. Em um primeiro momento a primeira coisa que escuta é o batuque de uma música, logo o barulho de faca e Dora cantando. Sorrio.

MADE IN HEAVEN (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora